Agenda velha
Recentemente,
encontrei minha agenda de 1998. Lembro que, na minha adolescência, as meninas
competiam qual agenda tinha mais colagens, anotações e tudo o que você
imaginar. Minha irmã até tinha um código para escrever seus segredos, sem que
ninguém entendesse aqueles micro símbolos malucos.
Se você fosse no Mc Donald’s era obrigatório
colar a embalagem de batata frita na agenda, mesmo que tivesse impregnada de
óleo. Mesmo porque não era tão fácil assim ir nessa famosa rede de lanchonete,
pois não tinha na minha cidade. Hoje tem três.
Lembro que fui pra Recife e tomei uns picolés
muito diferentes da Kibon. De cajá e mangaba. Pensei: “ Vou colar na minha
agenda essas embalagens. Vai fazer sucesso com a meninada!” Deu o maior
trabalho, pois tive que lavar as embalagens e esperar secar pra não grudar.
Depois comecei a achar umas formigas na minha agenda e não entendia o porquê.
Tinha umas agendas tão nojentas, de meninas que a gente conhecia, que a
Vigilância Sanitária teria bons motivos para apreender e multar as respectivas
donas, por tamanha falta de higiene! E com isso você ia guardando coisas mil:
ingresso de teatro, bilhetinhos de amigas, embalagens de chicletes diferentes que
seu tio trazia dos Estados Unidos, guardanapos de restaurantes legais, e sua
agenda ia engordando, engordando até o momento que não fechava mais. Era o
momento de você colocar um elástico pra segurar a coitada gorducha. Quanto mais
clips coloridos, melhor.
Mas em 1998
eu tinha 17 pra 18 anos e não colava mais tanta porcaria assim, estava mais
discreta, já era uma moça madura. Tudo bem, confesso que encontrei um chumaço
de cabelo colado com durex, de um amigo que raspou a cabeça na época. Naquele
ano estava no terceiro colegial e me preocupava somente em passar no vestibular
e se era veterinária mesmo que eu deveria fazer. E lendo aquelas páginas, um pouco
amareladas ( os clips, então, estavam tão enferrujados que é capaz de transmitir
tétano!), fiquei feliz em achar um bilhetinho de uma sobrinha que na época era
bem pequena. Era um desenho que ela tinha feito de mim, com vários elogios. E
foi ela quem me deu o maior incentivo a fazer esse blog.
Também
percebi que minha rotina era bem agradável e sem muitos problemas: jogava tênis;
fazia aulas de inglês; RPG (reeducação postural global) com minha tia
fisioterapeuta, pois já era corcunda, e o Pilates, naquela época, era quase
desconhecido; saía com amigas que tenho até hoje, graças a Deus. Também tinha o
mesmo namorado que tenho até hoje e frequentava a mesma igreja que ainda vou e
tanto amo. Só que, hoje, levo dois meninos lindos comigo, meus filhotes.
Outro fato
importante da minha rotina naquela época era comer lanche. Aliás, minha
alimentação, pelo que li nas anotações, era basicamente isso: lanche. Cada dia era
uma lanchonete diferente. Também encontrei anotações de uma viagem pra praia
com os amigos, rifas que precisava vender pra formatura, notas de provas, o
relato de um resgate que fiz a um cachorrinho preso num caixote no quintal da
vizinha, e outras aventuras.
Simplesmente
amei ter encontrado essa agenda. Amei ter lido sobre minha rotina naquela época,
relembrar tantas coisas e outras que não lembraria nunca... Comecei a tirar
fotos das histórias engraçadas e saí mandando no WhatsApp, para as pessoas que
estavam inseridas ali, naquele contexto. Fico imaginando que os adolescentes de
hoje só poderão ter esse privilégio, de ter lembranças suas de 18 anos atrás,
através das lembranças do Facebook. Mas daqui a 18 anos, é capaz de não existir
mais essa rede social viciante, e sim algo mais moderno ainda. Assim como o
Orkut foi extinto. Amo ver fotos de quando era pequena, dos meus filhos
pequenos, e sou uma das poucas que imprimo muitas fotos e faço vários álbuns,
pois creio que um dia eles vão gostar de ver: as viagens; a primeira vez que
entraram no mar; quando se lambuzaram de Danoninho no cadeirão de comer; quando
dormiram de boca aberta no sofá; quando saíram andando com o sapato gigante do
papai; quando se apresentaram na escola; quando viram um Papai Noel pela
primeira vez; ou quando foram apresentados na igreja. Pois sei que as crianças
crescem muito rápido. Todos falam isso. E é verdade. Já já são eles que estarão
preocupados com o vestibular.
Um dia, li
em algum lugar isso: se sua casa estivesse pegando fogo e não tivesse ninguém
mais lá dentro, mas desse pra você ainda voltar pra pegar algo rapidamente, o
que você pegaria? Eu pensei: meus álbuns de foto! Ali está a infância inteira
retratada dos meus pimpolhos. É uma verdadeira joia.
Também tenho
gravado tudo no computador e em pen drives, caso aconteça alguma pane no
sistema.
Saio
correndo, pego todos os álbuns e pen drives que conseguir. E quem sabe a agenda também!