domingo, 11 de novembro de 2018

A casa da Antônio Garcia



Existe uma música em inglês chamada “A casa que me construiu.” A letra diz sobre uma casa onde a cantora viveu por muitos anos, o carinho que ela tinha por aquele lugar e por tantos momentos bons que ela passou enquanto cresceu e morou lá.
Eu vivi, desde que nasci, até o dia do meu casamento na mesma casa. A da Rua Antônio Garcia. E posso dizer, como a cantora, que passei por momentos incríveis lá e tenho um carinho monstruoso por ela. 

O fato é que a casa foi vendida. Não é mais nossa. Desde então, já foi uma república, uma empresa de engenharia florestal e agora, um restaurante vegetariano. Dia desses eu estava andando por ali e vi que o portão estava aberto. Entrei, comecei a olhar e tirar foto pra minha família ver como estava agora, as modificações que foram feitas. Dei de cara com uma mulher com um bebê de colo. Ela e o marido são os donos atuais da casa. Metade pra frente é restaurante e metade pra trás são os quartos.
Disse que morei ali a vida inteira. Ela fez uma cara de “Ah tá, legal hein?!” 

Mas eu queria ter dito também que foi ali que tive o amor e o afeto de meus pais e irmãos por quase vinte anos. Das longas conversas com minha irmã antes de dormir no nosso quarto. Dos vários cachorros e gatinhos, periquito, passarinho e papagaio que passaram por lá. Que eu e meus irmãos brigávamos e tirávamos a sorte no palito pra ver quem dormiria na cama de casal com minha mãe, nos dias que meu pai dava plantão. Só no quarto dela tinha ar condicionado e amávamos a luzinha do videocassete. Queria contar pra ela de quando minha mãe fez a cozinha planejada e ficou do jeitinho que ela queria.
Quis contar, também, que eu fazia a maior lambança no banheiro do meio, quando enchia a banheira e derramava boa parte da água e espuma no chão. E que a parte dos quartos do fundo da casa foi construída depois. Lembro dos meses da reforma em que eu ficava pentelhando os pedreiros, principalmente o Severino.

Quis contar pra ela que ali recebi muitos familiares e amigos, brinquei até não poder mais. Subi no telhado com minha melhor amiga. Curti festinhas de aniversário na sala ou na garagem, dançando Xuxa ou lambada (Se você lembra da música “Chorando se foi”, está ficando velho).

Queria dizer que ali, onde agora está o buffet de alimentos para os clientes se servirem foi o mesmo local onde eu desfilava em frente ao sofá, com uns 8 anos de idade, ao som de Marina Lima, ou tentava dançar, toda atrapalhada, a música tema do filme Dirty Dancing. Que era ali que meu pai ouvia ópera no último volume aos domingos de manhã, lendo jornal ou Veja. Que foi ali naquela sala que eu ouvi o vizinho, um senhorzinho frágil bem de idade, despencar do telhado violentamente. Mas ele sobreviveu e assim como o leite, teve longa vida, pois até pouco tempo atrás, o vi fazendo caminhadas pela Av. Getúlio Vargas. 

Nem sei se ela se importaria se eu dissesse que foi ali na frente, na calçada, que eu dei meu primeiro beijo, morrendo de medo dos meus pais chegarem. Também fiquei com vontade de contar que eu era mega medrosa e odiava ficar sozinha na casa. Deve ter sido trauma do episódio do ladrão que estava lá dentro e deu de cara com minha mãe chegando do mercado. Nunca esquecerei o grito que ela deu.

Quis falar das vezes que eu ajudei a enfeitar a casa pro natal. Da ansiedade que eu ficava esperando meu namorado e atual marido me buscar pra gente sair. Das broncas que levei, dos amigos que chamei. Do som que vinha do rádio ligado (Jovem Auri Verde) que a Conceição, nossa funcionária durante muitos anos, ouvia o dia inteiro. Do cheiro de comida gostosa que ela ou minha mãe preparava. 

