sábado, 25 de março de 2017

“Mãe, como surgem os bebês?” O dia chegou




 Sim, chegou aquele dia. Prova de ciências do meu filho. Quinto ano. Matéria: aparelho reprodutor masculino e feminino e como um ser humano é “fabricado”. Oh my God!!! Help me! Sabia que esse dia iria chegar, mas foi rápido demais, não estava preparada. Estudo junto com ele antes de todas as provas mas essa, só essa, eu queria pular.


Fato 1: fui inundada pela tentação de contar a história da sementinha que o papai pôs na mamãe. Ou da cegonha. Resolveria tudo e acabou. Mas estava tudo ali, no livro. Já era!


Fato 2: acho que eu estava mais nervosa que ele. Mas fingi estar tudo sobre controle mesmo o meu coração estar quase pulando pela boca.


Fato 3: tive que falar e explicar palavras como vulva, sêmen, esperma, vagina, bolsa escrotal e pudendo feminino (Socorro! O que é isso gente? Pelamor!!!Nunca tinha ouvido falar nisso em toda a minha vida. Não tinha um jeito dessas palavras serem menos horrorosas? Tipo bilau e fifita?)  Nisso, a segunda frase do Fato 2 quase foi por água abaixo. Quis literalmente sumir nessa hora e quase chamei meu marido pra explicar a parte que compete ao homem na reprodução humana. Mas tá. Respira fundo, vamos lá. 


Fato 4: orei dez vezes antes de ir estudar e pedi à Deus pra que a imaginação do meu filho não se empolgasse muito naquele momento. (“Olha filho, vamos focar somente no que está escrito no livro, ok?”). Sem perguntas cabulosas como: “Mas você e o papai fazem isso aqui?”


Fato 5: ele ficou um pouco horrorizado ao saber por onde passa a cabeça de um bebê no parto normal, considerando o diâmetro da cabeça dele (Família do pai é nordestina. Já viu o tamanho da cabeça né? ). Mas o tranquilizei ao dizer que eu escolhi cesariana.


Fato 6: Eu consegui! Passei de fase!!! Parabéns pra mim! Acho que até me saí bem. Ele fez algumas caras de nojinho, mas também morreu de rir em outros momentos. Disse até que me amava depois. Isso é um bom sinal.


O problema é: Daqui a 4 anos tenho que explicar tudo de novo pro meu caçula. Pois eu contribuí para a continuidade da espécie duas vezes, segundo os livros. Espero, de coração, que até lá já tenham trocado a palavra pudendo feminino. Aliás, podiam trocar todas e só manter ovário, útero e óvulo. Com quem eu posso falar pra dar essa sugestão?


Queria agradecer a equipe que escreve os livros escolares UNO por não ter revelado ainda que a relação sexual tem também outros fins recreativos e de entretenimento que não seja somente a reprodução.Ufa, menos mal. Deixa que isso ele descobre depois. 


Agora veja só: estou horrorizada que meu filho já está aprendendo isso. Imagina quando eu descobrir que ele está FAZENDO isso. Não! Chega. Pra mim já é demais. Não pensa, não pensa, não pensa...Um capítulo por vez, por favor. 





sexta-feira, 17 de março de 2017

Aprendendo com as crianças

Não que eu esteja reclamando (quando a pessoa diz isso é porque ela vai reclamar. Fica vendo.) da vida adulta atual, eu sei. Não estou passando fome, não preciso acordar às 4:30 da madrugada pra ir trabalhar, não tenho um patrão que me humilha todos os dias e Deus tem dado a minha família tudo o que precisamos. Conseguimos pagar as contas do mês e temos muito conforto e qualidade de vida. Mas mesmo com tudo isso, ser adulto tem as suas chatices, convenhamos ( Não disse que vinha reclamação?).



  Sempre me pego pensando sobre como é bom ser criança. Como era bom não ter que provar nada pra ninguém, sair andando por aí com a boca e a camiseta toda lambuzada de sorvete sem ter vergonha dos outros. 


Eu achava, quando era criança que os adultos eram extremamente confiáveis e responsáveis. Praticamente indestrutíveis. Que eles sabiam de tudo e ao lado deles você estava seguro. Aí quando você cresce e conhece as falhas e as loucuras que se passa na cabeça de um adulto, meu amigo...dá até medo.

