domingo, 1 de dezembro de 2019

Cada louco com a sua mania


Sempre fui cheia de manias. Seria eu uma maníaca? Não estou falando de TOC, o transtorno obsessivo compulsivo. Esse, bem mais grave, sufoca a pessoa e a impede de fazer suas tarefas cotidianas. Aquela neura de ir quatrocentas vezes conferir se fechou a porta, se desligou o forno, lavar a mão cinquenta vezes por dia, pular os riscos da calçada e coisas assim. Assisti um filme espanhol chamado Toc Toc que retrata alguns pacientes com esse transtorno na sala de espera de um médico. Eu ri, mas fiquei com dó ao mesmo tempo. Como as pessoas sofrem com isso!

Mas veja, caro leitor, minhas manias não chegam nesse patamar. Vou falar algumas aqui, com um certo receio de, ao final do texto, você estar me achando a pessoa mais fresca e esquisita do planeta. Tô nem aí! Sei que você também deve ter algumas ou um monte. Noventa e nove por cento das minhas se concentram na hora de dormir: não pode ter nenhuma luz acesa e nenhum mísero barulhinho no quarto. Lembro de dormir na casa de algumas amigas, quando era pré-adolescente, que tinham no quarto aqueles relógios com pilha, que me torturavam com aquele tic tac tic tac. Eu enlouquecia!

Se ouvir um pernilongo dentro do quarto, acendo a luz e só me dou por vencida depois de ter matado aquele fidumaégua que ficava dando rasante no meu tímpano.
 Só durmo de lado, o travesseiro tem que ser alto, abraço outro daqueles compridos, vulgo Ricardão. Ah! Não acabou! O lençol de cima tem que estar preso nos pés. Se noto que ele soltou no meio da madrugada, levanto (sim, pode acreditar) e prendo novamente.  Sempre cubro meu quadril e deixo os pés de fora. Tiro os cabelos da nuca e coloco tudo pra cima. Odeio dormir com meias, só se tiver quase nevando. Outra coisa: meu remedinho de nariz tem que estar no criado mudo ao meu lado.

Outras manias me acompanham ao longo do dia. Quando vou passar manteiga ou requeijão no pão, não deixo nem um centímetro sem lambuzar. Várias vezes meu marido passou pra mim e foi reprovado no controle de qualidade. Feijão? Sempre em cima do arroz. Se tiver uma banana à milanesa no prato, deixo ela bem separadinha pois não gosto de misturar com arroz etc. Tenho, também, pavor/nojo de ouvir o barulho dos outros comendo, mesmo de boca fechada. Fiquei sabendo que isso tem nome: misofonia. Salgadinho crocante, biscoito de polvilho, maçã, chiclete e outros me deixam bem irritada. Se tiver comendo de boca aberta então, quase enfarto.

Recentemente, minha irmã, que várias vezes se queixou das minhas manias, pois dormia no mesmo quarto que eu (ela nem vai ficar na fila do céu. Vai ter fastpass por ter dormido comigo por anos), me disse que o filho dela se parece muito comigo nesse quesito. Com apenas três anos, é cheio das manias pra dormir. Coitada, pensei eu. Vai ter que aguentar mais isso agora.

Já está achando que sou louca? Tem muito mais, veja só: continuo com a mania de falar muito, de sempre andar com chicletes ou balas na bolsa, de ser pontual (isso, hoje em dia, virou um defeito), de mandar muito áudio e ouvir logo após ter enviado pra conferir como ficou horrível minha voz, de ver as horas antes de dormir, fazendo as contas pra ver quanto tempo terei de sono até o despertador tocar, de fungar o nariz, de começar a ler um livro sem ter terminado o outro, de falar muita coisa com ironia e sarcasmo ( algumas pessoas mais inocentes não entendem), de sempre prender o cabelo num rabo de cavalo, de dar risada de tudo (mesmo que em situações impróprias para risada, como em velórios, por exemplo), de falar com cachorros com voz de retardada. 

