terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Jogando tênis


Jogando tênis

A primeira vez que joguei tênis foi na adolescência. Lembro quando a professora me disse que a aula duraria trinta minutos apenas e eu comecei a rir na cara dela. Perguntei: “Mas só isso? Sério? Não é muito pouco?”. Ela fez uma cara estranha, tentando não rir e falou que a gente conversava depois da aula. Tá bom.

Essa mulher quis me mostrar, efetivamente, que trinta minutos era muito tempo. Não, muito não. Digamos que é quase impossível pra uma primeira vez. Ela jogava a bola lá longe, na pontinha da quadra. Eu corria igual uma condenada pra ir buscar a bola e devolvia. Eu nem tinha me recuperado e ela já tinha jogado a próxima bola na extremidade oposta de onde eu estava. De propósito, lógico. E assim foi a aula inteira. Olhei ao redor procurando balões de oxigênio, pra me ajudar a respirar, mas ela não tinha. Nem desfibriladores também, caso eu enfartasse.

O que aconteceu quando a aula acabou? Eu quase chamei o SAMU pra me levar pra casa! Precisei fechar a boca bem forte para o meu coração não saltar pra fora!  Voltei a pé, pedindo a Deus pra não encontrar ninguém no caminho que me visse naquela situação, pois meu rosto adquiriu um tom de roxo Monster High misturado com vermelho pimentão que eu nunca tinha visto igual. Chegando em casa encontrei minha mãe, que arregalou os olhos e pôs as duas mãos na boca: ela achou que eu iria desmaiar. Eu também achava!

Quase fiz uma proposta pra professora de uma aula de dez minutos apenas, mas fiquei com vergonha.

Continuei por uns seis meses e desisti. Há uns três anos, percebi que teria que fazer algum exercício. Academia estava fora de cogitação, pois odeio aquilo e já desisti umas cinco vezes, sempre depois de escolher pagar o plano trimestral, porque era mais barato. E foi aí que o tênis voltou a fazer parte da minha vida.

Aprendi, então, mais algumas coisinhas...

Que após a aula de tênis não é recomendável passar blush. Nunca. Espere uma hora pra sua coloração facial voltar ao normal.

Que, de vez em quando, acontece de você dar uma raquetada na canela, em vez de dar na bola, mesmo porque, bola e Lola são meio parecidos, acho que a raquete se confunde. Então, alguns hematomas nos membros inferiores fazem parte do jogo.

Que o meu professor vai pedir pra eu sacar com efeito, mas só conseguirei com defeito. Uma letrinha a mais ou a menos faz toda a diferença.

Que as bolinhas amarelas vão ficando verdes se a sua quadra foi pintada recentemente de azul. (Lembra? Juntando azul com o amarelo= Verde)

Que jogar tênis não é barato. As aulas são caras, as bolinhas também, e com a crise da Dilma o preço delas triplicou. E você tem que comprar uma raquete boa e leve, mas que pesa no bolso. O tênis, agora falando do calçado, também tem que ser adequado, de sola reta (torci o pé tentando jogar com um tênis comum) e, se você jogar em quadra de saibro, ele ficará laranja pra sempre. Nem Vanish resolve.

Que você vai ter que colocar palavras novas no seu vocabulário como: out, game, slice, grip, set, smash, voleio, vantagem, vantagem contra e tie break.

Que muito vento ou chuva podem arruinar completamente suas aulas, a não ser que a quadra seja coberta. Então meteorologia passou a ser algo a ser pesquisado, nesse meu caso.

Que você não deve ir jogar com o nariz escorrendo ou com diarreia. Nunca.

Que aquelas saias bonitinhas e minúsculas com preguinhas, que as jogadoras profissionais usam, não foram feitas pra mim e nem adianta tentar. Ah! E o meu culote não diminui nem um centímetro mesmo jogando há três anos. Ele é muito apegado a mim, sabe?

Que, de vez em quando, eu vou me entupir de comer à noite, mas não ficarei com peso na consciência, pois me lembrarei de que quase morri de correr na aula de tênis que fiz de manhã.

Que seu professor esquece que você tem trinta e quatro anos e te manda fazer uns exercícios impossíveis pra sua faixa etária. E que, se você abusar dos movimentos, as suas costas travam e você fica sem jogar por vários dias. Mas, pelo menos, escreve um texto sobre costas travadas. Nada é em vão, tá vendo?

Que tem gente que joga faz pouco tempo e já está bem melhor que você, mas tudo bem. Não se abale com esses detalhes. Não se misture com essa gentalha.

Uns meses atrás fui jogar pela primeira vez com uns amigos, todos homens. O jogo era de dupla e eles meio que olharam pra mim com desdém, pensando: “Coitada, vamos deixá-la jogar, né? Mas, como é mulherzinha, vai afundar o time.” Vocês precisavam ver a cara deles de surpresa ao constatar uns lances e voleios inesperados que, por sorte, consegui fazer naquele dia. No fim, meu time ganhou, com mulherzinha e tudo.

Que não adianta chegar da aula e tomar banho,  pois você continua suando por trinta minutos.

Que matar abelha com raquete é possível e divertido. Ninguém mandou querer entrar no jogo sem ser chamada.

Que você vai odiar quando ver que algumas pessoas pararam pra observar o seu jogo e vai torcer pra elas irem embora. Se for seu marido, então, pode ter certeza que vai começar a errar tudo e se atrapalhar toda. O que pode acontecer também é de um Golden Retriever parar e ficar assistindo, encantado pela bolinha, com aquela cara de quem está louco pra invadir a quadra e pegar todas elas.

Que pra jogar tênis é necessário foco e concentração, o que eu não tenho. Faça como eu e arrume um professor super calmo e paciente. Na hora do saque, quando jogo a bolinha pro alto, durante aqueles milésimos de segundo, eu reparo no avião, que deixou um rastro super legal de fumaça no céu, ou no urubu que está voando e... “o seu saque já foi pro saco” nessas horas. Outra: fique em silêncio. Isso ajuda bastante. Coisa que, pra mim, é quase impossível.

Que você vai acertar todas as bolas e saques numa aula e na outra, vai errar todas.  Aquela rede imbecil parece que não quer te ajudar e todas as bolas não passam dela, nem que mate. Qualquer dia desses de TPM ,eu vou lá, pego uma tesoura estilo Edward- mãos- de- tesoura e picoto ela inteirinha.

Mas continuarei treinando. Na vida também temos os dias bons e aqueles que só fazemos burrada, não é?

Um dia eu acertarei todas e, então, darei novas notícias. Não vou falar, não vou me distrair ou olhar para o avião, nem pisar na bola, torcer o pé, travar as costas, invadir o campo na hora do saque ou fazer burrada. Ou seja, é melhor vocês esperarem sentados!