sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Noivas enlouquecidas


Casei nova. Tá, muito nova. Faltava exatamente seis dias para o meu vigésimo aniversário. Mas já namorava há seis anos. E não, não estava grávida.

Quando eu aceitei e resolvi tomar uma das decisões mais importantes da minha vida, não sabia ainda o que estava por vir. Era muita coisa pra decidir. A mais difícil era o número de convidados que podíamos pagar. Então precisava decidir se eu chamaria somente cinquenta pessoas e serviria filet mignon no jantar ou chamaria um monte de gente, mas servindo lombo. Escolhi o lombo e muitos convidados. Afinal, sempre tem aqueles que saem da festa falando mal de cada detalhe mesmo, tendo filet ou lombo.

 Depois tive que tomar outra sábia decisão: desistir casar de azul, (Sim, acredite! Eu queria muito casar com um vestido azul petróleo!) Caso contrário, minha avó iria desmaiar lá na frente de todo mundo. Lembro que eu disse: “eu não caso de azul, mas o tapete da igreja, as toalhas das mesas, as flores, a lembrancinha e todos os detalhes restantes serão azuis e ninguém enche mais o meu saco.” Até hoje me lembro de como eu e minha mãe pagamos o vestido. Eu e ela dividimos R$100,00 por mês, por dez meses. Hoje vejo o preço que as noivas pagam nos vestidos e fico inconformada. Dá pra comprar um carro, dependendo do vestido.

O buffet que contratamos era de um senhor muito, muito simples, magrinho e caipira, que nos atendia na casa dele com a camisa aberta e o peito peludo aparecendo. Sim, eu e minha mãe morremos de medo até o dia do casamento e imaginamos todos os convidados sendo internados no dia seguinte com intoxicação alimentar, mas tínhamos vários depoimentos de pessoas que elogiaram muito as festas e a comida que ele fazia. Acreditem se quiser, mas ele cobrou R$16,00 por pessoa. Lembrem-se que isso foi há quinze anos.

Cerimonialista nem existia naquela época, a gente nem ouvia falar dessa profissão. Geralmente, era algum parente da noiva. No meu caso, foi minha irmã. A banda que tocou na festa tinha três integrantes e cobraram R$ 300,00, que pagamos na hora, com uma parte do dinheiro da gravata.

 As músicas do casamento foram cantadas por amigos nossos. As madrinhas puderam usar os vestidos da cor que elas queriam. Os convites foi minha irmã que fez também, e ficaram lindos. A cor do convite? Releiam o terceiro parágrafo.

 No fim, deu tudo certo (exceto ter esquecido o buquê no salão e só ter percebido isso quando os padrinhos já estavam entrando). Ah! Ninguém passou mal, a comida estava ótima, eu acho (ninguém fala mal da comida pra noiva). Dançaram muito ao som da bandinha.

 É indescritível a sensação daquela porta abrindo e você visualizando todas as pessoas que você ama ali (é, quase todas hehe, tinha gente que eu nem conhecia!) reunidas só por causa de você e do seu noivo. Isso, você só vai conseguir de novo no seu velório. A não ser que se case outra vez. Ou várias vezes, como a Gretchen. Como o Fábio Júnior. Como tantos outros por aí.

E depois de quinze anos, os casamentos (festas) estão bem mais profissionais e modernos. Vejo as noivas se descabelando por: chá bar ou chá de cozinha, chá de lingerie, o vestido mais perfeito, lista de presentes, a escolha dos padrinhos (se forem ricos, é só coincidência),  se convida ou não o “ex”, local da cerimônia e da festa, o melhor sapato (um pra cerimônia e outro pra festa), presentes para entregar  aos padrinhos , dia da noiva no salão com direito a roupão de seda e champagne pra todas as melhores amigas, transporte da noiva até a igreja, o cardápio mais requintado com vinte tipos de docinhos, a cerimonialista, a mais exuberante lua de mel, o coral que vai cantar na cerimônia,  a cor que as madrinhas devem vestir, onde os padrinhos tem que alugar o bendito terno, o DJ da festa, a iluminação cinematográfica, os guardanapos que ficam nos bancos para os chorões, o pacotinho de arroz pra jogar na saída, o melhor fotógrafo com direito a drone filmando tudo lá do espaço sideral, ensaio de fotos antes do casamento, telão no salão mostrando as fotos que estão sendo tiradas pelos convidados em tempo real (#fulanoefulana), bar man com as batidas mais descoladas, badulaques de neon e plumas pra serem entregues quando o povo já está bem alegrinho, escola de samba, cabine de fotos, buquê extra pra ser jogado, chinelinho pra toda mulherada com a caricatura dos noivos impressa, fogos de artifício...Ufa!. Virou algo meio surreal! A noiva quase chega morta de exaustão no casamento. Ou finge que não está estressada. Se não sair tudo do jeitinho que ela quer então?

Acho legal tudo isso numa festa, não sou contra e é lógico que me divirto também quando sou convidada ( e quero experimentar um doce de cada tipo). Se você pode e quer fazer tudo isso, vá em frente, seja feliz. Mas só me preocupo com isso: com tanta coisa pra fazer e se programar (e haja dinheiro!), será que dá tempo pra focar no principal? Você teve tempo suficiente pra conhecer a pessoa que vai ficar ao seu lado pro resto da sua vida? Ele, o noivo, participou de alguma decisão, ou foi um mero coadjuvante?

Hoje em dia, tem noiva que começa os preparativos dois anos antes da cerimônia ou mais. E, às vezes, ficam dois anos depois pagando as contas da festa. Fazem financiamento, se matam pra pagar, não importa se já vão iniciar a vidinha de casado enforcados de dívidas. Ou são os pais, que se esfolam pra pagar tudo. E quando o casamento acaba e faltam muitas parcelas ainda pra serem pagas? Às vezes, acaba tão rápido que dá vontade de pedir o presente de volta.

 Sim, cada um faz o que quiser, mas só acho uma incoerência total. Falta de bom senso. Tem alguma coisa errada aí, você não acha? E no meio de tanta coisa, o real motivo do casamento fica por último. Depois a gente pensa nisso, não é mesmo? O que importa é ter feito uma festa/evento do ano? De tantas escolhas, talvez a noiva não teve tempo de reparar na principal escolha, que a está esperando no altar.

Noivas, atenção: Não ligue pra essa pressão que existe pra que o seu casamento seja o melhor de todos. Organize seu coração antes de organizar a festa. E não esqueça que depois você vai ter que organizar uma casa, um lar, uma família nova. E vai ver que nenhum cerimonialista vai te ajudar nessa hora. Foca no amor e pronto!! Por um mundo com noivas mais coerentes e menos estressadas com mil detalhes!