terça-feira, 27 de outubro de 2015

Lamentações de uma travada


Coisas que você descobre quando trava as costas:

Que sem a sua coluna funcionando direitinho você não pode fazer quase nada, a não ser escrever um texto bobo como esse, que talvez sirva, algum dia, de entretenimento para algum travado.

Que esse monte de ossinhos empilhados um em cima do outro, chamada coluna vertebral, é uma importantíssima estrutura dos seres vertebrados para que você fique ereto. A não ser que seja fã do estilo homem primata ou Corcunda de Notre Dame.

Que o nome da sua nova melhor amiga tem quatro letras: CAMA. Mesmo porque você não consegue fazer mais nada que não seja ficar deitada, o dia inteiro, em cima dela. O colchão, quando você sarar, vai ficar afundado com o formato exato do seu corpo, mas não se assuste. Com o tempo acaba voltando ao normal.

Que o seu segundo melhor amigo é o Tandrilax, Mioflex A ou Torsilax ( Desculpe, é que sou farmacêutica ). Esses sim te ajudam efetivamente e sabem o que você está passando.

Que as coisas vão cair no chão, só pra jogar na sua cara que você não pode se agachar pra pegar. E você vai deixar no chão mesmo, até aparecer alguém pra pegar.

Que você deve pôr o máximo de coisas que conseguir em cima do seu criado mudo pra não ter que levantar. E seu criado mudo vai desaparecer embaixo de revistas, livros, copos de água, Ipad, caixas de remédios, celular, e o que mais te ajudar.  Um completo arsenal de guerra. Até escova de dente e pasta podem ficar ali se você conseguir escovar os dentes a seco.

Que aquele aspargo verde que você comprou hoje pensando em fazer um risoto pro jantar vai ter que esperar, pois cozinhar não dá. Sem chance. Essa porcaria de aspargo vai estragar. Dá pra congelar aspargo? Preciso ver no Google. Isso dá pra fazer deitada, ufa!

Que alguém apertou o botão “pause” da sua vida e você vai ter que parar com tudo o que estava fazendo e ficar de stand by, sem gastar energia, demolho mesmo. Seus filhos não vão entender e vão pular em cima de você, mas faz parte.

Que não tem nada de bom passando na televisão que satisfaça sua necessidade de distrair-se. Nem possuindo 200 canais diferentes. Desculpe Ana Maria Braga e Fátima Bernardes, mas prefiro ler um livro.

Que você passará horas no Facebook e no Whatts App, tentando achar alguém que possa conversar com você.

Que, nesses dias, você não deve tomar muita água pois, caso contrário, vai ter que se levantar pra ir no banheiro toda hora fazer xixi. E como levantar, meu camarada? Agarre-se ao mínimo de dignidade que te resta e resista bravamente a usar uma fralda geriátrica ou uma comadre hospitalar.

Sim, você pesquisará as seguintes palavras no Google: “ costas travadas o que fazer” e verá que não há muito o que fazer.

Que o seu computador e suas costas podem escolher o mesmo dia pra travar e se você achava que as coisas não estavam bem, podem sim piorar.

Que você não poderá comprar pilhas pro brinquedo novo do seu filho, nem ir ao supermercado, nem levar o seu filho na natação, nem na farmácia, nem na VIVO reclamar que o seu chip não presta. Isso tudo vai ter que esperar e, por incrível que pareça, a vida continua mesmo sem essas coisas.

Que você não quer nem saber se os juros subiram, se o dólar subiu, se a Dilma renunciou ou se houve algum progresso nas investigações da Operação Lava jato. Desculpe o palavreado, mas dane-se tudo isso. Você só quer saber de melhorar e sair da cama.

Que ter uma tia e quatro amigas fisioterapeutas não ajudará muito o seu caso, pois elas não fazem milagres, mesmo que ofereçam ajuda ( acupuntura, ultrassom, alongamentos etc). Nada como um dia após o outro.  O que vai fazer você se sentir melhor são duas palavras com a letra T: Tempo e Tandrilax.

