Conheci esta fruta típica da região norte brasileira através
da minha irmã, que pediu um suco numa lanchonete aqui na minha cidade. Nunca
tinha ouvido falar. Experimentei, gostei, e achei bem diferente. Tinha um sabor
marcante e ácido. Passado algum tempo, fui passar uns dias na casa da minha tia
em Peruíbe e ela preparou uma mousse de cupuaçu. Todos amaram! Fui logo pedindo
a receita. Ela disse ter sido o meu tio que havia trazido a polpa pra ela de
Manaus. Fiquei doida pra fazer essa mousse mas percebi que era quase impossível
achar essa belezura amazônica aqui no interior de São Paulo. Um belo dia,
estava eu no Pão de Açúcar quando vejo uma fruta marrom, grande e pesada.
Curiosa, quis saber o que era aquilo. Meus olhinhos brilharam quando vi:
cupuaçu! Nada me impediria, agora, de fazer a mousse. Uma só fruta custava R$
10,00, mas beleza. Troquei por um rim meu e fui embora.
Foi então que começou
a minha luta pra abrir aquele trem. Percebi que era mais duro que um coco. Tentei
pegar a maior faca que eu tinha e dei um golpe fatal na fruta. Não fez nem
cócegas. Ela nem se abalou. O golpe só foi fatal pra coitada da faca, que quebrou
na hora. Fiquei ali olhando pra ela, matutando, coçando a cabeça, pensando se
algum amigo meu tinha um machado, uma peixeira ou uma serra elétrica pra me
emprestar.
Tentei tudo, bati com martelo de carne e nada. Depois de uns 10
minutos, suando, perdendo a paciência e tentando abrir aquilo, tive a ideia de
tacar ela no chão. Seria meu golpe final, minha última tentativa. Depois
jogaria a toalha. Taquei com toda a minha força no chão do meu quintal. Fez um
barulho ruim, parecendo que o chão tinha quebrado. Lembrei, então daquela cena
tragicômica do esquilinho Scrat causando uma tragédia no filme A era do gelo
com apenas uma avelã. Pensei no chão da minha casa inteira se rachando por
causa de um cupuaçu e eu explicando isso pro meu marido. Mas consegui. Finalmente
ele rachou. O bom é que eu emagreci um pouco nesse processo. Mas não, o cupuaçu
não se entregaria tão fácil assim. Pra tirar a polpa foi outro sacrifício. Era
grudenta, parecendo um pouco com a jaca. Não sai facilmente da semente. Tive
que cortar com tesoura e daquela baita fruta, acabei ficando com só um
pouquinho da polpa. Frustrante pra burro. Mas fiz o bendito mousse. Ficou ótimo
e parecido com o da minha tia. Pensei com os meus botões. Nunca mais!
Passado uns dois anos, estava assistindo um programa
culinário do Olivier Anquier. A receita
que ele iria preparar era de uma tortinha de mousse de cupuaçu com ganache de
chocolate. Fiquei atenta assistindo pra
descobrir qual técnica o Olivier iria fazer pra abrir a fruta. Pra minha
surpresa, ele abriu dois pacotinhos de polpa congelada de cupuaçu, dessas que a
gente compra facilmente no mercado, ferveu em fogo baixo pra evaporar um pouco
a água, misturou outros poucos ingredientes e pronto. Fiquei pensando naquele
dia fatídico, que apanhei tanto daquela fruta. Praticamente foi como o 7 X 1 da
Alemanha contra o Brasil na Copa: humilhante. E por que estou te contando tudo
isso? Apenas porque queria compartilhar a receita da mousse para aqueles que
gostam e querem tentar. Sem sacrifícios, sem luta, sem passar pelo o que eu
passei. Sentiu o drama? Tudo facim facim.
Merci Olivier, palmas pra você!
Mousse de cupuaçu:
Ingredientes: 1 lata de leite condensado, 2 caixinhas de
creme de leite, 1 envelope (12g) de gelatina incolor sem sabor e duas polpas de
cupuaçu congeladas.
Como fazer:
Opcional: acrescentar uma camada de ganache de chocolate por
cima fica muito bom também. Pode ser de chocolate ao leite ou meio amargo
A mousse fica com consistência firme. Se quiser mais cremoso
e não tão firme, não use todo o envelope de gelatina e sim a metade (6g), no olhômetro
mesmo.
Posso usar creme de leite sem lactose?
Não sei, nunca fiz.
Posso substituir o leite condensado por uma opção fitness e colocar leite de castanhas ou leite de coco? Não! Vai ficar uma porcaria!
Posso substituir a gelatina por ágar ágar? Não! Tem coisas que só ficam boas com os ingredientes certos. Quer ser fitness? Coma uma maçã e uma folha de couve, não mousse de cupuaçu. Beijos!