sábado, 14 de janeiro de 2017

Vou de táxi


Vou de táxi

Seu Antônio era quase assim
Minha mãe me contou que, uns dois anos atrás, chegando de madrugada em Santos  pra visitar meu irmão, se deparou com um taxista praticamente surdo. Dei risada da história, pois fiquei imaginando aquela cena. Ela, gritando com o senhorzinho, tentando falar o endereço de seu destino. Ela quase pegou um caderninho na bolsa e escreveu o nome da rua pra mostrar pra ele. O senhorzinho, quando conseguia ouvir alguma coisa que minha mãe falava, entendia tudo errado.  Ela falava Olavo, ele entendia Paulo. Ela chegou a pensar que era pegadinha. Eu também acharia. Ficaria procurando onde a câmera estaria escondida dentro do carro.

Já peguei taxistas descolados, tatuados, tagarelas ( que ficou uma hora contando que foi levar não sei quem numa fazenda do Tarcísio Meira e blá blá blá), mudos, aqueles que gostam de contar vantagem e outros mais.

Taxista Osama style
 Uma vez, entrei em um táxi com minha irmã, numa viagem que fizemos há um tempão.  Quando fechamos as portas vimos que o taxista era um  sósia do Osama Bin Laden. (Que estava sendo procurado naquela época). Tinha até um turbante na cabeça, barba comprida e grisalha. Confesso que pensei em saltar do táxi, em movimento. Fui orando, pedindo perdão por todos os meus pecados.

Também fiquei impressionada com os táxis de Buenos Aires. Alguém tinha me avisado que eles corriam muito. E pude comprovar: eles correm quase na mesma  velocidade da luz, porém com um agravante: os carros são extremamente velhos. Todos. É difícil ver um carro novo lá. Sabe aqueles carros que foram lambuzados com uns cinco quilos de Durepóxi? Tipo assim. Dava impressão, sério mesmo, que o carro iria se desintegrar a qualquer momento da corrida e eu sairia rolando pela avenida.

No Chile, eu e meu marido caímos num golpe do taxista, na hora de pagar. E descobrimos que muitos também já caíram nessa. Vou tentar explicar rapidamente: a corrida ficou trinta mil pesos, por exemplo. Você entrega três notas de dez mil pesos para o taxista. Aí, num piscar de olhos, ele te mostra três notas de mil pesos, dizendo que você deu as notas erradas. Aí você diz que não, que entregou corretamente e ele diz que não e começa a falar espanhol muito rápido, fazendo com que você fique perdido. Isso acontece em qualquer lugar do mundo, principalmente com turistas.

 Em São Paulo, pela primeira vez, peguei uma taxista mulher e achei interessante. Batemos o maior papo. Ela me perguntou de que cidade eu era (acho que viu que sou caipira pira pora) e disse que a filha morava em Bauru, pois fez faculdade aqui. Agora abre parêntesis e vejam uma pequena parte da conversa. Taxista diz: -Inclusive eu fui pra Bauru na formatura dela. Ela morava numa rua que tinha um nome muito engraçado. Eu morria de rir quando ela me falava o nome da rua. Mas não lembro agora, pra te dizer, era meio pornográfico. Não sei como ela tinha coragem de pedir uma pizza e falar o nome daquela rua para o atendente. Adivinhei na mesma hora. Seria Manoel Pereira Rola?-perguntei. E ela: kkkkk, isso mesmo, exatamente! Fecha parêntesis.

Mas por que eu estou falando tudo isso? Ontem eu e minha mãe pegamos outro táxi. Precisávamos ir para o shopping Tamboré em Alphaville. Lá encontraríamos meu marido e voltaríamos pra Bauru. Entramos no táxi, cumprimentamos o senhorzinho taxista. Ele falava bem alto, era velhinho. Percebemos que ele estava de colete de lã em pleno calor senegalês de 44 graus. E adivinhem? Mais um taxista surdo. Acho que ele devia ter uns 20% da audição e olhe lá. Aí que reparamos que ele usava aquele aparelhinho no ouvido. Falávamos com ele e nada. Nenhuma reação, nenhuma resposta. Tínhamos que cutuca-lo no ombro, então ele olhava pelo espelhinho e tentava ler nossos lábios. Era meio pancada também. Minha mãe olhava pra mim com aquela cara de: “Meu?! De novo? Não acredito!”. Falamos dez vezes que iríamos no Shopping Tamboré mas ele achava que era no bairro com este nome. Avistamos o shopping e começamos a cutucá-lo no ombro.  Apontávamos para o lugar pra que ele pudesse ver. E então, me peguei  procurando a câmera escondida. Achava que, a qualquer momento, ele iria tirar o bigode falso e eu iria dar uma gargalhada ao ver que era o Luciano Huck. Mas não. Era o Seu Antônio mesmo. Mas, aos trancos e barrancos, chegamos ao nosso destino.  Ufa!
 Que Deus cuide dos taxistas velhinhos e surdos que precisam trabalhar nessa idade pra se sustentar. Com a situação da previdência no Brasil, a tendência é piorar e muito. Será que o seu Antônio ouviu quando Temer anunciou as novas regras de aposentadoria? É Seu Antônio... têm coisas que é bom o senhor nem ouvir mesmo. Que Deus cuide dos nossos velhinhos. Que Deus não nos deixe ficar velhinhos tão rápido. Que Deus também cuide das mulheres que não sabem como lidar com um taxista surdo.
Meta para 2017: aprender linguagem de sinais.