sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Noivas enlouquecidas


Casei nova. Tá, muito nova. Faltava exatamente seis dias para o meu vigésimo aniversário. Mas já namorava há seis anos. E não, não estava grávida.

Quando eu aceitei e resolvi tomar uma das decisões mais importantes da minha vida, não sabia ainda o que estava por vir. Era muita coisa pra decidir. A mais difícil era o número de convidados que podíamos pagar. Então precisava decidir se eu chamaria somente cinquenta pessoas e serviria filet mignon no jantar ou chamaria um monte de gente, mas servindo lombo. Escolhi o lombo e muitos convidados. Afinal, sempre tem aqueles que saem da festa falando mal de cada detalhe mesmo, tendo filet ou lombo.

 Depois tive que tomar outra sábia decisão: desistir casar de azul, (Sim, acredite! Eu queria muito casar com um vestido azul petróleo!) Caso contrário, minha avó iria desmaiar lá na frente de todo mundo. Lembro que eu disse: “eu não caso de azul, mas o tapete da igreja, as toalhas das mesas, as flores, a lembrancinha e todos os detalhes restantes serão azuis e ninguém enche mais o meu saco.” Até hoje me lembro de como eu e minha mãe pagamos o vestido. Eu e ela dividimos R$100,00 por mês, por dez meses. Hoje vejo o preço que as noivas pagam nos vestidos e fico inconformada. Dá pra comprar um carro, dependendo do vestido.

O buffet que contratamos era de um senhor muito, muito simples, magrinho e caipira, que nos atendia na casa dele com a camisa aberta e o peito peludo aparecendo. Sim, eu e minha mãe morremos de medo até o dia do casamento e imaginamos todos os convidados sendo internados no dia seguinte com intoxicação alimentar, mas tínhamos vários depoimentos de pessoas que elogiaram muito as festas e a comida que ele fazia. Acreditem se quiser, mas ele cobrou R$16,00 por pessoa. Lembrem-se que isso foi há quinze anos.

Cerimonialista nem existia naquela época, a gente nem ouvia falar dessa profissão. Geralmente, era algum parente da noiva. No meu caso, foi minha irmã. A banda que tocou na festa tinha três integrantes e cobraram R$ 300,00, que pagamos na hora, com uma parte do dinheiro da gravata.

 As músicas do casamento foram cantadas por amigos nossos. As madrinhas puderam usar os vestidos da cor que elas queriam. Os convites foi minha irmã que fez também, e ficaram lindos. A cor do convite? Releiam o terceiro parágrafo.

 No fim, deu tudo certo (exceto ter esquecido o buquê no salão e só ter percebido isso quando os padrinhos já estavam entrando). Ah! Ninguém passou mal, a comida estava ótima, eu acho (ninguém fala mal da comida pra noiva). Dançaram muito ao som da bandinha.

 É indescritível a sensação daquela porta abrindo e você visualizando todas as pessoas que você ama ali (é, quase todas hehe, tinha gente que eu nem conhecia!) reunidas só por causa de você e do seu noivo. Isso, você só vai conseguir de novo no seu velório. A não ser que se case outra vez. Ou várias vezes, como a Gretchen. Como o Fábio Júnior. Como tantos outros por aí.

E depois de quinze anos, os casamentos (festas) estão bem mais profissionais e modernos. Vejo as noivas se descabelando por: chá bar ou chá de cozinha, chá de lingerie, o vestido mais perfeito, lista de presentes, a escolha dos padrinhos (se forem ricos, é só coincidência),  se convida ou não o “ex”, local da cerimônia e da festa, o melhor sapato (um pra cerimônia e outro pra festa), presentes para entregar  aos padrinhos , dia da noiva no salão com direito a roupão de seda e champagne pra todas as melhores amigas, transporte da noiva até a igreja, o cardápio mais requintado com vinte tipos de docinhos, a cerimonialista, a mais exuberante lua de mel, o coral que vai cantar na cerimônia,  a cor que as madrinhas devem vestir, onde os padrinhos tem que alugar o bendito terno, o DJ da festa, a iluminação cinematográfica, os guardanapos que ficam nos bancos para os chorões, o pacotinho de arroz pra jogar na saída, o melhor fotógrafo com direito a drone filmando tudo lá do espaço sideral, ensaio de fotos antes do casamento, telão no salão mostrando as fotos que estão sendo tiradas pelos convidados em tempo real (#fulanoefulana), bar man com as batidas mais descoladas, badulaques de neon e plumas pra serem entregues quando o povo já está bem alegrinho, escola de samba, cabine de fotos, buquê extra pra ser jogado, chinelinho pra toda mulherada com a caricatura dos noivos impressa, fogos de artifício...Ufa!. Virou algo meio surreal! A noiva quase chega morta de exaustão no casamento. Ou finge que não está estressada. Se não sair tudo do jeitinho que ela quer então?

