domingo, 7 de abril de 2019

A luta do século: eu e o cupuaçu



Conheci esta fruta típica da região norte brasileira através da minha irmã, que pediu um suco numa lanchonete aqui na minha cidade. Nunca tinha ouvido falar. Experimentei, gostei, e achei bem diferente. Tinha um sabor marcante e ácido. Passado algum tempo, fui passar uns dias na casa da minha tia em Peruíbe e ela preparou uma mousse de cupuaçu. Todos amaram! Fui logo pedindo a receita. Ela disse ter sido o meu tio que havia trazido a polpa pra ela de Manaus. Fiquei doida pra fazer essa mousse mas percebi que era quase impossível achar essa belezura amazônica aqui no interior de São Paulo. Um belo dia, estava eu no Pão de Açúcar quando vejo uma fruta marrom, grande e pesada. Curiosa, quis saber o que era aquilo. Meus olhinhos brilharam quando vi: cupuaçu! Nada me impediria, agora, de fazer a mousse. Uma só fruta custava R$ 10,00, mas beleza. Troquei por um rim meu e fui embora.

 Foi então que começou a minha luta pra abrir aquele trem. Percebi que era mais duro que um coco. Tentei pegar a maior faca que eu tinha e dei um golpe fatal na fruta. Não fez nem cócegas. Ela nem se abalou. O golpe só foi fatal pra coitada da faca, que quebrou na hora. Fiquei ali olhando pra ela, matutando, coçando a cabeça, pensando se algum amigo meu tinha um machado, uma peixeira ou uma serra elétrica pra me emprestar. 

Tentei tudo, bati com martelo de carne e nada. Depois de uns 10 minutos, suando, perdendo a paciência e tentando abrir aquilo, tive a ideia de tacar ela no chão. Seria meu golpe final, minha última tentativa. Depois jogaria a toalha. Taquei com toda a minha força no chão do meu quintal. Fez um barulho ruim, parecendo que o chão tinha quebrado. Lembrei, então daquela cena tragicômica do esquilinho Scrat causando uma tragédia no filme A era do gelo com apenas uma avelã. Pensei no chão da minha casa inteira se rachando por causa de um cupuaçu e eu explicando isso pro meu marido. Mas consegui. Finalmente ele rachou. O bom é que eu emagreci um pouco nesse processo. Mas não, o cupuaçu não se entregaria tão fácil assim. Pra tirar a polpa foi outro sacrifício. Era grudenta, parecendo um pouco com a jaca. Não sai facilmente da semente. Tive que cortar com tesoura e daquela baita fruta, acabei ficando com só um pouquinho da polpa. Frustrante pra burro. Mas fiz o bendito mousse. Ficou ótimo e parecido com o da minha tia. Pensei com os meus botões. Nunca mais!  

Passado uns dois anos, estava assistindo um programa culinário do Olivier Anquier.  A receita que ele iria preparar era de uma tortinha de mousse de cupuaçu com ganache de chocolate.  Fiquei atenta assistindo pra descobrir qual técnica o Olivier iria fazer pra abrir a fruta. Pra minha surpresa, ele abriu dois pacotinhos de polpa congelada de cupuaçu, dessas que a gente compra facilmente no mercado, ferveu em fogo baixo pra evaporar um pouco a água, misturou outros poucos ingredientes e pronto. Fiquei pensando naquele dia fatídico, que apanhei tanto daquela fruta. Praticamente foi como o 7 X 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa: humilhante. E por que estou te contando tudo isso? Apenas porque queria compartilhar a receita da mousse para aqueles que gostam e querem tentar. Sem sacrifícios, sem luta, sem passar pelo o que eu passei. Sentiu o drama? Tudo facim facim.
Merci Olivier, palmas pra você!

Mousse de cupuaçu:
Ingredientes: 1 lata de leite condensado, 2 caixinhas de creme de leite, 1 envelope (12g) de gelatina incolor sem sabor e duas polpas de cupuaçu congeladas.

Como fazer:

 Abrir as duas polpas (comprei a da marca De Marchi) e ferver numa panelinha em fogo baixo pra evaporar o excesso de água. É rápido, não precisa deixar fervendo. São poucos minutos até virar um creme mais encorpado. Hidratar e dissolver a gelatina sem sabor conforme as instruções do verso do envelope. Recomendo passar por uma peneirinha antes de acrescentar no liquidificador para evitar possíveis pelotinhas de gelatina que não se dissolvem direito. Bater tudo no liquidificador e pronto. Distribua em taças bonitas ou num refratário. Deixe na geladeira umas três horas antes de servir.
Opcional: acrescentar uma camada de ganache de chocolate por cima fica muito bom também. Pode ser de chocolate ao leite ou meio amargo
A mousse fica com consistência firme. Se quiser mais cremoso e não tão firme, não use todo o envelope de gelatina e sim a metade (6g), no olhômetro mesmo.

Posso usar creme de leite sem lactose? 
Não sei, nunca fiz. 
Posso substituir o leite condensado por uma opção fitness e colocar leite de castanhas ou leite de coco? Não! Vai ficar uma porcaria! 
Posso substituir a gelatina por ágar ágar? Não! Tem coisas que só ficam boas com os ingredientes certos. Quer ser fitness? Coma uma maçã e uma folha de couve, não mousse de cupuaçu. Beijos!