E no quintal? Um dia acordamos e constatamos que nossa cadela Rebeca tinha dado filhotes ali, sem que nem desconfiássemos que ela estava prenha do Roger, o coitado do cão que havia sido vítima de uma apertada cruel nos testículos (se quiserem saber mais informações desse triste episódio na vida do Roger ler a crônica “Meu querido cão Fred”). No mesmo quintal havia duas árvores: um abacateiro e outra árvore alta que por uns 15 anos nunca deu fruta nenhuma. De repente, assim, do nada, ela resolveu dar uma fruta esquisita, diferente, cor de rosa. Descobrimos que era lichia, numa época que não era vendida ainda nos supermercados da minha cidade. Muitos nem conheciam. Enchíamos sacos gigantes de lixo de tanta lichia que tínhamos.

Mas a casa começou a ficar grande demais depois que meus irmãos foram embora fazer faculdade. Ficaram apenas eu, minha mãe e meu avô, que pintava seus lindos quadros no quintal.
Como acontece com toda casa, com os anos, precisávamos fazer vários consertos, pintar aqui, arrumar ali. Muita manutenção e um baita trabalhão pra limpar. Mas não são só as casas, querido leitor. Nós também precisamos de consertos. Estamos sempre em reforma. Pelo menos, deveríamos estar.

O que eu sei é que aquela moça não entenderia ali, naquele momento, a importância que essa casa teve pra mim e pra minha família. E que essas lembranças ninguém pode tirar de mim ( a não ser um AVC ou Alzheimer, ladrões de lembranças). Como é estranho, de um dia pro outro ver aquele local, que pra você foi tão importante e habita boa parte de suas lembranças de infância e adolescência, ser de pessoas estranhas! Mas espero que elas sejam tão felizes quanto eu fui lá.  Pois sei que as paredes, o chão, os móveis não são mágicos. O que fez aquele local ser tão importante pra mim são as pessoas que viviam dentro dela.

A casa da Antônio Garcia ainda está lá. Os muros estão no mesmo lugar, a mesma disposição dos cômodos, o pinheiro na garagem. Mas não sei se tem ainda lichia ou abacate. Sempre dou uma espiada quando passo em frente e mostro, com orgulho, para meus filhos a casa onde vivi boa parte da minha vida. O posto de gasolina ainda existe, na avenida ao lado. A padaria também. Na calçada, o chorão. E as lembranças aqui, no coração.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Modelo de declaração de amor






Muitos têm dificuldades em preparar uma declaração de amor decente para o amado(a). Foi pensando em ajudar minha sobrinha, prestes a se casar, que escrevi essa declaração de amor tão bela, romântica e elegante. Passo o modelo adiante, a fim de tentar contribuir com os apaixonados sem dom nenhum pra produzir uma declaração de tirar o fôlego. De nada. E desculpa sobrinha. Te amo.


Meu amado,
Como foi mágico o momento em que nos conhecemos. Você me viu pela primeira vez na calçada e disse: “ Uau! Não sabia que flor nascia no alfalto?!”. Fiquei encantada. 
Depois de uns dias te mandei um Whatsapp, onde escrevi: “Fica comigo, que te faço esquecer a Joana. E você perguntou: “Que Joana?”. Eu respondi: “ Viu? Até já esqueceu!”

Foi então que nossa história de amor começou. Você deve pagar muitas multas por excesso de velocidade pois chegou muito rápido no meu coração. Você não é o Facebook mas eu amo te curtir. Só não quero te compartilhar. Também não é o Google mas tem tudo o que estou procurando.
Perto de você sou igual um miojo: fervo em três minutos. Se você fosse um refrigerante seria uma soda pois no meu coração SODA você.

Toda vez que estou com você sinto cheiro de tinta pois sempre acaba pintando um clima. Se você fosse um tempo verbal, seria o pretérito mais que perfeito. Você não é pescoço, mas mexe com minha cabeça. Também não é a capital de Roraima, mas é uma Boa vista.Você não é uma lente mas sempre manteremos contato.

Me chama de cadarço que eu estou amarradona em você. Ou me chama de Buzz Lightyear, que eu te levo ao infinito e além. 
Meu amor por você é como obra do governo: não acaba nunca! Se você fosse um peido, eu não te soltava jamais!

 Eu não trabalho nos Correios, mas vou te encher de selinhos.

Agora que vamos nos casar, prometo ser como as Casas Bahia: dedicação total a você! Não sou cimento, mas agora teremos algo concreto. Sim! O grande dia chegou!

Não seremos absorventes, mas seremos mais íntimos e estou muito feliz por isso. Me chama de sofá e perde o controle comigo.

Você é o ovo que faltava na minha marmita. Nem tenho asma, mas quando te vejo fico com falta de ar. Você é dólar ou euro porque real não pode ser!

