Todo mundo tem medo de alguma coisa. Mas o meu martírio é
viajar de avião. Para muitos, o medo vai diminuindo a cada viagem mas, pra mim,
foi o contrário. Cada viagem que faço com minha família, tenho que enfrentar,
geralmente, quatro voos. Dois na ida e dois na volta. Digo ENFRENTAR, pois é a
palavra certa pra quem foi feita pra ficar no chão: eu. Tento disfarçar bem e
não fazer cara de pânico.
Confesso que tenho vontade de dar uma gargalhada quando a(o) comissária(o)
de bordo dá as instruções caso haja uma despressurização, com aquele sorrisinho
tranquilo no rosto. E quando ela diz então: “Em casos de pouso na água use o
assento para flutuar”. Tenho vontade de dizer: “Viu moça? Nesse caso, você poderia me
ajudar? Porque meu assento já estaria todo lambuzado de fezes e eu,
provavelmente, já teria desmaiado. Ficaria complicado...” Agora, pra mim, o
mais engraçado é quando eles dizem, após terminarem as instruções: “Aproveitem a
viagem”. Como se eu fosse me divertir ali, aproveitando aquela bela paisagem da
janelinha, que eu tento nem olhar. Não aeromoça, quem tem medo de avião não aproveita nem um minutinho sequer e fica contando o tempo que falta pra chegar em terra firme.
Odeio aquele frio na barriga, a pressão nos meus ouvidos, aquela
sensação de montanha russa. Se eu sinto falta de ar? Não, sinto falta da terra
mesmo, de estar paradinha ali, no chão.
No ano passado cheguei a chorar (baixinho, enfiei a cara no ombro do meu marido.) quando, depois de quatro horas que já estava tensa dentro daquela lata, o
avião deu aquela despencada.O céu estava bem limpinho. Pelo que eu entendi, o
avião vem sendo sustentado por uma massa de ar constante e isso acontece quando
uma corrente de ar quente vem de baixo pra cima. Mas não me interessa a física, a meteorologia e o escambal. O que interessa é que achei que ia morrer. Não foi fácil . E ainda tive que ouvir do meu marido que aquilo não foi nada assim tão grave.(Sério? Quando que é grave então?)
Aí percebi que precisaria de calmante para os próximos voos,
não tinha jeito. Faço o possível pra esquecer que estou ali. Devoro a revista
inteira do avião, leio livro, ouço músicas e se tiver aquelas televisões então,
melhor ainda. Mas meus esforços para relaxar acabam na hora que aquela geringonça gigante começa a tremer. E outra: fico atenta a qualquer barulho estranho. Até eu entender que o trem de pouso está sendo liberado ou recolhido, já pensei em várias possibilidades catastróficas
Evito, lógico,
assistir qualquer seriado ou filme com desastres aéreos. Mas na quinta série, a professora de ciências fez a classe toda assistir um filme antigo chamado "Vivos", que por sinal, quase ninguém sai vivo, após um acidente de avião. Valeu professora! Só atrapalhou minha vida.
O bom dessas minhas
viagens, é que minha fé é elevada a outra dimensão. Converso com Ele, o grande
Deus que criou os aviões. Vejo quão pequenos e dependentes somos Dele naquela
imensidão dos céus. Oro pela fuselagem, por cada pessoa que trabalhou na fabricação
do avião, pelo piloto, copiloto, torre de controle. Peço que não haja nenhum
fator agravante ao meu medo como turbulências, tempestades, raios e aí vai.
Você está querendo me dar alguma dica para me acalmar na próxima vez? Agradeço,
mas é difícil. Medo é algo irracional. Já fui pesquisar sobre turbulências,
dicas de como se acalmar e relaxar durante o voo e não sei se adianta. Sei de
todas as estatísticas e que esse é o meio de transporte mais seguro que existe
e blá blá blá. Mesmo assim penso dez vezes quando vou fazer qualquer viagem.
Sei que não tem outro jeito, na maioria dos destinos com longa distância. É o
preço que tenho a pagar se quiser conhecer lugares diferentes e outras culturas.
Descobri que existe um comandante da Varig aposentado, que
cobra $300,00 a hora para ser acompanhante de voo. Sim, só pra sentar do lado e
ir conversando com você durante a viagem. Ele tenta ajudar a pessoa amedrontada (e rica,
com certeza) com informações, meditação, conversas etc. Ele até criou um termo
para essa nova profissão: personal flyer. Isso porque ele verificou numa
pesquisa feita por ele mesmo que a maioria dos passageiros fica apavorada ao
voar (Viu? Eu sou normal. Faço parte da maioria). Se você não está nem aí pro
avião, parabéns! Você faz parte dos míseros 2% dos passageiros. Tenho até raiva
de você, desculpa. O avião chacoalhando igual máquina de lavar roupa velha e
você olha pro lado e a pessoa tá dormindo tranquilamente?! Como pode uma coisa dessa?
Obrigada Santos Dumont, pela sua invenção, você foi genial.
Mas, definitivamente, não fui feita pra isso. Tento pensar :coragem, respire
fundo e não passe mal. Engula o medo e faça cara de normal.( E um Rivotril
sublingual também não faz mal). Gostaria muito de conhecer vários países da
Europa e já pesquisei algumas alternativas que não seja de avião. Sei que a primeira
parte não tem jeito. Tudo bem. Mas chegando lá, fiquei sabendo que tem uns
trens maravilhosos pra visitar os países vizinhos. Amei e pretendo ir. De
barco, navio, trem, cruzeiro, cavalo, camelo, jumento, qualquer coisa. Avião não.