Acho legal tudo isso numa festa, não sou contra e é lógico que me divirto também quando sou convidada ( e quero experimentar um doce de cada tipo). Se você pode e quer fazer tudo isso, vá em frente, seja feliz. Mas só me preocupo com isso: com tanta coisa pra fazer e se programar (e haja dinheiro!), será que dá tempo pra focar no principal? Você teve tempo suficiente pra conhecer a pessoa que vai ficar ao seu lado pro resto da sua vida? Ele, o noivo, participou de alguma decisão, ou foi um mero coadjuvante?

Hoje em dia, tem noiva que começa os preparativos dois anos antes da cerimônia ou mais. E, às vezes, ficam dois anos depois pagando as contas da festa. Fazem financiamento, se matam pra pagar, não importa se já vão iniciar a vidinha de casado enforcados de dívidas. Ou são os pais, que se esfolam pra pagar tudo. E quando o casamento acaba e faltam muitas parcelas ainda pra serem pagas? Às vezes, acaba tão rápido que dá vontade de pedir o presente de volta.

 Sim, cada um faz o que quiser, mas só acho uma incoerência total. Falta de bom senso. Tem alguma coisa errada aí, você não acha? E no meio de tanta coisa, o real motivo do casamento fica por último. Depois a gente pensa nisso, não é mesmo? O que importa é ter feito uma festa/evento do ano? De tantas escolhas, talvez a noiva não teve tempo de reparar na principal escolha, que a está esperando no altar.

Noivas, atenção: Não ligue pra essa pressão que existe pra que o seu casamento seja o melhor de todos. Organize seu coração antes de organizar a festa. E não esqueça que depois você vai ter que organizar uma casa, um lar, uma família nova. E vai ver que nenhum cerimonialista vai te ajudar nessa hora. Foca no amor e pronto!! Por um mundo com noivas mais coerentes e menos estressadas com mil detalhes!




terça-feira, 27 de setembro de 2016

Para : Gramado


Para : Gramado

Ai ai, o que posso dizer de você?

Primeiramente, quero deixar claro que não sei por que demorei tanto tempo pra te conhecer. E confesso, me apaixonei. Foi amor à primeira vista. Mas também, convenhamos: você é um charme, toda graciosa, romântica, fofa e caprichosa. Bá tchê! Como eu gostei de você guria!

A primeira coisa que me chamou atenção não foi o seu gramado, mas sim suas flores, cores e sabores. A cada esquina tinha um canteiro todo colorido. Barbaridade tchê! Quem são seus paisagistas e jardineiros? Qual é o segredo? Não é a toa que quase seis milhões de turistas passam por aí todo ano.

Além disso, você é cheirosa. Exala perfume de flores e chocolate, devido às trocentas lojas de chocolate que se espalham pela cidade. Às vezes, também senti cheiro de madeira, couro e lareira acesa. No trânsito, você também está de parabéns, viu? Não existem semáforos e os motoristas são educados e sempre dão preferência para os pedestres, na maioria, turistas. Até as pessoas que andam pela cidade parecem ser mais bonitas e elegantes.

Mas não foi só isso. Amei as casas e predinhos inspirados na arquitetura europeia. Até o Mc Donald’s e o Banco do Brasil eram nesse estilo. A praça com a igreja principal, a famosa Rua Coberta, as lojinhas de artesanato, os hotéis, o Lago Negro (UAU!), o parque indoor de neve, as araucárias e montanhas que estão ao redor de toda a cidade...tudo isso vai ficar registrado aqui na minha cachola. Quer mais? A sopa no pão naquela noite fria, a sequência de fondue, a lanchonete que servia lanches incríveis com croissant, o café colonial etc. E tudo isso junto do meu marido e amigos muito queridos, com muita conversa boa.
Antes de te conhecer, ouvi pessoas dizendo que Gramado era um “Campos do Jordão melhorado”. Perdão Senhor, eles não sabem o que dizem.