Existe Star Wars ou Star Trek mas eu só quero Star com você. Você coisou o meu coração de um jeito tão fofo...
Pra você virar um bombom só falta a valsa, pois o sonho você já é. Como um GPS, você me levou para o caminho certo do seu coração. Que nosso amor seja como as pilhas alcalinas, que duram muito mais que as outras.

Sempre te amarei.



terça-feira, 7 de agosto de 2018

Virando uma pinguim


Meu caçula me disse, um tempo atrás, que o maior sonho dele era ir para o Polo Norte pois queria muito fazer um boneco de neve. A partir de então comecei a pensar numa viagem na qual meus filhos pudessem conhecer a neve, mas num lugar um pouco mais perto. E deu certo. Melhor ainda, com amigos queridos juntos. Acabo de voltar de Bariloche, onde pude desfrutar de algumas primeiras vezes na minha vida. Primeira vez que tomei sorvete de maçã. Que fiz um passeio de 4X4. Que usei raquetes nos pés, que dirigi um quadriciclo, que fiz skibunda na neve.

Percebi, também, como dá trabalho vestir roupas apropriadas para a neve. Para uma bauruense que está acostumada com 30 graus Celsius pra cima, o frio intenso dá um certo medo. Então começa uma megaoperação: são várias e várias peças de roupa: a meia calça, o top, a segunda pele térmica, outra malha, o casaco impermeável, a calça, duas meias, saquinho de plástico pra não entrar neve na bota, cachecol, luvas, gorro. Aí quando você termina tudo, percebe que é melhor fazer xixi no hotel, antes de ficar procurando um banheiro no meio das montanhas brancas de neve. Sim, devia ter feito antes, eu sei. Então, começa a arrumar seus dois filhos. Quando termina tudo percebe que está suando. O hotel tem um sistema de calefação potente. Me arrependi, aliás, de não ter levado algumas peças de roupa de calor.

Foi lá que conheci os remis, que são como táxis, porém você já combina o valor da corrida antes de partir para o passeio. Foi lá que encontrei tantos brasileiros que entendi o porquê de Bariloche ter sido apelidado como Brasiloche, com toda a razão. Foi lá que andei muitas e muitas vezes de teleférico, que vi paisagens incríveis, todas com aquelas montanhas com picos nevados ao fundo e um lago sensacional azulado, que praticamente podemos ver da cidade toda. As crianças não estavam nem aí pra vista. A única coisa que elas queriam era um bom tanto de neve acumulada pra brincar, fazer boneco ou guerrinha de neve. Não interessava se ia ter fondue de chocolate, se iríamos ver uma das vistas mais lindas do mundo, se íamos andar de teleférico, 4X4 ou o escambal. Estavam se lixando pra tudo isso. Mas, na cidade de Bariloche não tinha neve acumulada, somente se subíssemos os morros (cerros, em espanhol).

Foi lá que fiz vários xixis sem lavar as mãos depois. Era impossível. A água da torneira parecia que estava vindo direto de um iceberg. Só quando chegava no hotel conseguia lavar com água compatível com a temperatura de vida habitável no planeta. Descobrimos que uma guerrinha de neve é legal e inofensiva, com exceção de quando te acertam na nuca e a neve vai entrando pelas costas, descendo até a bunda. Aconteceu com minha amiga. Achei que ela estava tendo uma convulsão na hora, mas só estava tentando tirar a neve.

Conheci palavras em espanhol muito simpáticas: como huevos revueltos (ovos mexidos), peluqueria, que pra mim, mais parece uma loja de peruca mas era somente salões de cabeleireiros. Tinha muitos sanatórios pela cidade. Pensei se lá haveria tantos loucos assim, mas depois descobrimos que sanatórios eram clínicas ou hospitais. O que eu mais falava era "Ola, que tal?" e "gracias". Mas meu maridão mandou super bem com as aulas de espanhol que fez um tempo atrás.

