Sempre fui cheia de manias. Seria eu uma maníaca? Não estou
falando de TOC, o transtorno obsessivo compulsivo. Esse, bem mais grave, sufoca
a pessoa e a impede de fazer suas tarefas cotidianas. Aquela neura de ir
quatrocentas vezes conferir se fechou a porta, se desligou o forno, lavar a mão
cinquenta vezes por dia, pular os riscos da calçada e coisas assim. Assisti um
filme espanhol chamado Toc Toc que retrata alguns pacientes com esse transtorno
na sala de espera de um médico. Eu ri, mas fiquei com dó ao mesmo tempo. Como
as pessoas sofrem com isso!
Mas veja, caro leitor, minhas
manias não chegam nesse patamar. Vou falar algumas aqui, com um certo receio
de, ao final do texto, você estar me achando a pessoa mais fresca e esquisita
do planeta. Tô nem aí! Sei que você também deve ter algumas ou um monte. Noventa
e nove por cento das minhas se concentram na hora de dormir: não pode ter
nenhuma luz acesa e nenhum mísero barulhinho no quarto. Lembro de dormir na
casa de algumas amigas, quando era pré-adolescente, que tinham no quarto
aqueles relógios com pilha, que me torturavam com aquele tic tac tic tac. Eu
enlouquecia!
Se ouvir um pernilongo dentro do quarto, acendo a luz e só
me dou por vencida depois de ter matado aquele fidumaégua que ficava dando
rasante no meu tímpano.
Só durmo de lado, o
travesseiro tem que ser alto, abraço outro daqueles compridos, vulgo Ricardão.
Ah! Não acabou! O lençol de cima tem que estar preso nos pés. Se noto que ele
soltou no meio da madrugada, levanto (sim, pode acreditar) e prendo novamente. Sempre cubro meu quadril e deixo os pés de
fora. Tiro os cabelos da nuca e coloco tudo pra cima. Odeio dormir com meias,
só se tiver quase nevando. Outra coisa: meu remedinho de nariz tem que estar no
criado mudo ao meu lado.
Outras manias me acompanham ao longo do dia. Quando vou
passar manteiga ou requeijão no pão, não deixo nem um centímetro sem lambuzar.
Várias vezes meu marido passou pra mim e foi reprovado no controle de
qualidade. Feijão? Sempre em cima do arroz. Se tiver uma banana à milanesa no
prato, deixo ela bem separadinha pois não gosto de misturar com arroz etc. Tenho,
também, pavor/nojo de ouvir o barulho dos outros comendo, mesmo de boca
fechada. Fiquei sabendo que isso tem nome: misofonia. Salgadinho crocante, biscoito
de polvilho, maçã, chiclete e outros me deixam bem irritada. Se tiver comendo
de boca aberta então, quase enfarto.
Recentemente, minha irmã, que várias vezes se queixou das
minhas manias, pois dormia no mesmo quarto que eu (ela nem vai ficar na fila do
céu. Vai ter fastpass por ter dormido comigo por anos), me disse que o
filho dela se parece muito comigo nesse quesito. Com apenas três anos, é cheio
das manias pra dormir. Coitada, pensei eu. Vai ter que aguentar mais isso
agora.
Já está achando que sou louca? Tem muito mais, veja só: continuo com a mania
de falar muito, de sempre andar com chicletes ou balas na bolsa, de ser pontual
(isso, hoje em dia, virou um defeito), de mandar muito áudio e ouvir logo após
ter enviado pra conferir como ficou horrível minha voz, de ver as horas antes
de dormir, fazendo as contas pra ver quanto tempo terei de sono até o despertador
tocar, de fungar o nariz, de começar a ler um livro sem ter terminado o outro, de
falar muita coisa com ironia e sarcasmo ( algumas pessoas mais inocentes não
entendem), de sempre prender o cabelo num rabo de cavalo, de dar risada de tudo
(mesmo que em situações impróprias para risada, como em velórios, por exemplo),
de falar com cachorros com voz de retardada.
Tenho mania de usar muitos
parênteses quando estou escrevendo um texto (sério, não consigo. Só até aqui,
usei meia dúzia), mania de reparar nos tiques e trejeitos dos outros, mania de
sempre ligar uma música quando entro no carro, mania de lixo reciclável. Saio
resgatando potinhos de iogurte lambuzado dentro do lixo orgânico aqui de casa,
irada com quem fez aquilo. Lavo tudo antes de jogar. Meu lixo reciclável é
asséptico. Eu ganharia nota 10 se tivesse um concurso de melhor lixo.
Mas vou parando por aqui pois tenho medo de ter mania de
escrever demais (não tenho dom para resumir ou sintetizar nada. E lá vai o
sétimo parêntesis).