Só tenho a te agradecer. Você me surpreendeu, e muito. Só queria que estivesse mais pertinho de mim. E olha que não fui te visitar na época do famoso Natal Luz ou no Festival de cinema, também não fui na época que as hortênsias florescem. Não conheci o Parque Knorr, nem o Parque do Caracol, em Canela. Não deu tempo de visitar todas as atrações. Ou seja, você consegue ser ainda melhor. Já deu pra perceber que virei sua fã? Tá bom, não vou puxar mais ainda seu saco. Tenho medo que fique se achando. Mas, se caso isso acontecer, você tem todo o direito de se gabar.

 Tenho orgulho de dizer que, mesmo parecendo Europa, você faz parte desse Brasilzão, com tanta diversidade cultural. Me aguarde, sua linda, pois eu voltarei ! Ah se voltarei...E me arrisco a dizer que vou até comprar uma cuia e tomar chimarrão. Por que não?

 E como faço todo dia no Facebook, te curti e agora estou compartilhando.

 Hasta la vista baby!

sábado, 27 de agosto de 2016

Sabão em pó

Indo comprar sabão em pó, no mercado:

“Nossa, Nutella por R$13,99? Uhull! Vou pegar uma, pra aproveitar a promoção. Olha, que milho bonito! Vou fazer milho cozido pras crianças hoje, elas amam. Uau! Filet mignon por R$29,90 o kilo? Compensa, vou fazer estrogonofe. Ai, droga, será que vai caber no meu freezer? Vou arriscar. Pronto, agora é só pegar o sabão em pó.
 Oba, ainda bem que passei na frente do papel higiênico, acho que está acabando lá em casa. Um pacote tá bom. Fralda!! Tenho dois chás de bebê pra ir esses dias. Já vou levar dois pacotes. Own, olha esse shampoo do Cebolinha, que coisa mais fofa! Deixa eu cheirar...Ótimo!


 Maçã Fuji, hummm, vou comprar. Cadê o bendito saquinho dos legumes? Aqui, achei. Iogurte novo de banana caramelada? Ué? Nunca vi esse nas propagandas. Vou levar dois pra experimentar. Bolinho para as crianças levarem na escola, Yakult também. Hummm, essa massa que esse supermercado faz é uma beleza. Sempre bom para aqueles dias que não tem nada para jantar.

 Guardanapo! Acho que estou sem, vou levar. Olha, papel alumínio. Estou precisando. E pó royal? Será que o meu está bom ainda? Melhor levar. E esse sabonete novo? Que cheiro bom! Coca cola, sempre bom ter uma de reserva. Eba, esse chocolate é sensacional! Vou atacá-lo hoje mesmo. Tomate, para a salada, vou pegar meia dúzia e pronto.


 Passo no caixa. Sim, quero pôr CPF. No débito, por favor. Coloco as compras no carro e chego em casa com aquele monte de sacola. A minha fiel funcionária olha pra mim, estendendo a mão na minha direção, e diz: “Já me dá o sabão em pó, pois estou colocando roupas na máquina.” E eu: “Sabão em pó? Ops!”.  Quem nunca?

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

 A atleta chinesa, esfomeada, aguardava sua vez na fila do refeitório. Ficou vermelha de tanta raiva, quando viu que a americana, que estava à sua frente, havia pegado o último rolinho primavera disponível. "Droga! Como ela se atreveu?"  Afinal, foi o seu povo que inventou essa iguaria da culinária chinesa. Mas ela não estava a fim de ficar esperando a cozinheira repor os rolinhos. Ela só queria sentar, pois estava com muita dor na perna, em razão dos treinos pesados que havia enfrentado pela manhã. Sem querer querendo, esbarrou na americana, enquanto essa enchia seu copo de refrigerante, deixando-a ensopada de Coca Cola. “Oh, sóri”, tentou pedir desculpa.

O iraniano, sentado na mesa ao lado, revirou os olhos ao ver que o israelense estava tirando a quadragésima selfie em duas horas. Levantou-se da cadeira e pisou sem querer no pé do colega narcisista.

Enquanto isso, o segundo melhor lutador de peso leve das Américas chorava por ver a revolta de seu técnico e pai ao mesmo tempo, que não parava de praguejar contra a arbitragem que roubara na derrota do seu filho. O pai queria apenas conhecer o Cristo Redentor antes de voltar pro seu país, mas nenhuma paisagem da cidade maravilhosa iria aliviar o gosto amargo de ver seu filho perdendo injustamente. “Se as Olimpíadas fossem, ao menos, num país mais decente, você estaria indo embora com uma medalha”- disse para o filho.

