sexta-feira, 29 de abril de 2016

Agenda velha


Agenda velha

Recentemente, encontrei minha agenda de 1998. Lembro que, na minha adolescência, as meninas competiam qual agenda tinha mais colagens, anotações e tudo o que você imaginar. Minha irmã até tinha um código para escrever seus segredos, sem que ninguém entendesse aqueles micro símbolos malucos.

 Se você fosse no Mc Donald’s era obrigatório colar a embalagem de batata frita na agenda, mesmo que  tivesse impregnada de óleo. Mesmo porque não era tão fácil assim ir nessa famosa rede de lanchonete, pois não tinha na minha cidade. Hoje tem três.

 Lembro que fui pra Recife e tomei uns picolés muito diferentes da Kibon. De cajá e mangaba. Pensei: “ Vou colar na minha agenda essas embalagens. Vai fazer sucesso com a meninada!” Deu o maior trabalho, pois tive que lavar as embalagens e esperar secar pra não grudar. Depois comecei a achar umas formigas na minha agenda e não entendia o porquê. Tinha umas agendas tão nojentas, de meninas que a gente conhecia, que a Vigilância Sanitária teria bons motivos para apreender e multar as respectivas donas, por tamanha falta de higiene! E com isso você ia guardando coisas mil: ingresso de teatro, bilhetinhos de amigas, embalagens de chicletes diferentes que seu tio trazia dos Estados Unidos, guardanapos de restaurantes legais, e sua agenda ia engordando, engordando até o momento que não fechava mais. Era o momento de você colocar um elástico pra segurar a coitada gorducha. Quanto mais clips coloridos, melhor.

Mas em 1998 eu tinha 17 pra 18 anos e não colava mais tanta porcaria assim, estava mais discreta, já era uma moça madura. Tudo bem, confesso que encontrei um chumaço de cabelo colado com durex, de um amigo que raspou a cabeça na época. Naquele ano estava no terceiro colegial e me preocupava somente em passar no vestibular e se era veterinária mesmo que eu deveria  fazer. E lendo aquelas páginas, um pouco amareladas ( os clips, então, estavam tão enferrujados que é capaz de transmitir tétano!), fiquei feliz em achar um bilhetinho de uma sobrinha que na época era bem pequena. Era um desenho que ela tinha feito de mim, com vários elogios. E foi ela quem me deu o maior incentivo a fazer esse blog.

Também percebi que minha rotina era bem agradável e sem muitos problemas: jogava tênis; fazia aulas de inglês; RPG (reeducação postural global) com minha tia fisioterapeuta, pois já era corcunda, e o Pilates, naquela época, era quase desconhecido; saía com amigas que tenho até hoje, graças a Deus. Também tinha o mesmo namorado que tenho até hoje e frequentava a mesma igreja que ainda vou e tanto amo. Só que, hoje, levo dois meninos lindos comigo, meus filhotes.

Outro fato importante da minha rotina naquela época era comer lanche. Aliás, minha alimentação, pelo que li nas anotações, era basicamente isso: lanche. Cada dia era uma lanchonete diferente. Também encontrei anotações de uma viagem pra praia com os amigos, rifas que precisava vender pra formatura, notas de provas, o relato de um resgate que fiz a um cachorrinho preso num caixote no quintal da vizinha, e outras aventuras.

Simplesmente amei ter encontrado essa agenda. Amei ter lido sobre minha rotina naquela época, relembrar tantas coisas e outras que não lembraria nunca... Comecei a tirar fotos das histórias engraçadas e saí mandando no WhatsApp, para as pessoas que estavam inseridas ali, naquele contexto. Fico imaginando que os adolescentes de hoje só poderão ter esse privilégio, de ter lembranças suas de 18 anos atrás, através das lembranças do Facebook. Mas daqui a 18 anos, é capaz de não existir mais essa rede social viciante, e sim algo mais moderno ainda. Assim como o Orkut foi extinto. Amo ver fotos de quando era pequena, dos meus filhos pequenos, e sou uma das poucas que imprimo muitas fotos e faço vários álbuns, pois creio que um dia eles vão gostar de ver: as viagens; a primeira vez que entraram no mar; quando se lambuzaram de Danoninho no cadeirão de comer; quando dormiram de boca aberta no sofá; quando saíram andando com o sapato gigante do papai; quando se apresentaram na escola; quando viram um Papai Noel pela primeira vez; ou quando foram apresentados na igreja. Pois sei que as crianças crescem muito rápido. Todos falam isso. E é verdade. Já já são eles que estarão preocupados com o vestibular.

Um dia, li em algum lugar isso: se sua casa estivesse pegando fogo e não tivesse ninguém mais lá dentro, mas desse pra você ainda voltar pra pegar algo rapidamente, o que você pegaria? Eu pensei: meus álbuns de foto! Ali está a infância inteira retratada dos meus pimpolhos. É uma verdadeira joia.

Também tenho gravado tudo no computador e em pen drives, caso aconteça alguma pane no sistema.

Saio correndo, pego todos os álbuns e pen drives que conseguir. E quem sabe a agenda também!