Lá enfrentei a maior alternância de frio/ calor na minha vida. Tira o gorro, põe o gorro, tira a luva, põe a luva. Isso 20X por dia. Dentro das lojas, cafeterias, refúgios e hotel era tudo bem quentinho, abria a porta pra ir embora? Um gelo. Foi lá que eu vi que fazer um boneco de neve não é tão fácil assim. Mas eles fizeram. Sonho realizado.
Tirando a parte do avião, que é necessária, foi tudo muito bom e inesquecível. O desafio era não comprar as fotos caras que os fotógrafos tiravam nos parques. Como escolher? Sou louca por fotos! Não entrava na minha cabeça que alguém iria deletar aquilo assim que eu decidisse não comprar. Isso que a gente fica tão encapotado de roupas que mal dava pra reconhecer meus filhos nas fotos. Sério! Só os olhos ficavam descobertos. Poderiam colocar um dublê com óculos, capacete, gorro e um casacão dizendo que era meu filho que eu acreditaria na hora.

Foi lá que fiquei perdida com os pesos e tinha que dividir tudo o que via pra comprar por sete, pra ter noção de quanto custava aquilo em reais. Foi lá que comprei chás diferentes dos daqui: de chocolate, de caramelo, de doce de leite( sim, acredite!) e de rosa mosqueta.

Foi lá que dei um beijo pela primeira vez numa linda cachorra da raça São Bernardo, chamada Alma. E foi lá que vi o céu e as nuvens mais incríveis da minha vida. Uma paisagem mais linda que a outra. 

Meu novo desafio agora é fazer secar as muitas roupas sujas da família toda nesses dias tão chuvosos por aqui. Mas muito feliz e grata a Deus pela experiência. Recomendo. Fabricamos ótimas lembranças na mente dos meus filhotes e muitos sorrisos. Pretendo voltar pra tentar esquiar e conhecer outros lugares que não conseguimos ir por causa das crianças. E que venham mais sonhos pela frente, mais bonecos de neve, chocolate quente e nuvens incríveis.

















quarta-feira, 4 de julho de 2018

Sinais de amadurecimento (pra não dizer envelhecimento) aos 37



Se você calcula que vai viver uns 80 anos, chegando perto dos 40 estamos no fim do primeiro tempo, correto? É a minha situação no momento atual. Porque 37 é praticamente 40. Ta aí já. Até, inclusive, tenho reparado em vários sinais de velhice que estão aparecendo aqui e ali.

Por exemplo, quando percebo que a primeira coisa que eu quero fazer quando chego num lugar é sentar. Uma passeadinha no shopping, em pé por uma hora, já começa a cansar e a gente dá a desculpa de sentar pra tomar um café ou suco. Sede que nada! São seus quadris já  implorando por uma cadeira, a sapatilha já está incomodando, os pés doendo, entendeu?

Reparei também, que de um dia para o outro comecei a me interessar por plantas. Acho preocupante, sabe por quê? Velhas amam plantas. Morro de medo de sair roubando mudas da casa dos outros* e ver, de repente, que tenho 125 vasos na minha casa, como minha mãe. Pode ver que jovens não estão nem aí pras plantas. Malemá eles sabem reconhecer o que é uma violeta, uma orquídea, uma margarida ou uma rosa. Mas eu comecei fazendo um terrário aqui, outro ali. Num dia estava no Ceasa comprando plantas, perguntando “Qual o nome daquela ali? Ela gosta mais de sol ou de sombras.” E, de repente, você se vê apaixonada por suculentas, conhece várias plantas pelo nome como ecsórias, calandivas, Kalanchoes, jiboia, columeia, peixinho, pata de elefante, cyca, alpínias, bromélias etc.

Outro fato: estava eu fazendo academia e começou a tocar uma seleção de músicas retrô dos anos 80 e 90. Eu amei! Eram todas da minha época. Ficava cantando junto, baixinho. E sabe por que eu estava na academia? Pra fortalecer meu joelho, que sofreu uma lesão de um dos ligamentos. Viu? Envelhecimento. As coisas ( e os joelhos) não duram pra sempre. Até que gostei dessa academia. Só vai um pessoal mais velho, tudo lesionado, papo cabeça, sem nenhum bombadão querendo mostrar os bíceps. Sem desfile de piriguetes.