Tenho mania de usar muitos parênteses quando estou escrevendo um texto (sério, não consigo. Só até aqui, usei meia dúzia), mania de reparar nos tiques e trejeitos dos outros, mania de sempre ligar uma música quando entro no carro, mania de lixo reciclável. Saio resgatando potinhos de iogurte lambuzado dentro do lixo orgânico aqui de casa, irada com quem fez aquilo. Lavo tudo antes de jogar. Meu lixo reciclável é asséptico. Eu ganharia nota 10 se tivesse um concurso de melhor lixo.
Mas vou parando por aqui pois tenho medo de ter mania de escrever demais (não tenho dom para resumir ou sintetizar nada. E lá vai o sétimo parêntesis).

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Que pena!

 





Essa semana, meu filho trouxe um livro da biblioteca da escola que mostra várias aves. Ele ama desenhar e ficou copiando alguns pássaros. Folheei o livro e fiquei encantada. Como vejo Deus em algumas coisas! Em flores, cores, lua, céu bonito, céu estrelado e nos animais. Se eu pudesse e não fosse presa pelo Ibama, teria vários no meu quintal: um peixe boi, um bicho preguiça, um panda, um coala, um pinguim, vários gatos e cachorros.


Meu marido, recentemente, visitou uma cidade do Paraná, chamada Arapongas. Esse é o nome de um pássaro. Não queira ser acordado com o canto de uma araponga na sua janela. Você já ouviu? Pesquise aí no Youtube. Pensa num bichinho escandaloso! Mas o interessante dessa cidade é que suas 1600 ruas têm o nome de aves. Quando você pede uma informação lá é, mais ou menos assim: siga em frente duas quadras na rua Beija Flor, vira à direita na Tico Tico, anda uma quadra e vire à esquerda na Pica Pau. E então você chegará no cruzamento da Avenida Avestruz com a Andorinhas. É lei municipal, sério! Podem procurar! Quando um loteamento é inaugurado em Arapongas, uma funcionária da prefeitura é encarregada de buscar as espécies ou subespécies pra nomear as novas ruas.

Mas, voltando ao livro, numa página estava o beija-flor, o único que consegue dar ré no meio do voo. Alguma companhia aérea já conseguiu esse feito? Se sim, não fiquei sabendo. E tinha muita coisa interessante ali. Por exemplo: a casa que o João-de-Barro faz, que pode durar anos. Os gansos, que protegem o território em que vivem e são capazes de voar milhares de quilômetros pra fugir do frio. Que possuem estratégias maravilhosas de voar em bando e em formação de “v”, organizados assim para que gastem menos energia e possam vigiar uns aos outros durante a longa viagem. Também li sobre a agilidade do gavião, a beleza do pavão, o poder de imitar sons que o papagaio tem. A virada poderosa de pescoço que a coruja faz. Li sobre os ninhos, as patas adaptadas para o local onde vivem...

 Agora, o que mais chamou minha atenção foi o urubu. Por que? Porque eu e quase todo mundo o acha feio, nojento e desprezível  pois se alimenta de animais mortos/carne podre, certo? Mas ali estava escrito que ele é muito importante para o equilíbrio ecológico, pois elimina grande parte de cadáveres de animais no ambiente, evitando a disseminação de doenças. Ou seja, ele é praticamente o cara da coleta de lixo hospitalar ou do Centro de zoonose. Ele faz o que ninguém quer fazer. Trabalho sujo, digamos, mas muito eficiente. Eles são capazes de ver um bicho morto a 3 mil metros de altura e de sentir o cheiro de carniça a 50 km de distância. Valeu urubu, a partir de agora tenho um outro olhar a seu respeito. E fiquei feliz em saber que o mascote do Flamengo é um urubu.

E as cores, minha gente? Uma mais linda que a outra! A aquarela de Deus é muito top! Minhas preferidas são as do pavão (ele humilha os outros com tanta beleza). Depois vem o flamingo, tucano e a arara azul. Achei interessante, também, o fato de cada bico das aves ser diferente em cada espécie, adaptados sempre para o tipo de alimentação que possuem.

