sábado, 27 de agosto de 2016

Sabão em pó

Indo comprar sabão em pó, no mercado:

“Nossa, Nutella por R$13,99? Uhull! Vou pegar uma, pra aproveitar a promoção. Olha, que milho bonito! Vou fazer milho cozido pras crianças hoje, elas amam. Uau! Filet mignon por R$29,90 o kilo? Compensa, vou fazer estrogonofe. Ai, droga, será que vai caber no meu freezer? Vou arriscar. Pronto, agora é só pegar o sabão em pó.
 Oba, ainda bem que passei na frente do papel higiênico, acho que está acabando lá em casa. Um pacote tá bom. Fralda!! Tenho dois chás de bebê pra ir esses dias. Já vou levar dois pacotes. Own, olha esse shampoo do Cebolinha, que coisa mais fofa! Deixa eu cheirar...Ótimo!


 Maçã Fuji, hummm, vou comprar. Cadê o bendito saquinho dos legumes? Aqui, achei. Iogurte novo de banana caramelada? Ué? Nunca vi esse nas propagandas. Vou levar dois pra experimentar. Bolinho para as crianças levarem na escola, Yakult também. Hummm, essa massa que esse supermercado faz é uma beleza. Sempre bom para aqueles dias que não tem nada para jantar.

 Guardanapo! Acho que estou sem, vou levar. Olha, papel alumínio. Estou precisando. E pó royal? Será que o meu está bom ainda? Melhor levar. E esse sabonete novo? Que cheiro bom! Coca cola, sempre bom ter uma de reserva. Eba, esse chocolate é sensacional! Vou atacá-lo hoje mesmo. Tomate, para a salada, vou pegar meia dúzia e pronto.


 Passo no caixa. Sim, quero pôr CPF. No débito, por favor. Coloco as compras no carro e chego em casa com aquele monte de sacola. A minha fiel funcionária olha pra mim, estendendo a mão na minha direção, e diz: “Já me dá o sabão em pó, pois estou colocando roupas na máquina.” E eu: “Sabão em pó? Ops!”.  Quem nunca?

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

 A atleta chinesa, esfomeada, aguardava sua vez na fila do refeitório. Ficou vermelha de tanta raiva, quando viu que a americana, que estava à sua frente, havia pegado o último rolinho primavera disponível. "Droga! Como ela se atreveu?"  Afinal, foi o seu povo que inventou essa iguaria da culinária chinesa. Mas ela não estava a fim de ficar esperando a cozinheira repor os rolinhos. Ela só queria sentar, pois estava com muita dor na perna, em razão dos treinos pesados que havia enfrentado pela manhã. Sem querer querendo, esbarrou na americana, enquanto essa enchia seu copo de refrigerante, deixando-a ensopada de Coca Cola. “Oh, sóri”, tentou pedir desculpa.

O iraniano, sentado na mesa ao lado, revirou os olhos ao ver que o israelense estava tirando a quadragésima selfie em duas horas. Levantou-se da cadeira e pisou sem querer no pé do colega narcisista.

Enquanto isso, o segundo melhor lutador de peso leve das Américas chorava por ver a revolta de seu técnico e pai ao mesmo tempo, que não parava de praguejar contra a arbitragem que roubara na derrota do seu filho. O pai queria apenas conhecer o Cristo Redentor antes de voltar pro seu país, mas nenhuma paisagem da cidade maravilhosa iria aliviar o gosto amargo de ver seu filho perdendo injustamente. “Se as Olimpíadas fossem, ao menos, num país mais decente, você estaria indo embora com uma medalha”- disse para o filho.

O jogador de vôlei sul-coreano não se conformava com a falta de educação do norte-coreano que havia roubado seu lugar na fila do Mc Donald’s, enquanto ele tirava uma foto do mascote Vinícius que estava passando por ali.

No salão de beleza da Vila Olímpica, o egípcio desistiu de esperar pra cortar o cabelo, quando constatou que um israelense estava sentado ao seu lado e eles teriam que ficar se olhando no espelho por vinte minutos.

A equipe de natação brasileira fez uma festinha no quarto com seus novos amigos, mas se recusaram a convidar um argentino, que um dos convidados queria levar. Fizeram até uma plaquinha improvisada na parede: “Proibida a entrada de Argentinos”.

A ginasta americana se enfureceu quando percebeu que sua companheira de quarto estava aos beijos com um judoca norte-coreano. Mas, pelo WhatsApp contou tudo para o seu técnico, que disse que pensaria na punição futura que daria para a infratora.

A trinta metros dali, o corredor cubano passou rindo da cara do seu rival americano, esbanjando sua vitória e os trinta centímetros que tinha chegado adiantado na corrida que o classificou pra final.

Meia hora depois, o judoca saudita pisou três vezes, sem querer, no pé do moço ao lado, que estava com um boné com a bandeira de Israel.

E assim, nesse mesmo dia, o jornal mais lido e respeitado do Brasil, estampava na primeira página a seguinte frase, que alguém importante havia dito: O que mais impressiona são a cordialidade e o espírito olímpico unindo atletas de todos os povos! Lindo de se ver! O esporte une as pessoas e aflora o que eles têm de melhor”.


Se está no jornal, deve ser verdade...