Seu Antônio era quase assim |
Minha mãe me contou que, uns dois anos atrás, chegando de
madrugada em Santos pra visitar meu
irmão, se deparou com um taxista praticamente surdo. Dei risada da história,
pois fiquei imaginando aquela cena. Ela, gritando com o senhorzinho, tentando
falar o endereço de seu destino. Ela quase pegou um caderninho na bolsa e
escreveu o nome da rua pra mostrar pra ele. O senhorzinho, quando conseguia
ouvir alguma coisa que minha mãe falava, entendia tudo errado. Ela falava Olavo, ele entendia Paulo. Ela
chegou a pensar que era pegadinha. Eu também acharia. Ficaria procurando onde a
câmera estaria escondida dentro do carro.
Já peguei taxistas descolados, tatuados, tagarelas ( que
ficou uma hora contando que foi levar não sei quem numa fazenda do Tarcísio
Meira e blá blá blá), mudos, aqueles que gostam de contar vantagem e outros
mais.
Taxista Osama style |
Uma vez, entrei em um
táxi com minha irmã, numa viagem que fizemos há um tempão. Quando fechamos as portas vimos que o taxista
era um sósia do Osama Bin Laden. (Que
estava sendo procurado naquela época). Tinha até um turbante na cabeça, barba
comprida e grisalha. Confesso que pensei em saltar do táxi, em movimento. Fui
orando, pedindo perdão por todos os meus pecados.
Também fiquei impressionada
com os táxis de Buenos Aires. Alguém tinha me avisado que eles corriam muito. E
pude comprovar: eles correm quase na mesma velocidade da luz, porém com um agravante: os
carros são extremamente velhos. Todos. É difícil ver um carro novo lá. Sabe
aqueles carros que foram lambuzados com uns cinco quilos de Durepóxi? Tipo assim.
Dava impressão, sério mesmo, que o carro iria se desintegrar a qualquer momento
da corrida e eu sairia rolando pela avenida.
No Chile, eu e meu marido caímos num golpe do taxista, na
hora de pagar. E descobrimos que muitos também já caíram nessa. Vou tentar
explicar rapidamente: a corrida ficou trinta mil pesos, por exemplo. Você
entrega três notas de dez mil pesos para o taxista. Aí, num piscar de olhos,
ele te mostra três notas de mil pesos, dizendo que você deu as notas erradas. Aí
você diz que não, que entregou corretamente e ele diz que não e começa a falar espanhol
muito rápido, fazendo com que você fique perdido. Isso acontece em qualquer
lugar do mundo, principalmente com turistas.
Em São Paulo, pela
primeira vez, peguei uma taxista mulher e achei interessante. Batemos o maior
papo. Ela me perguntou de que cidade eu era (acho que viu que sou caipira pira pora)
e disse que a filha morava em Bauru, pois fez faculdade aqui. Agora abre
parêntesis e vejam uma pequena parte da conversa. Taxista diz: -Inclusive eu
fui pra Bauru na formatura dela. Ela morava numa rua que tinha um nome muito
engraçado. Eu morria de rir quando ela me falava o nome da rua. Mas não lembro
agora, pra te dizer, era meio pornográfico. Não sei como ela tinha coragem de
pedir uma pizza e falar o nome daquela rua para o atendente. Adivinhei na mesma
hora. Seria Manoel Pereira Rola?-perguntei. E ela: kkkkk, isso mesmo,
exatamente! Fecha parêntesis.
Mas por que eu estou falando tudo isso? Ontem eu e minha mãe
pegamos outro táxi. Precisávamos ir para o shopping Tamboré em Alphaville. Lá
encontraríamos meu marido e voltaríamos pra Bauru. Entramos no táxi,
cumprimentamos o senhorzinho taxista. Ele falava bem alto, era velhinho.
Percebemos que ele estava de colete de lã em pleno calor senegalês de 44 graus.
E adivinhem? Mais um taxista surdo. Acho que ele devia ter uns 20% da audição e
olhe lá. Aí que reparamos que ele usava aquele aparelhinho no ouvido. Falávamos
com ele e nada. Nenhuma reação, nenhuma resposta. Tínhamos que cutuca-lo no
ombro, então ele olhava pelo espelhinho e tentava ler nossos lábios. Era meio
pancada também. Minha mãe olhava pra mim com aquela cara de: “Meu?! De novo?
Não acredito!”. Falamos dez vezes que iríamos no Shopping Tamboré mas ele
achava que era no bairro com este nome. Avistamos o shopping e começamos a
cutucá-lo no ombro. Apontávamos para o
lugar pra que ele pudesse ver. E então, me peguei procurando a câmera escondida. Achava que, a
qualquer momento, ele iria tirar o bigode falso e eu iria dar uma gargalhada ao
ver que era o Luciano Huck. Mas não. Era o Seu Antônio mesmo. Mas, aos trancos e barrancos, chegamos ao
nosso destino. Ufa!
Que Deus cuide dos taxistas
velhinhos e surdos que precisam trabalhar nessa idade pra se sustentar. Com a
situação da previdência no Brasil, a tendência é piorar e muito. Será que o seu
Antônio ouviu quando Temer anunciou as novas regras de aposentadoria? É Seu
Antônio... têm coisas que é bom o senhor nem ouvir mesmo. Que Deus cuide dos
nossos velhinhos. Que Deus não nos deixe ficar velhinhos tão rápido. Que Deus
também cuide das mulheres que não sabem como lidar com um taxista surdo.
Meta para 2017: aprender linguagem de sinais.