Pode reparar: quem passa dos trinta começa a se preocupar com colesterol, a fazer mamografia e dar uma passadinha na farmácia 3x por semana. A nécessaire das viagens começa a ter cada vez mais remédios, antiácidos, inclusive o sublingual pra dormir que você teve que começar a usar, pois os olhos resolvem não fechar e você não consegue mais nanar como antigamente. Levantou pra fazer xixi às 3 da madruga? O cérebro começa a dançar Macarena do nada e pensar em mil coisas irrelevantes e ridículas.  
Com a nova fase enta chegando perto, você começa a pensar 20X antes de chamar casais com crianças pequenas pra vir jantar na sua casa. Me deixe explicar antes que você pense que sou uma bruxa: meu caçula já é barulhento. Juntando com outras crianças, imagine o que vira o jantar? Ninguém consegue conversar uma frase sequer. E convenhamos: filhos são como peido. Você é obrigado a aguentar os seus. O dos outros não. Amo essa frase. Palmas para quem a inventou.

Uma coisa boa que acontece (Ufa, existem coisas boas também! Glória Senhor!) é que você passa a identificar quais programas são de índio ou barca furada. É uma belezinha.** 
Você começa a ficar com preguiça de discutir com gente chata e vê que a vida é bem melhor assim.
E tem mais: Você começa a amar o silêncio, a escolher restaurantes que são mais tranquilos, sem muita poluição sonora, sem badalação. Festas infantis te dão arrepios. O programa que você mais gosta de fazer, é sentar com os amigos, comer e conversar por horas, dando risada, claro. Agora deem uma olhada nisso: esses dias convidei duas amigas pra virem em casa numa noite fria pra jantarmos e batermos papo. Sabe o que comemos? Sopa de abóbora***! E elas amaram! (ou fingiram muito bem). Sabe quantos jovens se reúnem em casa pra comer sopa de abóbora? Nenhum! Eles fazem hambúrguer, miojo, brigadeiro, pedem pizza, qualquer coisa.
Seu coração, agora, palpita de alegria quando vê uma pia sem louça nenhuma e você começa a pegar um monte de receitas, dá print, copia, salva no celular. Mas faz alguma? Nananinanão. Começa a fazer previdência, a pensar em seguro de vida. Percebe que prefere morrer a ir numa montanha russa. Não curte mais música eletrônica e passa a ouvir opções mais tranquilas, acústicos etc. Você percebe que o último pulo tipo “bomba” que você deu numa piscina faz mais de trinta anos.

Outra coisa; cheguei numa idade que não estou mais nem aí se minha calcinha é bonita. Uso, atualmente a mais brochante do universo. Depois de passar mais de três décadas me incomodando com os modelos de calcinha que só foram feitos pra entrar no bumbum (tenho pavor), encontrei uma opção que é o paraíso. Não marca também. Um conforto só. Isso é qualidade de vida! Hoje sou muito mais feliz!

Do nada, o filho que você pariu esses dias atrás está calçando 42 e pensando em namorar. E ainda ri da sua cara quando você diz “recreio” pois hoje em dia não se fala mais assim. É intervalo.
O tempo passa a correr na velocidade da luz e você nem sabe mais quantos anos está fazendo no seu aniversário. O corretivo de olheiras começa a acabar mais rápido, pois cada vez, passo mais pra sair um pouco apresentável e não assustar as pessoas na rua.

Assistindo um dos jogos do Brasil na Copa, falei algo sobre o jogador Bebeto pra uma sobrinha que estava ao meu lado. Ela é advogada já, uma adulta. Está pra casar. Sabe o que ela disse: “Bebeto? Não sei quem é.” Então eu me toquei que ela era uma bebê enquanto eu torcia fervorosamente pelo Bebeto, na Copa de 1994. Aliás, você começa a perceber que está ficando velha pelo tanto de Copas do mundo que já viveu.

Amadurecer, porém, tem muitas vantagens. E não posso reclamar: ainda não tenho reumatismo (devo ter, mas não sinto os sintomas, pelo menos) e não consigo sentir se o chão está gelado quando tiro o sutiã. Também tenho raríssimos cabelos brancos. Mas vou me preocupar mesmo quando estiver acordando bem cedo pra varrer a calçada, de meias e sandálias. 

Esses dias li uma frase no Facebook que dizia: “Pior que envelhecer é não se tornar alguém melhor”. Então, vamos lá. A tarefa é árdua. Bora envelhecer minha gente! É isso ou isso, se você não quer morrer jovem.

