segunda-feira, 18 de julho de 2016

Quando eu for velhinha





Quando eu for velhinha

Já se imaginou velhinha? Você se imagina aquela vovó de cabelos brancos, tomando um chá de camomila, fazendo um casaco de crochê pra neta e procurando os óculos que estão pendurados por um cordão no seu próprio pescoço? Ou imagina que será aquela velhinha sarada, fazendo crossfit, viajando o mundo inteiro, após ter feito cinco tatuagens?

Essa semana meu filho de cinco anos me perguntou quantos anos eu tenho. Respondi que tenho trinta e cinco e, então, ele arregalou os olhos e disse: “Nossa, você é velha!”. Eu dei risada. Confesso que me assustei quando vi as primeiras rugas embaixo dos meus olhos. Apareceram de um dia para o outro. Do nada. Uma linha que só serve para acumular corretivo anti-olheiras. Vejo como o tempo está passando rápido só de estar falando isso. Você já viu algum menino ou moço falando: “Nossa! O tempo tá voando! Como passa rápido!” Não, eles não falam isso. Na igreja que frequento, vejo vários (as) adolescentes que vi quando eram bebês e até dei aula quando eram pequenininhos. Isso é estranho. Me seguro ao máximo pra não falar:” Como você cresceu!” Frase preferida das senhorinhas, logo depois de apertar as bochechas. Ou se não: ” Te conheci quando você estava na barriga da sua mãe.”. Também fiquei estarrecida quando soube que faz vinte e dois anos que o filme O Rei leão foi produzido. Como assim? Mas uma coisa tem me ajudado: na minha turma, quase todos já estão fazendo ou já fizeram quarentão. Então eles me acham novinha, entendeu?

Agora deixe-me apresentar uma pessoa a vocês: tia Dilza mora em Londrina, é viúva de um tio da minha mãe, não teve filhos. Numa das vezes em que veio nos visitar, sentei ao seu lado e só fiquei observando. Ela devia ter uns setentinta já e eu nove. Cabelos loiros estilo Hebe, alta, de batom. Toda arrumada, unhas impecavelmente pintadas, moderna, animada e divertida. Todo mundo ficava feliz ao seu lado. Ela tinha esse poder: de alegrar o ambiente e o papo era sempre gostoso. Nunca a vi reclamando de dores na coluna ou no joelho, do tempo, se estava muito frio ou muito calor, de reumatismo ou quaisquer outros problemas da velhice. Fui prestar vestibular em Londrina e tive o privilégio de me hospedar no apartamento dela. Não passei no vestibular, mas pude admirar essa senhora da hora mais uma vez. Até a cirurgia de retirada da mama ela me contou de um jeito leve e engraçado: “Quando acordei depois da cirurgia e vi aquele enfermeiro lindo na minha frente, pensei que tinha morrido e estava no paraíso!”. Reparei que os sobrinhos e demais parentes não a chamavam pelo nome e sim de tia criança. E entendi perfeitamente o porquê.

E foi então que a tia Dilza virou referência pra mim de como eu quero ser quando for velhinha. Se é que dá pra gente escolher essas coisas. Mesmo se eu começar a esquecer onde deixei a chave do carro, o nome dos filmes e o protagonista (essas coisas eu já faço, por obséquio), quero continuar sendo tonta, contando piada, rindo de mim mesma e falando besteira até o fim. Não estou querendo dizer, também, que vou ser aquela velha que sai por aí de saia curta, falando só gírias, na moral? Que resolve viver todas as aventuras que não teve tempo ou oportunidade. Só quero ser uma velhinha agradável, e de bem com a vida. Não quero olhar feio para as criancinhas barulhentas e bagunceiras. Nem acordar às seis da manhã pra varrer a calçada. E me nego a usar aquele típico cardigã longo com botõezinhos. Se caso estiver usando, já estarei com Alzheimer, sem poder nenhum de escolha, sendo vestida pela cuidadora, provavelmente.
 Quero sair com as amigas, passear com o marido, me divertir, ver bons filmes, viajar, ler bons livros e curtir um pouco da vida, mesmo que restar pouco tempo. Mesmo que eu tenha que levar a bengala junto. Mesmo que a cruel gravidade tenha me deixado igual a um maracujá de gaveta.

 Mas me diga: qual velhinha (o) é referência pra você? Tenho vários outros: meu avô Aldo, Seu Nilson Zanella, Seu Acácio etc.

E se eu estiver com dor, dentadura, incontinência urinária, pressão alta e diabetes, sendo obrigada a tomar vinte remédios por dia, pretendo disfarçar muito bem. Igual à tia Dilza.