E é isso que eu quero te dizer: que às vezes, uma coisa dessa, um livro infantil, consegue falar mais que uma mensagem ou pregação bíblica num culto. Aprendi sobre a perfeição da criação, como tudo é feito com um propósito. Sabe aqueles dias cheios de atividades e obrigações? Que você não pensou em Deus nem um segundo sequer? E então, voltando pra casa, se depara com um espetáculo de um pôr do sol ou uma linda lua cheia. Eu paro e penso: Uau! Deus! Ou talvez, você chega em casa e percebe que os botões da sua orquídea abriram e nasceram flores lindas e coloridas. Deus!  Parece um post it de Deus te dizendo: Olá, eu estou aqui. Muitos, eu sei, não conseguem ver isso e só posso sentir pena (já que estamos falando de aves, permitam-me o trocadilho).
Meu filho me pediu várias vezes pra comprarmos um papagaio ou passarinho. Mas me recuso, tenho muita pena (mais uma vez) de prender alguém com o poder de voar apenas pra eu ficar admirando aquele ser.
Só posso agradecer a Deus por ter falado comigo em meio a um simples livro da biblioteca.
Se eu morasse em Arapongas, a “Cidade dos Passarinhos”, nem ficaria chateada se minha casa estivesse na rua Urubu. Mas, por enquanto, não há nenhuma rua com este nome por lá. Puro preconceito, não acham? Que pena!
Obs: Abaixo, um show de beleza e cores pra você!













 



sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Aventuras de Irineu, um limpador de piscinas



Estamos com o mesmo limpador de piscina há mais de uma década. Irineu sempre foi um ótimo profissional, pessoa de nossa confiança. Às 8:45 da manhã de 27 de setembro, há 25 anos ele estava limpando a primeira de muitas piscinas, com apenas treze anos, disse ele.


Esses dias o Irineu não apareceu no dia que combinamos porque foi limpar a piscina de uma casa cujos donos estavam viajando e deu de cara com um ladrão no quintal. O sujeito saiu correndo e pulou o muro. Pela terceira vez isso aconteceu com ele. O duro foi quando, em outra ocasião, dois ladrões, ao virem que foram pegos no flagra, saíram correndo atrás dele pra eliminar as testemunhas. Nunca correu tanto na vida como naquele dia, disse ele. O pior é que depois dá um trabalhão: encontrar os donos da casa e avisar do ocorrido, ajudar a polícia com informações, até B.O. na delegacia já fez.

Ele já teve que resolver problemas bem estranhos como esgotar piscinas até a última gota porque uma criança defecou na água. Já teve que socorrer donos de piscina desesperados pois o filho resolveu fazer espuminha e derrubou cinco litros de detergente na água. Quem nunca? Tem aquela abençoada menininha que derrubou glitter pra piscina ficar mais brilhante.

Também encontrou uma calcinha fio dental vermelha entupindo a bomba de uma piscina (ui!). Numa chácara que costumavam disponibilizar para aluguel de festas, ele teve que tirar com a mão, quinze camisinhas que também tiveram o mesmo destino que a calcinha vermelha. Ele guardou todas numa sacolinha e mostrou para o dono da chácara, que depois disso, passou a alugar o local somente para famílias. Decisão sábia.

Ele também já correu muito em volta da piscina pra fugir de ataques de cachorro. Mas oito vezes quem ganhou foi o cão. Lutou até com Rotweiler. Resultado: várias calças rasgadas, sangue, hospital, pontos e vacina antirrábica. Duas vezes teve que pular na piscina pra não ser atacado. O meu falecido cão Fred não nutria simpatia alguma por ele e chegou a dar umas dentadas de leve na calça jeans. Já minha cachorrinha atual ama ele. São amigos.

Não foram só oito mordidas que ele levou. Ficou oito vezes preso nas casas. É assim: o dono dá um tchauzinho e diz: “Tô indo Irineu, vou deixar o portão aberto pra você.” Ráááá, pegadinha do malandro!  Esquecia e trancava. Ele conta que numa dessas vezes, chegou a ficar das oito da manhã até meia noite trancado, quando finalmente o dono da casa chegou e levou o maior susto ao encontra-lo lá.
Além de calcinhas e camisinhas ele também já se deparou com vários animais, de diversas espécies, caídos na piscina: escorpião, aranha, barata, cobra, sapo, passarinho, rato, ratazana, lagarto, tatu, macaco, quati, gambá, gato e até carneiro. Quase todas as espécies animais da face da terra. A maioria vivos. Pegou criança que caiu sem querer e até uma idosa de 92 anos que escorregou e desabou dentro da piscina, enquanto ele limpava, por sorte.