O jogador de vôlei sul-coreano não se conformava com a falta de educação do norte-coreano que havia roubado seu lugar na fila do Mc Donald’s, enquanto ele tirava uma foto do mascote Vinícius que estava passando por ali.

No salão de beleza da Vila Olímpica, o egípcio desistiu de esperar pra cortar o cabelo, quando constatou que um israelense estava sentado ao seu lado e eles teriam que ficar se olhando no espelho por vinte minutos.

A equipe de natação brasileira fez uma festinha no quarto com seus novos amigos, mas se recusaram a convidar um argentino, que um dos convidados queria levar. Fizeram até uma plaquinha improvisada na parede: “Proibida a entrada de Argentinos”.

A ginasta americana se enfureceu quando percebeu que sua companheira de quarto estava aos beijos com um judoca norte-coreano. Mas, pelo WhatsApp contou tudo para o seu técnico, que disse que pensaria na punição futura que daria para a infratora.

A trinta metros dali, o corredor cubano passou rindo da cara do seu rival americano, esbanjando sua vitória e os trinta centímetros que tinha chegado adiantado na corrida que o classificou pra final.

Meia hora depois, o judoca saudita pisou três vezes, sem querer, no pé do moço ao lado, que estava com um boné com a bandeira de Israel.

E assim, nesse mesmo dia, o jornal mais lido e respeitado do Brasil, estampava na primeira página a seguinte frase, que alguém importante havia dito: O que mais impressiona são a cordialidade e o espírito olímpico unindo atletas de todos os povos! Lindo de se ver! O esporte une as pessoas e aflora o que eles têm de melhor”.


Se está no jornal, deve ser verdade...

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Quando eu for velhinha





Quando eu for velhinha

Já se imaginou velhinha? Você se imagina aquela vovó de cabelos brancos, tomando um chá de camomila, fazendo um casaco de crochê pra neta e procurando os óculos que estão pendurados por um cordão no seu próprio pescoço? Ou imagina que será aquela velhinha sarada, fazendo crossfit, viajando o mundo inteiro, após ter feito cinco tatuagens?

Essa semana meu filho de cinco anos me perguntou quantos anos eu tenho. Respondi que tenho trinta e cinco e, então, ele arregalou os olhos e disse: “Nossa, você é velha!”. Eu dei risada. Confesso que me assustei quando vi as primeiras rugas embaixo dos meus olhos. Apareceram de um dia para o outro. Do nada. Uma linha que só serve para acumular corretivo anti-olheiras. Vejo como o tempo está passando rápido só de estar falando isso. Você já viu algum menino ou moço falando: “Nossa! O tempo tá voando! Como passa rápido!” Não, eles não falam isso. Na igreja que frequento, vejo vários (as) adolescentes que vi quando eram bebês e até dei aula quando eram pequenininhos. Isso é estranho. Me seguro ao máximo pra não falar:” Como você cresceu!” Frase preferida das senhorinhas, logo depois de apertar as bochechas. Ou se não: ” Te conheci quando você estava na barriga da sua mãe.”. Também fiquei estarrecida quando soube que faz vinte e dois anos que o filme O Rei leão foi produzido. Como assim? Mas uma coisa tem me ajudado: na minha turma, quase todos já estão fazendo ou já fizeram quarentão. Então eles me acham novinha, entendeu?

Agora deixe-me apresentar uma pessoa a vocês: tia Dilza mora em Londrina, é viúva de um tio da minha mãe, não teve filhos. Numa das vezes em que veio nos visitar, sentei ao seu lado e só fiquei observando. Ela devia ter uns setentinta já e eu nove. Cabelos loiros estilo Hebe, alta, de batom. Toda arrumada, unhas impecavelmente pintadas, moderna, animada e divertida. Todo mundo ficava feliz ao seu lado. Ela tinha esse poder: de alegrar o ambiente e o papo era sempre gostoso. Nunca a vi reclamando de dores na coluna ou no joelho, do tempo, se estava muito frio ou muito calor, de reumatismo ou quaisquer outros problemas da velhice. Fui prestar vestibular em Londrina e tive o privilégio de me hospedar no apartamento dela. Não passei no vestibular, mas pude admirar essa senhora da hora mais uma vez. Até a cirurgia de retirada da mama ela me contou de um jeito leve e engraçado: “Quando acordei depois da cirurgia e vi aquele enfermeiro lindo na minha frente, pensei que tinha morrido e estava no paraíso!”. Reparei que os sobrinhos e demais parentes não a chamavam pelo nome e sim de tia criança. E entendi perfeitamente o porquê.

