domingo, 20 de setembro de 2015

Meu cão Fred

Meu cão Fred

Esses dias li um livro chamado "Sem coleira". Amei. É em quadrinhos e mostra o que os cachorros pensam dos humanos. O autor chama Rupert Fawcett. E, então, pensei muito na vida do Fred e o que ele pensa da minha família.
Esse foi o maior presente de grego que eu já ganhei na minha vida: o Fred, meu cachorro. Eu ganhei este Lhasa Apso do Omar, meu marido, há uns quinze anos. Eu já tinha tido um cachorro dessa raça antes de casar, o Tchúby. Abre parêntesis: meu avô era italiano e não conseguia pronunciar o nome dele nem por decreto. Ele dizia algo como “Júpi”. Fecha.  Este cão não fazia nada, não mordia ninguém, não latia, era um santo. Dormia o dia inteiro e abanava o rabinho quando a gente chegava. O Tchúby, sem querer, acabou por fazer uma propaganda enganosa dessa raça, pois eu achava que todos os Lhasa Apsos eram bonzinhos e santinhos assim. Mas descobri que o Tchúby era exceção quando ganhei o Fred.  
Até o Fred chegar na minha vida eu nunca tinha tido problema com cachorro nenhum. Tirando o episódio com os testículos do Roger. Vou te contar: eu tinha uns seis anos e apertei as bolas do coitado do Roger para saber se o saco era duro ou mole. Tinha muita curiosidade de saber a consistência daquilo, sabe? Ele não gostou nem um pouco e me deu uma baita mordida na testa. Teve que dar uns três pontos, o que não foi nada legal pois quem deu os pontos foi meu pai, que é psiquiatra. Raramente psiquiatra dá ponto em alguém depois que faz residência. E, ainda fiquei levando bronca dele enquanto dava os pontos (tipo: Por que você fez isso?) O Roger? Deu tudo certo. Ele só ficou meio esperto comigo, mas depois fizemos as pazes e ele até chegou a ter vários filhotinhos com a namorada dele...
 Alguns zoavam com meu marido antes dele casar comigo e diziam: “Cuidado hein? Você conhece o histórico dela, né? Já apertou o saco do cachorro...vai que queira fazer o mesmo com você! ” Mas eu acho que meu marido se deu bem nessa porque eu já tinha tirado minha dúvida com as bolas do cachorro Roger e nunca, então, tentei fazer isso de novo e nem o peguei como cobaia.
    Também só tinha conhecido, até então, um cachorro louco, que era do meu avô. Era um Cocker Spaniel que parecia esquizofrênico, totalmente louco e neurótico com sombras. Ele latia enlouquecidamente para todas as sombras que via nas paredes. Além disso, ele tentava cruzar com a almofada do sofá por não ter outra opção. Com o tempo meu avô tirou a almofada do sofá e deu para o cachorro de uma vez pois ela vivia xexelenta, fedida e manchada, não sei por quê.

Até fazer um ano e meio o Fred era um cachorrinho simpático e inofensivo. Porém, mas, contudo, todavia ele começou a morder as pessoas que iam em casa. Assim, do nada. Aí ele mordeu umas dez visitas que iam em casa. Nessa época o Orkut estava bombando e chegaram a fazer uma comunidade chamada “Eu já fui mordido pelo Fred”. Para ficar mais vexatório ainda ele começou a querer aliviar suas vontades sexuais não em almofadas, mas na perna das visitas. Quando as visitas iam embora de casa eu dava de lembrancinha um lenço umedecido pra elas limparem as pernas.

A gente também percebeu que ele não era nada inteligente. Você jogava um pedaço de carne do lado da fuça dele e após dez minutos, depois de farejar em todas as direções erradas, ele achava. Aquele lance de jogar um pedaço de carne para cima e o cachorro pegar no ar? Não, ele nunca conseguiu isso. Um dia eu vi na Internet um ranking dos cães mais inteligentes do mundo. O primeiro era Border Collie. Aí eu fui descendo e descendo e descendo para achar a raça do Fred. E depois de descer muito lá estava ele. Em 117º lugar. Enquanto eu estava escrevendo esse texto, o Fred, por exemplo, pegou o tapete do banheiro e levou para sala, como ele faz trocentas vezes por dia e comeu papel usado de dentro do lixo do banheiro.  Troquei todos os lixinhos de casa. Agora todos têm tampa.
Uma vez me disseram: Ah, você deveria ter conhecido os pais do Fred antes de comprar pois pelo temperamento deles você saberia como iria ser o filhote. Tá! Não conheci e me livrei de uma pois pelo temperamento do Fred seria então o cruzamento do demônio da Tasmânia com o Furacão Katrina. Ou, no mínimo, a mãe devia ser bipolar e o pai Borderline.

Para aqueles que acham que eu sou cruel e fria, que não gosto de cachorrinhos (Pelo contrário, queria até ser veterinária), citarei algumas coisas que o Fred destruiu ou comeu em casa:

Fio do fogão (duas vezes), criado mudo, fio do bebedouro elétrico, abajur, lençol de casal da cama, lata de lixo, material escolar dos meus filhos, bichinhos de pelúcia, cano da privada (Nós chegamos no banheiro e voava água para todo o lado), plantas, cabides, a capa da piscina, sandálias, chinelos, muitos brinquedos e a persiana da sala. A persiana foi um caso à parte. Ele amava destruir aquilo. Ele comeu umas oito vezes. Sério. Foi o maior prejuízo de todos!
  Com isso, depois de destroçar minha casa inteira, ele perdeu vários dentes e até um canino.

Por isso sei que ele é uma provação e Deus deve estar testando a minha fé, faz quinze anos...Desconfio que o espinho na carne que Paulo falava em 2ª Coríntios 12:7 era um Lhasa Apso igual o meu que não saía do lado dele.

A maioria das peripécias do Fred se deve ao pavor de chuva que ele tem. Se tiver trovão então ele parece que vai ter um infarto. Ele treme todinho...Se tiver fogos de artifício? Ferrou. Ou seja, nós sofremos bastante nas datas festivas e passamos muitas madrugadas chuvosas sem dormir direito.

 Se você estiver com dó pegue ele e leve para sua casa por uns dias. Dou a ração, pago banho e vacinas. Depois a gente conversa.

Há um tempo nós fizemos a cirurgia de retirada das bolas do Fred (não fui eu viu gente? Foi o veterinário. Prometo). Ele melhorou muito, ficou bem mais calmo, se transformou. Aí me veio a ideia: voltei no veterinário e perguntei se ele faria desconto para mim se eu levasse meus dois filhos e meu marido.
Aí minha vida seria uma paz total...





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