* Toda velha faz isso. Se você nunca viu, cuidado! Pode ser sua mãe ou sua vó.
**Quem fala "belezinha" já tá ficando velha(o). Pode ter certeza. Jovens não falam essa palavra.
***Tudo bem que não era uma simples sopa de abóbora. E de fitness ela não tinha nada pois coloquei várias coisas gordas nela como calabresa, bacon, gorgonzola, creme de leite. Se quiser te passo a receita. Ops, passar receita é sinal de velhice.

domingo, 17 de junho de 2018

A morte da balança



Eu sei que vocês estão preocupados com o jogo do Brasil e tal mas aí vai um textinho ( ou seja, um testículo). 

Hoje fui me pesar e percebi que a balança havia morrido. Não apareceu nenhum numerinho infeliz ali no visor. É com pesar que lhes digo que não pude me pesar. Acho que ela morreu de desgosto ou rejeição, afinal, nunca foi amada e valorizada por nossa família. Sempre esquecida debaixo da pia do banheiro, era pisada por todos. E quando era pisada os habitantes da casa sempre saíam um pouco tristes, cabisbaixos, com cara de decepção. Confesso, queridos leitores, que ao perceber a ausência de algoritmo ali, me deu uma certa alegria, sabem? Viver na ignorância, às vezes, é uma delícia. Os números, muitas vezes, são cruéis e sinceros demais. E assim, me entupirei de salame, amendoim, salgadinho, queijo e todos os petiscos de copa do mundo sem saber se engordei ou não. Sem peso na consciência. Porque ninguém serve uma saladinha de chia com linhaça com suco verde nos jogos, já notaram? Depois da Copa eu compro outra balança. Aí a gente corre atrás do prejuízo.

 Descanse em paz pobre balança. RIP

sábado, 19 de maio de 2018

Quando me apaixonei pelo Thor


 Não caro leitor. Não se trata daquele deus grego de cabelos loiros e abdômen extremamente definido que está no auge da fama. No meu caso se trata de outro gato, mas gato literalmente, animal, felino. Estava entrando em casa, há dois meses, quando vi um gato miando perto de mim. Não era um gato qualquer. Era O gato: bonitão, cinza e branco, peludo (persa), gordinho, olhos amarelos. Logo ele veio e passou o rabo nas minhas pernas. Fiz carinho e ele amou, pediu mais. Abri a porta de casa e ele entrou correndo. Pensei “ E agora? Qual vai ser a reação dos meus filhos, do meu cão idoso e do meu marido?”  O que toda pessoa de bom coração faz quando vê um gato lindo miando sem parar? Dá um leitinho! Coloquei uma caixa de papelão na frente de casa e disse boa noite. Nos dias que se passaram, o gato bonitão voltou várias vezes. A vizinha me disse que ele se chamava Thor, era de uma moradora do quarteirão da frente e que vivia passeando na casa dos outros.


Meu marido não curtiu tanto quanto eu no começo. Disse que não gostava muito de gato. Mas, aos poucos, abria a porta, colocava leite para ele, fazia carinho e admitiu que o gato era muito bonito. Começou a chama-lo de gaTHOR e dizia que ele era folGATO. Fez algumas  piadinhas para alegrar as crianças tipo: “Qual o chocolate que o Thor mais gosta? THORtuguita. E a comida preferida dele? THORta. Um dia colocamos algumas balas de menta perto dele e dissemos que ele estava aTHORmentado. Ok, desculpe por isso.

Como ele passou a vir pra minha casa vários dias seguidos e passar um bom tempo aqui (inclusive dormiu algumas noites), decidi avisar a dona dele através de mensagem no Messenger. Me apresentei. Disse a ela que não queria que se preocupasse com ele. Quando ele sumisse de lá, estaria em casa, sem problema nenhum pra nós. Ela agradeceu, foi muito simpática e explicou que havia ganhado outro gato filhote recentemente, o que deixou o Thor meio enciumado ( ou aTHORmentado?) fazendo com que ele ficasse muito tempo pra fora de casa.

Bom, você já deve imaginar que eu me apaixonei. As crianças também. Meu cão, no auge de sua velhice (16 anos), nem deu bola para o novo integrante felino. O gato era totalmente manso, carinhoso, fofo, folgado e mimado. Deixava pegar no colo, dormia na mesma hora em que você começasse um cafuné. Ficamos muito amigos. Ele vinha nos visitar todo dia. Miava na porta, ficava um tempo, dormia em cima da minha barriga, se espreguiçava todo, tomava um leitinho e pedia pra ir embora, miando perto da porta. 