E foi então que a tia Dilza virou referência pra mim de como eu quero ser quando for velhinha. Se é que dá pra gente escolher essas coisas. Mesmo se eu começar a esquecer onde deixei a chave do carro, o nome dos filmes e o protagonista (essas coisas eu já faço, por obséquio), quero continuar sendo tonta, contando piada, rindo de mim mesma e falando besteira até o fim. Não estou querendo dizer, também, que vou ser aquela velha que sai por aí de saia curta, falando só gírias, na moral? Que resolve viver todas as aventuras que não teve tempo ou oportunidade. Só quero ser uma velhinha agradável, e de bem com a vida. Não quero olhar feio para as criancinhas barulhentas e bagunceiras. Nem acordar às seis da manhã pra varrer a calçada. E me nego a usar aquele típico cardigã longo com botõezinhos. Se caso estiver usando, já estarei com Alzheimer, sem poder nenhum de escolha, sendo vestida pela cuidadora, provavelmente.
 Quero sair com as amigas, passear com o marido, me divertir, ver bons filmes, viajar, ler bons livros e curtir um pouco da vida, mesmo que restar pouco tempo. Mesmo que eu tenha que levar a bengala junto. Mesmo que a cruel gravidade tenha me deixado igual a um maracujá de gaveta.

 Mas me diga: qual velhinha (o) é referência pra você? Tenho vários outros: meu avô Aldo, Seu Nilson Zanella, Seu Acácio etc.

E se eu estiver com dor, dentadura, incontinência urinária, pressão alta e diabetes, sendo obrigada a tomar vinte remédios por dia, pretendo disfarçar muito bem. Igual à tia Dilza. 

domingo, 12 de junho de 2016

Oração de libertação (dos doces)




Oração de libertação (dos doces)



Ó Deus, Tu que conheces meus pecados e limitações, ajuda-me, Senhor, a apagar as doces lembranças que me atormentam de madrugada. Tire de mim os pensamentos obsessivos com brigadeiros, sejam eles de paçoca, nozes, chocolate ou leite ninho. Que eu os esqueça, pelo menos só um pouquinho. Que eu ache graça em outra coisa no café da manhã, que não seja um pão francês quentinho com manteiga na chapa. Que eu não despreze um queijo branco, ó Pai, mesmo sabendo que não tem gosto de nada com coisa alguma. Tu sabes que não consigo gostar do pão e do arroz integral, do suco verde, da linhaça, quinoa, chia e essas outras coisas que mais parecem alpiste. 


Dai- me autocontrole, Senhor, quando minha visão for atacada pela imagem de morangos lindos e vermelhos sendo cobertos com aquele chocolate derretido, brilhante e aveludado. Também peço que delete as lembranças que tenho daquele bolo molhadinho de damasco e leite condensado cozido. 

Não deixe que eu fique culpando a baixa temperatura desses dias, Senhor, e dai-me forças pra conseguir comer mais frutas (sei que no fondue não vale) e lembrar que a alface e o tomate também são importantes numa refeição. Bloqueie esses pensamentos gordos que, às vezes, tomam conta de mim, em horários inapropriados.


Que as minhas doces lembranças sejam outras e não somente aquelas com cheiro de bolo de cenoura com calda de chocolate saindo quentinho do forno. Que o senhor me liberte dessa doce loucura que está enraizada na minha memória olfativa. 


Que eu lembre que existe sim, coisa melhor nessa vida que um churros quentinho com canela lambuzado de doce de leite. Sim, Pai, que eu encontre prazer em outras coisas, como acordar de manhã e sair pra correr ou fazer exercícios. Mas não deixe que eu fique igual àquelas chatas que só pensam, falam e respiram isso. Que contabilizam cada caloria que entra pela boca e, quando pedimos uma porção de batata frita olham pra gente como se estivéssemos cometendo um crime hediondo.


