Coisas que você descobre quando trava as costas:
Que sem a sua coluna funcionando direitinho você não pode
fazer quase nada, a não ser escrever um texto bobo como esse, que talvez sirva,
algum dia, de entretenimento para algum travado.
Que esse monte de ossinhos empilhados um em cima do outro,
chamada coluna vertebral, é uma importantíssima estrutura dos seres vertebrados
para que você fique ereto. A não ser que seja fã do estilo homem primata ou Corcunda
de Notre Dame.
Que o nome da sua nova melhor amiga tem quatro letras: CAMA.
Mesmo porque você não consegue fazer mais nada que não seja ficar deitada, o
dia inteiro, em cima dela. O colchão, quando você sarar, vai ficar afundado com
o formato exato do seu corpo, mas não se assuste. Com o tempo acaba voltando ao
normal.
Que o seu segundo melhor amigo é o Tandrilax, Mioflex A ou
Torsilax ( Desculpe, é que sou farmacêutica ). Esses sim te ajudam efetivamente
e sabem o que você está passando.
Que as coisas vão cair no chão, só pra jogar na sua cara que
você não pode se agachar pra pegar. E você vai deixar no chão mesmo, até
aparecer alguém pra pegar.
Que você deve pôr o máximo de coisas que conseguir em cima
do seu criado mudo pra não ter que levantar. E seu criado mudo vai desaparecer
embaixo de revistas, livros, copos de água, Ipad, caixas de remédios, celular,
e o que mais te ajudar. Um completo
arsenal de guerra. Até escova de dente e pasta podem ficar ali se você
conseguir escovar os dentes a seco.
Que aquele aspargo verde que você comprou hoje pensando em
fazer um risoto pro jantar vai ter que esperar, pois cozinhar não dá. Sem
chance. Essa porcaria de aspargo vai estragar. Dá pra congelar aspargo? Preciso
ver no Google. Isso dá pra fazer deitada, ufa!
Que alguém apertou o botão “pause” da sua vida e você vai
ter que parar com tudo o que estava fazendo e ficar de stand by, sem gastar
energia, demolho mesmo. Seus filhos não vão entender e vão pular em cima de
você, mas faz parte.
Que não tem nada de bom passando na televisão que satisfaça
sua necessidade de distrair-se. Nem possuindo 200 canais diferentes. Desculpe
Ana Maria Braga e Fátima Bernardes, mas prefiro ler um livro.
Que você passará horas no Facebook e no Whatts App, tentando
achar alguém que possa conversar com você.
Que, nesses dias, você não deve tomar muita água pois, caso
contrário, vai ter que se levantar pra ir no banheiro toda hora fazer xixi. E
como levantar, meu camarada? Agarre-se ao mínimo de dignidade que te resta e
resista bravamente a usar uma fralda geriátrica ou uma comadre hospitalar.
Sim, você pesquisará as seguintes palavras no Google: “
costas travadas o que fazer” e verá que não há muito o que fazer.
Que o seu computador e suas costas podem escolher o mesmo
dia pra travar e se você achava que as coisas não estavam bem, podem sim
piorar.
Que você não poderá comprar pilhas pro brinquedo novo do seu
filho, nem ir ao supermercado, nem levar o seu filho na natação, nem na
farmácia, nem na VIVO reclamar que o seu chip não presta. Isso tudo vai ter que
esperar e, por incrível que pareça, a vida continua mesmo sem essas coisas.
Que você não quer nem saber se os juros subiram, se o dólar
subiu, se a Dilma renunciou ou se houve algum progresso nas investigações da
Operação Lava jato. Desculpe o palavreado, mas dane-se tudo isso. Você só quer
saber de melhorar e sair da cama.
Que ter uma tia e quatro amigas fisioterapeutas não ajudará
muito o seu caso, pois elas não fazem milagres, mesmo que ofereçam ajuda ( acupuntura,
ultrassom, alongamentos etc). Nada como um dia após o outro. O que vai fazer você se sentir melhor são
duas palavras com a letra T: Tempo e Tandrilax.
Que, se estiver jogando tênis com seu professor e der um mau
jeito nas costas, você não deve, NUNCA, continuar jogando. Vá pra casa e não
faça a compra do mês no mercado depois. Aí já é burrice. Experiência própria!
Que, se você estiver sozinha em casa e esquecer de deixar o
telefone do seu lado no criado mudo, vai se lascar. O telefone vai tocar 30
vezes até você conseguir chegar até ele, com todo aquele sacrifício, andando
igual um robô e com aqueles espasmos musculares explodindo nas suas costas. Aí
você diz “alô” quase chorando de dor e descobre que era alguém do telemarketing
querendo te vender alguma coisa ou de uma instituição de caridade pedindo ajuda
financeira. Calma! Conte até dez e
lembre-se que eu te disse que podia piorar.
Que existe coisa pior, muito pior que a sua. É só conversar
com alguém que teve uma crise de dor aguda de pedra no rim, por exemplo.
Hemorróida, sarna, enxaqueca, náuseas e outras enfermidades que nem vou citar...
E que depois de uns três
dias (sete, na verdade) sua vida vai voltando ao normal. Andando igual um pinguim, mas tudo bem.
Os pinguins são seres adoráveis, não?