Já limpou muita piscina de república, mas ficou tão escandalizado com as drogas, bebedeiras e promiscuidades que resolveu desistir. Nunca mais. Também já chegou a ficar quinze anos limpando a piscina de uma casa onde ninguém apareceu. Nunca viu ninguém ali. Repito: quinze anos! A casa sempre lá, vazia. O dono morava em outra cidade e pagava por depósito.

Já aconteceu também dele estar limpando a piscina de uma casa e a empregada cair desmaiada no quintal. Sem ver outra solução, levou a senhora pro hospital e ligou pra avisar a dona da casa.
Casado, cristão, pai de dois filhos, homem sério e correto, foi também assediado por uma empregada doméstica. Ela trancou a porta, colocou a chave dentro do sutiã, abriu o zíper do vestido de cima a baixo e disse que ele só saía de lá depois de nhec nhec com ela. Durante quarenta minutos ele ficou conversando com ela, tentando convencê-la do erro. Foi o que ele me disse, juro. Só depois de falar da bíblia ela se constrangeu e desistiu.

Isso sem contar nas várias vezes que deu de cara com mulheres e homens tomando sol, banho ou até de depilando completamente nus no quintal. Do jeitinho que vieram ao mundo.
Amantes? Também viu várias.

E vocês aí achando, como eu achava, que a vida de um limpador de piscinas é normal e pacata. Como podem ver, a vida não reservou só piscinas pra ele, e sim muitas aventuras e saias-justas
Agora uma vez por semana, estarei ali, perguntando se tem alguma novidade pra ele me contar.


quinta-feira, 23 de maio de 2019

O abraço do Davi


Ontem, 22 de maio, foi o dia do abraço. Vocês já tinham ouvido falar nesse dia? Eu não.


Se tem uma coisa que meu filho mais velho, o Davi, faz muito bem é dar abraços. Ele tem 12 anos e está no sétimo ano. Não pense que é um abracinho chocho, viu? É poderoso, apertado. Como ele é gigante, quase derruba os outros. O bonito disso é que ele não pede abraços só para nós, familiares, mas já pediu várias vezes para amigos meus, que acompanharam o crescimento dele. E que crescimento, diga-se de passagem.
Aqui em casa já me acostumei. Às vezes, quando estou saindo de casa, esbaforida e atrasada, escuto ele dizendo: “Você só vai embora se me der um abraço”. Se peço pra ele me trazer um copo de água ele diz: “só se me der um abraço”. Ele também costuma travar sua passagem, como uma cancela de pedágio. Só passa se der um abraço.

Hoje ele chegou da escola, me deu um abraço, lógico, e me contou que era dia do abraço. Disse que um professor entrou na classe com luvas gigantescas nas mãos e saiu abraçando todos os alunos. A partir da ideia do professor, ele se sentiu motivado a abraçar quem via pela frente. Alunos que conhecia e os que não conhecia também. Perguntei se todos aceitaram o convite. “A maioria sim. Alguns disseram que se abraçasse as meninas, iriam achar que eu gostava delas. E que era estranho menino abraçando menino.”


O abraço é um gesto simples, mas que expressa vários sentimentos. Afeto, consolo, carinho, amizade, intimidade, saudade, atenção, apoio. Onde, anatomicamente, os corações dos envolvidos ficam bem próximos.

Já ouviram aquela música do Jota Quest? Vejam esse pedacinho:

“O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço
Tudo que a gente sofre
Num abraço se dissolve
Tudo o que se espera ou sonha
Num abraço a gente encontra”

Quando o Davi me contou o que fez ontem, meu coração se sentiu abraçado, aquecido. Afinal, vivemos em um mundo frozen, em se tratando de expressar afeto.
Que privilégio eu tenho (obrigada Deus) por ter essa abundância de abraços aqui em casa, todos os dias.
Sim, filho, te dou quantos abraços você quiser. O mundo precisa de mais abraçadores como você.
Que todo dia seja dia do abraço!