 Faz-me sentir nojo da massa folhada e que eu tenha consciência de quantas calorias tem aquilo (é praticamente uma manteiga em folhas). Se possível, peço o mesmo pra Nutella e pro leite condensado. Sei que tu podes fazer qualquer coisa, até aquelas que parecem impossíveis pra nós, como, por exemplo,  fazer com que eu troque o açúcar por adoçante, sem achar que o café ficou com gosto de remédio e que eu consiga gostar daquelas infames barrinhas de cereais.

Livrai-nos das festinhas de criança, do algodão doce, das balas de côco e daquele monte de cupcakes com glacê. Que eu passe a considerar os outros cômodos da casa tão importantes como a cozinha. Se não for pedir muito, que eu consiga comer uma fruta depois de uma refeição e ter a sensação que comi um doce.

 Não é fácil Senhor, mas sei que só tu podes me ajudar. Tu, que criaste toda a doçura desse mundo, livra-me das tentações senhor. Dá-me maturidade para que eu consiga ir numa padaria e compre só pão. Nada mais além. Nem bomba, macarons ou pastel de Belém!


E que a vida continue com a sua doçura, porém com menos doces ( e menos banha!) Valendo a partir de agora. Amém!

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Um baita cronista



Um baita cronista

O fato é que ajudar seu filho fazer tarefa não é uma das coisas mais legais desse mundo. Tem muita tarefa chata. Mas entendo que é necessário. Ás vezes, ele traz uns livros muito loucos lá da biblioteca da escola. E quando é de matemática então? Com seus probleminhas super legais, aos quais sempre tive aversão quando era pequena (mentira, quando grande também.). Acho que deveria ter uma matéria pra ensinar a resolver os problemas da vida, que são vários, não é mesmo?

Mas, essa semana fiquei feliz quando meu filhote me pediu ajuda pra fazer uma pesquisa sobre um cronista brasileiro. Opa! Gostei! Crônica é comigo mesmo, vocês já devem ter notado pelo blog, que sou fã desse gênero textual. Já pensei no qual eu escolheria mas meu filho disse que tinha que ser aquele que a professora escolheu. Tinha algumas opções na agenda como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz e Luís Fernando Veríssimo. Para meu filho, foi feito um X na frente de, nada mais, nada menos que ele: meu cronista gaúcho favorito, o único ainda vivo dessa turminha aí: Veríssimo! Obrigada Deus! Por que? Porque ele é o cara! Perdoem-me os fãs dos outros cronistas, respeito muito, mas não são minha praia.
E aí fomos pesquisar mais a fundo a vida dele. Escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão autor de teatro, romancista e saxofonista. Só isso!
Descobri que, no ano que eu nasci, em 1981, seu livro mais famoso, O analista de Bagé esgotou sua primeira edição em apenas dois dias.
Na pesquisa, encontrei pensamentos e frases que vão comprovar porque ele é genial. Aí vai:

“Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luíza Brunet.”

“A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte final.”

“Quando a gente acha que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”

“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.”

“Humor é melhor que rancor.”

“Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio pra dormir e um laxante na mesma noite.”

“Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter dez pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir dez ao mesmo tempo.”

“Nunca usei bombacha, não gosto de chimarrão e nem de me lembrar da última vez que subi num cavalo. Aliás, o cavalo também não gosta.”

“Os tristes acham que o vento geme...os alegres acham que ele canta.”

“Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo.”

“Gaúcho que é gaúcho não deixa sua mulher mostrar a bunda pra ninguém. Nem em baile de carnaval. Gaúcho que é gaúcho não mostra a bunda pra ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e, assim mesmo, se olhar por mais de trinta segundos sai briga.”

“Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se que um amador solitário construiu Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.”

“A diferença entre o Brasil e a República Tcheca é que a República Tcheca tem o governo em Praga e o Brasil tem essa praga no governo.”

Não disse? Genial!
Olha aí Veríssimo! Estou fazendo propaganda pra você, de graça. Mas sei que você não precisa. Mesmo assim, talvez você ganhe novos fãs a partir desse texto. Não tem como ler essas frases e não admirá-lo. Desculpe a intimidade,  mas você é um fofo. Vou procurar seu fã clube e fazer minha carteirinha. Prometo que tentarei seguir seus conselhos: vou escolher ouvir o vento sempre cantando, nunca tomarei laxante e calmante juntos, deixarei que meus filhos terminem a arte final do layout sozinhos e irei preferir humor a rancor. Sempre! Ah! E encontrar uma pessoa que valha por dez eu já encontrei, faz vinte e um anos.
Obrigada tche!