Aí descobri que tem adulto pra dedéu  por aí que precisa aprender muito com as crianças. Talvez se elas oferecessem um workshop, curso ou um simpósio pra adultos seria muito  interessante. Até deveria  patentear essa ideia. Nesse curso, elas ensinariam, talvez, como se contentar e ser feliz com apenas uma boneca ou carrinho e a sua imaginação. Elas ensinariam como é bom não ter vergonha de falar e fazer o que quer. Como, por exemplo, roubar um brigadeiro antes do parabéns,  passar a mão no marshmallow do bolo e assoprar a vela antes do aniversariante (baita mancada), sair correndo e dar um pulo tipo “bomba” na piscina de bolinha, abrir o presente que a vó deu e gritar de chorar ao constatar que era um par de meias. Aliás, essas são as duas melhores características das crianças: a sinceridade e a espontaneidade. Que, dependendo da situação fazem os pais morrerem de vergonha. Eu mesma tenho uma coleção de foras que eu dei quando era criança. Graves, por sinal. Mas o bom é isso: eu não tinha a obrigação de saber como se comportar cem por cento, minha personalidade e caráter estavam em construção ,então os foras eram deletados ou minimizados.

 Os pimpolhos ensinariam que guardar rancor e querer se vingar não vale a pena e que é possível brigar e perdoar no mesmo minuto. Afinal, é muito melhor ter alguém pra brincar ao seu lado que ir perdendo os amigos a cada discussão que você “ganha”. Em outro tópico da pauta desse curso, elas ensinariam os adultos a simplificar as coisas da vida e do amor e não se preocupar tanto assim em agradar aos outros. Elas ensinariam como é bom ser você mesma(o) e tentariam te convencer a manter a  inocência e a ingenuidade em relação a muitas coisas cabulosas desse mundo. A não ter um coração petrificado e ser mais sensível. Elas talvez dissessem, também, para os adultos não assistirem tantos noticiários e recomendariam que eles se divertissem um pouco mais.

Elas saberiam te dizer que não é preciso você encher a cara e nem se drogar com o que seja pra ser aceito pelos amigos e ser feliz. Elas também ensinariam os adultos a serem menos preconceituosos com as diferenças e que incluir um pouco de doçura no seu dia a dia é muito importante. Elas iriam dizer que, às vezes, os adultos precisam ser um pouco crianças e que aprender a sorrir mais é um ótimo começo. Elas diriam que a vida continua mesmo que você não consiga resolver os problemas de todo mundo.
Tudo bem, eu sei que ser adulto é maravilhoso em certos aspectos. Muitas e muitas crianças querem crescer rápido pra poder dirigir, trabalhar e outras coisas. Ter liberdade de comprar o que você quer com o seu dinheiro sem ter que ficar pedindo pra alguém, não ter que aguentar mais a matemática e a física, não ter que dar satisfações para os outros o tempo todo, poder chegar em casa a hora que quiser, andar descalço e de cabelo molhado sem ter alguém falando que você vai ficar com gripe. Mas também têm as eternas responsabilidades, problemas, boletos a pagar, notícias horríveis que você não ouvia quando era criança, violência , providenciar o que comer todos os dias de sua vida , sem mamãe colocando a comida quentinha na sua mesa, trânsito, e não ter quem cuide de você  quando fica doente.

 Quando você se torna adulta, tem que ser a mãe que trabalha, mas também continuar linda, dar atenção para os filhos e cuidar da casa. Se tirar um cochilo de tarde é uma folgada. Você tem que arrumar a cadeira que quebrou, ir ao mercado, lapidar o caráter dos filhos, ver o que fazer com o vazamento da piscina, fazer exercícios pra emagrecer, cuidar da pele, do cabelo e das unhas pra não ficar xexelenta. Você tem que ir à reunião da escola, do condomínio, tem que ser mãetorista, tem que cuidar da sua vida espiritual também. E com tudo isso o adulto tem que encarar o mundo,  e se vê cercado pelas suas obrigações do cotidiano e as idiotices do ser humano com suas más decisões e consequências.

Estão entendendo o que estou falando? Ser criança é tudo de bom! Sei que criança também não é santa. Não é um ser angelical. Crianças também mentem, te desafiam o tempo todo, bagunçam tudo, fazem bullying com os colegas e outras maldades.  

Você tem filho(a), sobrinho(a), priminho(a), netinho(a) por perto? Faça um favor: explique pra elas como é bom ser criança e quais são as vantagens dessa fase. Conte como é ser adulto. Mas não conte tudo pra não traumatizar. Fale pra elas que cada fase deve ser aproveitada ao máximo, pois não tem como voltar atrás quando bater uma saudade.  


E um viva para você, que é adulto e que consegue ser um pouco crianças nas horas certas. Que conseguiu aprender as coisas boas que uma criança nos ensina. Pois adultos infantis e birrentos temos de monte.