domingo, 7 de abril de 2019

A luta do século: eu e o cupuaçu



Conheci esta fruta típica da região norte brasileira através da minha irmã, que pediu um suco numa lanchonete aqui na minha cidade. Nunca tinha ouvido falar. Experimentei, gostei, e achei bem diferente. Tinha um sabor marcante e ácido. Passado algum tempo, fui passar uns dias na casa da minha tia em Peruíbe e ela preparou uma mousse de cupuaçu. Todos amaram! Fui logo pedindo a receita. Ela disse ter sido o meu tio que havia trazido a polpa pra ela de Manaus. Fiquei doida pra fazer essa mousse mas percebi que era quase impossível achar essa belezura amazônica aqui no interior de São Paulo. Um belo dia, estava eu no Pão de Açúcar quando vejo uma fruta marrom, grande e pesada. Curiosa, quis saber o que era aquilo. Meus olhinhos brilharam quando vi: cupuaçu! Nada me impediria, agora, de fazer a mousse. Uma só fruta custava R$ 10,00, mas beleza. Troquei por um rim meu e fui embora.

 Foi então que começou a minha luta pra abrir aquele trem. Percebi que era mais duro que um coco. Tentei pegar a maior faca que eu tinha e dei um golpe fatal na fruta. Não fez nem cócegas. Ela nem se abalou. O golpe só foi fatal pra coitada da faca, que quebrou na hora. Fiquei ali olhando pra ela, matutando, coçando a cabeça, pensando se algum amigo meu tinha um machado, uma peixeira ou uma serra elétrica pra me emprestar. 

Tentei tudo, bati com martelo de carne e nada. Depois de uns 10 minutos, suando, perdendo a paciência e tentando abrir aquilo, tive a ideia de tacar ela no chão. Seria meu golpe final, minha última tentativa. Depois jogaria a toalha. Taquei com toda a minha força no chão do meu quintal. Fez um barulho ruim, parecendo que o chão tinha quebrado. Lembrei, então daquela cena tragicômica do esquilinho Scrat causando uma tragédia no filme A era do gelo com apenas uma avelã. Pensei no chão da minha casa inteira se rachando por causa de um cupuaçu e eu explicando isso pro meu marido. Mas consegui. Finalmente ele rachou. O bom é que eu emagreci um pouco nesse processo. Mas não, o cupuaçu não se entregaria tão fácil assim. Pra tirar a polpa foi outro sacrifício. Era grudenta, parecendo um pouco com a jaca. Não sai facilmente da semente. Tive que cortar com tesoura e daquela baita fruta, acabei ficando com só um pouquinho da polpa. Frustrante pra burro. Mas fiz o bendito mousse. Ficou ótimo e parecido com o da minha tia. Pensei com os meus botões. Nunca mais!  

Passado uns dois anos, estava assistindo um programa culinário do Olivier Anquier.  A receita que ele iria preparar era de uma tortinha de mousse de cupuaçu com ganache de chocolate.  Fiquei atenta assistindo pra descobrir qual técnica o Olivier iria fazer pra abrir a fruta. Pra minha surpresa, ele abriu dois pacotinhos de polpa congelada de cupuaçu, dessas que a gente compra facilmente no mercado, ferveu em fogo baixo pra evaporar um pouco a água, misturou outros poucos ingredientes e pronto. Fiquei pensando naquele dia fatídico, que apanhei tanto daquela fruta. Praticamente foi como o 7 X 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa: humilhante. E por que estou te contando tudo isso? Apenas porque queria compartilhar a receita da mousse para aqueles que gostam e querem tentar. Sem sacrifícios, sem luta, sem passar pelo o que eu passei. Sentiu o drama? Tudo facim facim.
Merci Olivier, palmas pra você!

Mousse de cupuaçu:
Ingredientes: 1 lata de leite condensado, 2 caixinhas de creme de leite, 1 envelope (12g) de gelatina incolor sem sabor e duas polpas de cupuaçu congeladas.

Como fazer:

 Abrir as duas polpas (comprei a da marca De Marchi) e ferver numa panelinha em fogo baixo pra evaporar o excesso de água. É rápido, não precisa deixar fervendo. São poucos minutos até virar um creme mais encorpado. Hidratar e dissolver a gelatina sem sabor conforme as instruções do verso do envelope. Recomendo passar por uma peneirinha antes de acrescentar no liquidificador para evitar possíveis pelotinhas de gelatina que não se dissolvem direito. Bater tudo no liquidificador e pronto. Distribua em taças bonitas ou num refratário. Deixe na geladeira umas três horas antes de servir.
Opcional: acrescentar uma camada de ganache de chocolate por cima fica muito bom também. Pode ser de chocolate ao leite ou meio amargo
A mousse fica com consistência firme. Se quiser mais cremoso e não tão firme, não use todo o envelope de gelatina e sim a metade (6g), no olhômetro mesmo.