Que, se estiver jogando tênis com seu professor e der um mau jeito nas costas, você não deve, NUNCA, continuar jogando. Vá pra casa e não faça a compra do mês no mercado depois. Aí já é burrice. Experiência própria!

Que, se você estiver sozinha em casa e esquecer de deixar o telefone do seu lado no criado mudo, vai se lascar. O telefone vai tocar 30 vezes até você conseguir chegar até ele, com todo aquele sacrifício, andando igual um robô e com aqueles espasmos musculares explodindo nas suas costas. Aí você diz “alô” quase chorando de dor e descobre que era alguém do telemarketing querendo te vender alguma coisa ou de uma instituição de caridade pedindo ajuda financeira. Calma!  Conte até dez e lembre-se que eu te disse que podia piorar.

Que existe coisa pior, muito pior que a sua. É só conversar com alguém que teve uma crise de dor aguda de pedra no rim, por exemplo. Hemorróida, sarna, enxaqueca, náuseas e outras enfermidades que nem vou citar...

 E que depois de uns três dias (sete, na verdade) sua vida vai voltando ao normal. Andando igual um pinguim, mas tudo bem. Os pinguins são seres adoráveis, não?


sábado, 10 de outubro de 2015

A praia não é minha praia

A praia não é minha praia

Muitos não sabem, mas tenho um grave defeito e peço desculpas, desde já, se vou decepcioná-lo. Mas o fato é: não gosto de praia, pronto falei. Quando digo isso, reparo que as pessoas me olham esquisito, como se eu fosse um ET. Parece que não tenho esse direito, morando num país tropical, possuidor de belíssimas praias. No fundo eu prometo que sou uma boa pessoa.


Se eu tenho algum trauma? Não. Nunca fui queimada por uma água viva (mesmo porque as praias que eu frequento são tão impróprias pra banho que elas não sobrevivem), não pisei com tudo num ouriço do mar, não me afoguei perigosamente numa onda gigante, nunca dei de cara com um tubarão nem fui vítima de um arrastão.


Mas tenho sim vários motivos. Primeiro: sou mijona! E se você faz xixi de hora em hora, quais são suas opções? Ou você cava um buraco na areia e faz ali mesmo, jogando areia em cima, (igual gatinho faz) ou disfarça e vai ao mar mesmo, com aquela cara de quem tá indo se refrescar. Tome cuidado pra não ficar perto de ninguém, pois a água ficará quentinha de repente, você sabe. Duvido que nunca tenha feito isso. E nem pense na quantidade de xixi, micose, bactérias, parasitas e microrganismos estranhos que existem ali naquela água. Senão você nem entra. Tente pensar que é muuuuuita água pra diluir isso tudo.




Nunca existe um banheiro decente perto, já reparou? Fui uma vez num banheiro de um quiosque em João Pessoa, numa praia meio afastada e pouco estruturada, onde a porta do banheiro era uma porta aposentada de geladeira, pendurada por alguns fios de arame nas laterais, sobre um chão lamacento e ao lado havia uns trinta caranguejos vivos, se debatendo dentro de um pneu de caminhão. Na hora pensei: faço ou não faço? Mas era a única opção. E quando é número dois então? Aí você tá perdido, meu camarada. Papel higiênico então? É luxo. Se tiver, agradeça a Deus.


Outra vez, meu filho teve diarreia na praia e é melhor nem contar o que aconteceu

(É...pensando melhor, esse pode ter sido um trauma.).


Uma dica: se tiver um quiosque decente ali perto, com banheiro masculino e feminino, tente ficar bem amiguinho do garçom e mostre a ele que você será fiel e só irá comprar bebida e comida dele. Ter direito a um banheiro decente na hora que você mais precisa: não tem preço.

Se a única opção for uma ducha, você também pode fingir que está tirando o excesso de areia enquanto faz xixi. E torça pros outros que estão esperando não sentirem o cheiro.


Segundo: não curto passar protetor solar. Acho melequento demais. E nas minhas atuais circunstâncias eu preciso lambuzar os dois filhos, eu e as costas do meu marido. E depois de umas duas horas torrando no sol, lá vai eu passar tudo de novo.


