Quando eu aceitei e resolvi tomar uma das decisões mais
importantes da minha vida, não sabia ainda o que estava por vir. Era muita
coisa pra decidir. A mais difícil era o número de convidados que podíamos
pagar. Então precisava decidir se eu chamaria somente cinquenta pessoas e
serviria filet mignon no jantar ou chamaria um monte de gente, mas servindo
lombo. Escolhi o lombo e muitos convidados. Afinal, sempre tem aqueles que saem
da festa falando mal de cada detalhe mesmo, tendo filet ou lombo.
Depois tive que tomar
outra sábia decisão: desistir casar de azul, (Sim, acredite! Eu queria muito
casar com um vestido azul petróleo!) Caso contrário, minha avó iria desmaiar lá
na frente de todo mundo. Lembro que eu disse: “eu não caso de azul, mas o
tapete da igreja, as toalhas das mesas, as flores, a lembrancinha e todos os
detalhes restantes serão azuis e ninguém enche mais o meu saco.” Até hoje me
lembro de como eu e minha mãe pagamos o vestido. Eu e ela dividimos R$100,00 por
mês, por dez meses. Hoje vejo o preço que as noivas pagam nos vestidos e fico
inconformada. Dá pra comprar um carro, dependendo do vestido.
O buffet que contratamos era de um senhor muito, muito
simples, magrinho e caipira, que nos atendia na casa dele com a camisa aberta e
o peito peludo aparecendo. Sim, eu e minha mãe morremos de medo até o dia do
casamento e imaginamos todos os convidados sendo internados no dia seguinte com
intoxicação alimentar, mas tínhamos vários depoimentos de pessoas que elogiaram
muito as festas e a comida que ele fazia. Acreditem se quiser, mas ele cobrou
R$16,00 por pessoa. Lembrem-se que isso foi há quinze anos.
Cerimonialista nem existia naquela época, a gente nem ouvia
falar dessa profissão. Geralmente, era algum parente da noiva. No meu caso, foi
minha irmã. A banda que tocou na festa tinha três integrantes e cobraram R$ 300,00,
que pagamos na hora, com uma parte do dinheiro da gravata.
As músicas do
casamento foram cantadas por amigos nossos. As madrinhas puderam usar os
vestidos da cor que elas queriam. Os convites foi minha irmã que fez também, e
ficaram lindos. A cor do convite? Releiam o terceiro parágrafo.
No fim, deu tudo
certo (exceto ter esquecido o buquê no salão e só ter percebido isso quando os
padrinhos já estavam entrando). Ah! Ninguém passou mal, a comida estava ótima,
eu acho (ninguém fala mal da comida pra noiva). Dançaram muito ao som da
bandinha.
É indescritível a
sensação daquela porta abrindo e você visualizando todas as pessoas que você ama
ali (é, quase todas hehe, tinha gente que eu nem conhecia!) reunidas só por
causa de você e do seu noivo. Isso, você só vai conseguir de novo no seu
velório. A não ser que se case outra vez. Ou várias vezes, como a Gretchen.
Como o Fábio Júnior. Como tantos outros por aí.
E depois de quinze anos, os casamentos (festas) estão bem
mais profissionais e modernos. Vejo as noivas se descabelando por: chá bar ou
chá de cozinha, chá de lingerie, o vestido mais perfeito, lista de presentes, a
escolha dos padrinhos (se forem ricos, é só coincidência), se convida ou não o “ex”, local da cerimônia e
da festa, o melhor sapato (um pra cerimônia e outro pra festa), presentes para entregar
aos padrinhos , dia da noiva no salão
com direito a roupão de seda e champagne pra todas as melhores amigas, transporte
da noiva até a igreja, o cardápio mais requintado com vinte tipos de docinhos,
a cerimonialista, a mais exuberante lua de mel, o coral que vai cantar na
cerimônia, a cor que as madrinhas devem
vestir, onde os padrinhos tem que alugar o bendito terno, o DJ da festa, a
iluminação cinematográfica, os guardanapos que ficam nos bancos para os
chorões, o pacotinho de arroz pra jogar na saída, o melhor fotógrafo com
direito a drone filmando tudo lá do espaço sideral, ensaio de fotos antes do
casamento, telão no salão mostrando as fotos que estão sendo tiradas pelos
convidados em tempo real (#fulanoefulana), bar man com as batidas mais
descoladas, badulaques de neon e plumas pra serem entregues quando o povo já
está bem alegrinho, escola de samba, cabine de fotos, buquê extra pra ser
jogado, chinelinho pra toda mulherada com a caricatura dos noivos impressa,
fogos de artifício...Ufa!. Virou algo meio surreal! A noiva quase chega morta
de exaustão no casamento. Ou finge que não está estressada. Se não sair tudo do
jeitinho que ela quer então?
Acho legal tudo isso numa festa, não sou contra e é lógico
que me divirto também quando sou convidada ( e quero experimentar um doce de
cada tipo). Se você pode e quer fazer tudo isso, vá em frente, seja feliz. Mas
só me preocupo com isso: com tanta coisa pra fazer e se programar (e haja
dinheiro!), será que dá tempo pra focar no principal? Você teve tempo
suficiente pra conhecer a pessoa que vai ficar ao seu lado pro resto da sua
vida? Ele, o noivo, participou de alguma decisão, ou foi um mero coadjuvante?
Hoje em dia, tem noiva que começa os preparativos dois anos
antes da cerimônia ou mais. E, às vezes, ficam dois anos depois pagando as
contas da festa. Fazem financiamento, se matam pra pagar, não importa se já vão
iniciar a vidinha de casado enforcados de dívidas. Ou são os pais, que se
esfolam pra pagar tudo. E quando o casamento acaba e faltam muitas parcelas
ainda pra serem pagas? Às vezes, acaba tão rápido que dá vontade de pedir o
presente de volta.
Sim, cada um faz o
que quiser, mas só acho uma incoerência total. Falta de bom senso. Tem alguma
coisa errada aí, você não acha? E no meio de tanta coisa, o real motivo do
casamento fica por último. Depois a gente pensa nisso, não é mesmo? O que
importa é ter feito uma festa/evento do ano? De tantas escolhas, talvez a noiva
não teve tempo de reparar na principal escolha, que a está esperando no altar.
Noivas, atenção: Não ligue pra essa pressão que existe pra
que o seu casamento seja o melhor de todos. Organize seu coração antes de
organizar a festa. E não esqueça que depois você vai ter que organizar uma
casa, um lar, uma família nova. E vai ver que nenhum cerimonialista vai te
ajudar nessa hora. Foca no amor e pronto!! Por um mundo com noivas mais
coerentes e menos estressadas com mil detalhes!