Posso usar creme de leite sem lactose? 
Não sei, nunca fiz. 
Posso substituir o leite condensado por uma opção fitness e colocar leite de castanhas ou leite de coco? Não! Vai ficar uma porcaria! 
Posso substituir a gelatina por ágar ágar? Não! Tem coisas que só ficam boas com os ingredientes certos. Quer ser fitness? Coma uma maçã e uma folha de couve, não mousse de cupuaçu. Beijos!

quarta-feira, 20 de março de 2019

O cheiro e as lembranças


Lembrando da minha infância, me recordo de vários cheiros: da cera que era passada no chão de ardósia da casa onde morei, do cheiro maravilhoso de boneca nova, das Moranguinhos, dos Ursinhos Carinhosos. De como meu pai se banhava de perfume quando ia trabalhar e deixava o corredor todo por onde passava cheiroso. Do incenso que ele acendia na clínica, do maço de eucalipto que ele sempre comprava na feira e colocava num vaso pra perfumar a sala de espera. Até na carteira ele borrifava perfume e achávamos esquisito quando recebíamos a mesada e o dinheiro estava perfumado. Também gostava do cheiro de filhote de cachorro (um dos meus favoritos), de gasolina quando abastecíamos o carro, de esmalte e de carpete novo.  Lembro de alguns perfumes que eram muito requisitados pela meninada naquela época: Giovanna Baby, Thaty e Mamãe e Bebê. Também me lembro muito do cheiro de lenha queimando num acampamento que eu sempre ia nas férias, em Atibaia, pra galerinha conseguir tomar banho quente.

É impressionante o poder da memória olfativa e como os aromas nos fazem reviver experiências. Aquele cheirinho de bolo saindo do forno te faz lembrar, no mesmo segundo, da sua vó. Vem a cena na sua mente da cozinha, da voz dela e, quando você percebe, sua boca tá salivando.

E falando aqui de cheirinho de comida, os meus preferidos são: pão saindo do forno, café que acabou de ser feito, bolo, brigadeiro, qualquer doce com canela e churrasco. Amo, também, vários cheiros de festa caipira: da fogueira, de cachorro quente, milho cozido, amendoim, vinho quente e quentão. 




Saindo do universo culinário, outros cheirinhos que me encantam: de bebê ( mais especificamente o cheirinho de talco e do shampoo Johnson & Johnson), de couro, de madeira, de terra molhada, de chuva que vem vindo, de roupa nova ou recém lavada, de carro novo, de banho, de casa limpa, de livro novo.
Muitas empresas espertinhas resolveram investir nos aromas também, pra conquistarem seus clientes e criar uma maior identidade da marca. Por exemplo, Melissa e M. Martan.

Mas, infelizmente, essa vida não é feita só de cheiro bom, eu sei. Existe uma infinidade de cheiros desagradáveis que poderíamos nos debruçar aqui nesse texto. O mesmo bebê que falei dois parágrafos acima pode te bombardear com cheirinhos bem fétidos, não é mesmo? 


Tenho pavor de cheiro de perfume doce. Peço desculpas se você usa, gosto é gosto e temos que respeitar. Chego a ficar muito incomodada, querendo fugir o mais rápido possível de perto daquela pessoa. Parece que não consigo pensar em outra coisa, aquele cheiro intruso fica me perseguindo, invadindo meu nariz. E quando você está no carro acompanhada de uma pessoa dessa, é uma tortura. Outra situação desagradável é quando a pessoa que se banhou de perfume doce te cumprimenta com um beijo na bochecha, lugar bem próximo das tuas narinas, e aquele cheiro cola em você. Tenho até certa dificuldade de encontrar perfumes que gosto, mais suaves e cítricos. Percebo que não existem muitas opções. Uma vez comprei um perfume pela internet e me lasquei: tinha cheiro de flor de velório. Parecia que estava com uma coroa de flores enfiada no nariz.



E você? Qual aroma te faz reviver experiências? Que faz aquele link rápido com o cérebro, gerando boas recordações e lembranças?