Mãe,
Depois que me tornei uma mãe, minha admiração por você foi
catapultada pra uma outra dimensão. Pois percebi que todas as dificuldades que passei
você também sofreu, porém com alguns agravantes: sem fraldas descartáveis, sem
babá eletrônica, sem mãe nem pai por perto pra ajudar. E com um casal de gêmeos
agitados, que vieram antes de mim. Deus tinha um plano pra sua vida e, graças a
Ele e ao DIU que, misteriosamente foi embora sem avisar, eu nasci.
Me perdoe pelos quilinhos, estrias e celulites que você
ganhou por minha causa. Pelos enjoos e dores de cabeça matinais frequentes que
você teve na gravidez. E também por cada azia. Quero pedir desculpas por ter
ficado tanto tempo sem ir ao cinema por minha causa. Por ter limpado cocôs
fedidos milhões de vezes. Perdão, por favor, pelas visitas inesperadas de gente
meio sem noção que você teve que receber por minha causa, mesmo depois de uma
noite mal dormida, cansada e com a casa toda bagunçada. Pelas dores nas costas
que causei, porque depois senti na pele o que é ter que segurar um bebê
gordinho no colo. Pelo dedão que prendeu violentamente na porta do carro porque
estava nervosa me levando ao hospital, num daqueles meus ataques de sinusite.
Quero te agradecer
por ter me amamentado tantas vezes, pelos banhos rápidos que teve que tomar por
minha causa, pelo cobertor que foi arrumado no meio da noite fria e pelas vezes
que você foi conferir se eu estava respirando ou se eu só estava dormindo muito
mesmo. Por todos os band-aids colocados, pelos laços, tiaras e rabinhos feitos
no meu cabelo. Por todas as canções de ninar, pelos cafunés e pelas histórias e
fábulas lidas antes de dormir.
Agradeço pela
paciência que teve em meio às brigas que tive com os meus irmãos e também pelas
cintadas que me deu quando eu aprontava. Pelas intermináveis consultas pra resolvermos
todas as minhas perebas de pele (verrugas, pintas, furúnculos, dermatite e
afins), e também por ter conhecido todos os otorrinos de Bauru, em razão da
minha sempre presente rinite.Por todas as vezes que nos levou ao bosque da comunidade pra brincar e pegar jambolão nas árvores. Por todas as vezes que fomos pra Santos, e pelos churros , sempre depois do show do leão marinho. Por ter me levado no show da Xuxa no estádio do Noroeste, nesse calor senegalês de nossa cidade, mesmo sabendo que seria um pé no saco. E pelas excursões ao Playcenter também.
Por ter me incentivado a fazer piano, ballet, natação e ponto cruz, mesmo eu tendo desistido de tudo bem no meio. Também agradeço por ter me ensinado que a vida, sem um docinho, é bem mais amarga, e que um batom também é algo muito importante e necessário pra uma mulher.
Por tantas camas que você arrumou até que tomássemos
vergonha na cara. Agradeço também pelas vezes que você deixava a gente dormir
com você, quando o papai estava de plantão. Pelas vezes que chegou cansada do
trabalho e teve que escutar a gente reclamando que não tinha nada pra comer. (Nada
que a gente estava com vontade, pois a geladeira estava cheia de coisas.)
Muito obrigada por ter sido uma mãe tranquila, sem neuras,
que nos transmitia segurança(com exceção das baratas). Sim, só nessa parte você falhou um pouquinho.
Quantas vezes eu e meus irmãos fomos a acampamentos e
ficávamos uma semana sozinhos lá em Atibaia? E a gente aprendia a se virar. Nunca
vou esquecer da saudade terrível que eu sentia quando você passava um mês no exterior,
trabalhando como guia dos alunos nos intercâmbios. Achava que eu iria,
literalmente, morrer de saudade! E amava quando ouvia o barulho do salto do seu
sapato quando chegava em casa, ou o seu Rã-ham (pigarro familiar). Eu
reconhecia de longe.
Também não esquecerei das gemadas e cremes de abacate com
limão. Do marshmallow pra comermos de
colher. Pelos muitos brigadeiros enrolados pras nossas festinhas de
aniversário. Pelas viagens tão gostosas que fizemos juntas.
Por ter sido minha babá, advogada, psicóloga, cozinheira,
motorista, gerente de operações, cabeleireira, enfermeira, tradutora e professora
(de inglês e da vida). E tudo isso trabalhando em pé, sem plano de carreira,
sem remuneração, sem carteira assinada, sem férias.
Obrigada por ter se virado nos trinta e ter dado conta do
recado, com louvor, mesmo trabalhando. Pelos
pequenos e grandes ensinamentos. Por cada não e sim que você me disse. Por cada
conselho, pelas receitas e livros compartilhados. Pelo exemplo. Por ser minha melhor
e mais incrível amiga.
Você é um anjo, quer dizer, anja ( e que anja mais linda) que
Deus fez pra cuidar de mim e dos meus
irmãos.
Peço que você seja
como as pilhas alcalinas. Pois elas duram muito mais que as outras. You are an
awesome mom! E isso só posso escrever, também, porque me incentivou a fazer
inglês e não deixou eu desistir quando eu quis.
Muita coisa boa que passei ou vou passar para meus filhos é
tudo culpa sua! Tantas lembranças boas
que tenho da minha infância, da história que tivemos juntas até aqui e como
enfrentamos os problemas. Como definir e quantificar o seu papel na minha vida?
A porcentagem do seu caráter que foi embutido em mim? Só sei dizer uma coisa: minha gratidão é
imensurável!
Com amor
Lola