Terceiro: meu marido chama Omar e faz 14 anos que convivo e acordo com vista para O MAR. Pra mim já tá ótimo assim, não preciso ver outro mar. 


Quarto: Não gosto de areia grudada na minha perna. De tes to!  Mas com a perna lambuzada de protetor é inevitável ficar com um monte de areia grudada em suas batatas. Parece bife empanado.

Pra piorar: tenho dermatite atópica, uma doença na pele, que piora bastante em contato com qualquer coisa esfoliante. Exemplo: areia. Aí começo a me coçar. Pra mim, o ideal seria alguém passar um cimento por cima de toda aquela areia. Resolveria o meu caso. Só não ia ficar tão bonito. 


Quinto: não sou daquelas que gostam de tomar sol e ficar torrando lá, igual um jacaré. Uns 5 minutos pra pegar uma corzinha e a vitamina D fazer efeito e já tá ótimo. Podemos ir embora?


Sexto: com duas crianças sob sua responsabilidade, fica bem difícil se divertir na praia. Você não consegue ler um livro, jogar frescobol, caminhar e nem fechar os olhos por alguns minutos pra dar um cochilo com a brisa do mar. Você tem que ficar alerta o tempo todo pra eles não se afogarem, não se afastarem muito do seu guarda sol, não chutarem a bola na cara da senhorinha do lado e ainda vai ser obrigado a fazer castelinhos de areia. Enquanto isso eles vão te pedir sorvete, algodão doce do coitado do homem que está vestido com a fantasia do Mickey Mouse sob um sol de 43 graus Celsius, pastel, amendoim, espetinho de camarão, sorvete de novo, milho cozido, refrigerante, raspadinha e queijo coalho.  O milho tá R$ 6,50? Sim, na alta temporada os preços sobem. O seu dinheiro some, em poucas horas. Enquanto você come, não ligue pras pombas que ficam tentando pegar as migalhas do milho que caem na areia. E a medida que a temperatura aumenta o seu dinheiro diminui.

Você quer comer o milho com a mão, que está melada de suor, protetor e areia? Pode comer assim mesmo, pois não tem onde lavar a mão. É bom que fica crocante. Imagine que é milho com farofa.

Se você pode ir tomar um banho de mar com seu marido e as crianças? Não. Tem que ficar alguém cuidando das coisas no guarda sol. Carteira, celular etc. A não ser que esteja numa praia de um país seguro e decente, que não é meu caso.

Quando finalmente consigo entrar no mar parece que algo está enroscando no meu tornozelo. E aí é só torcer pra ser uma alga ou uma embalagem de picolé vazia.


Pronto, acho que já te expliquei o porquê de não gostar de praia. Isso que nem vou falar das tiazinhas sem noção com bundas caídas, feias, com estrias e celulite e com direito a fio dental, que estragam a paisagem tão bonita. Não que todo mundo tem que ser bonito, mas sim ter bom senso na hora de vestir um biquíni. Ou daquelas mulheres perfeitas que passam correndo com aquela bunda dura como pedra e barriga negativa. Me dá vontade de dar uma surra nela e comer um brownie depois.


Tudo bem, é bonito aquele horizonte, aquele marzão de Deus, aquela brisa, mas duas horas olhando a mesma paisagem já está bom. Aí sou sempre a primeira a fazer essa pergunta: “Vamos embora?” E todo mundo me olha feio.

Tem aqueles que chegam às 9 da manhã e vão embora às 19. Eu não aguento. Pra mim não dá. Sou mais urbana, prefiro mil vezes viajar pra um hotel legal a ir pra praia. Mas não tem jeito. Vou ter que me conformar a ir muitas e muitas vezes ainda pra praia, pois meus filhos e meu marido amam e o sacrifício pra ver eles felizes vale a pena.

Praia, você é linda mesmo. Mas fique aí que eu fico aqui, ok? Irei te visitar outras vezes, mas não prometo ficar muito tempo. 
Até mais ver.