Tenho alergia de gato mas até que não tive grandes crises. Com o passar dos dias, o uso daquele  rolinho tira-pelos começou a ser mais frequente. Meu marido apareceu com um brinquedinho de gato que comprou num pet shop e meu celular passou a ficar lotado de fotos e vídeos do Thor. Nossa casa foi invadida por pelos, miados e muita fofurice.

Mas, querido leitor, as coisas não são tão fáceis assim. Toda história tem seu momento de crise e chegou a hora. Depois de dois meses desse caso proibido, quando estava pensando em propor para a dona uma guarda compartilhada, recebi uma dura notícia: a família à qual o Thor pertencia não ficaria muito tempo por aqui. Estavam para se mudar para Turquia ou Itália, ainda não estava decidido. Confesso que fiquei muito, muito desapontada. Lógico que mandei mensagem, na maior cara de pau, pedindo o gato pra ela, caso não fosse leva-lo.

 Perderei meu amigão visitante? Quem vai dormir ronronando na minha barriga? Me pedir carinho? Foi aí que me vi triste e de coração partido. Vinha na minha cabeça aquela música do Caetano Veloso: “ Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer” ... Parecia aquelas adolescentes apaixonadas que acabaram de levar um pé na bunda do amado.

Thor, você foi uma visita sensacional. Se for pra Itália tome um gelato e coma uma boa pizza por mim. Meu avô era de lá. Creio que você vai gostar muito daquele país, mesmo porque o Brasil não está num bom momento, convenhamos.
É certo que encontrará várias gatas, só não posso garantir se serão humanas ou felinas. Mas, com certeza, você fará muito sucesso lá. Não tem quem não se encante com a sua beleza e charme.

E assim Deus vai nos surpreendendo com algumas alegrias nessa vida: de repente você volta de viagem e sua primavera está toda florida. Ou você abre a janela do seu quarto, num dia difícil e dá de cara com um arco íris gigante no céu. Recebe um bilhetinho carinhoso do marido ou um lindo gato carinhoso na sua porta. Tenho certeza que outras surpresas dessa aparecerão. Deus é expert nisso, eu sei.
Um ciao e um miau pra você querido Thor. Boa viagem! Um pedacinho do meu coração é todo seu.

P.S. Esse não é o Thor. Como ele não deu autorização para expor sua foto, peguei um parecido. Mas como disse no texto, os olhos não eram azuis como esse aí. Releia a quinta linha do texto.
P.S.2) Meu tio me contou que Thor não é um deus grego e sim nórdico. Mas o ator que representa ele nos filmes é um deus grego (ou seja, lindo, maravilhoso). Mesmo você, que é um macho alfa, tem que admitir que ele é "boa pinta", certo? 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Querida Monalisa


Não sei como você prefere ser chamada: só Mona mesmo, Senhora Lisa, Gioconda, Gi, Madona, entre outros. Já que é a primeira vez que estamos conversando, ainda não adquirimos um certo grau de intimidade. Prazer! Não sei se você tá sabendo, nem o seu criador, o Léo: o seu retrato tá bombando até hoje. Você é famosééééérrima, tem noção?

Quando o Sr. Léo começou a pintar seu retrato , meu país era apenas um bebê de 3 aninhos. Porém, até hoje, muitos se acotovelam e se empurram pra poder tirar uma foto sua, ou uma selfie pra postar no Insta ou Face. Confesso que, quando vi uma foto do seu retrato no museu, fiquei desapontada com o tamanho pequeno do quadro. Imaginava ser um quadrão, sabe? De uns 2 X 2 metros? Pra piorar, você está toda protegida por um vidro blindado e desbotando um pouquinho a cada década também, para a preocupação de muitos restauradores. Um forte esquema de segurança foi montado pra ninguém roubar você de lá. Também confesso que não acho motivo pra você ser tããão famosa assim, pra ser considerada o quadro mais top de todos.
 Você é considerada, hoje, o retrato mais famoso e valioso da história da Arte Ocidental! Caramba, hein? É pra poucos, viu sua sortuda?

 Não sei se já te contaram, mas existem mil especulações do teu sorriso. Nem acho tão enigmático assim. Uns acham até sedutor. (Sério? Aonde, me mostra? Gosto não se discute, tudo bem). Existem inúmeras especulações a respeito dos teus olhos misteriosos, da sua identidade, se você existiu ou não, se foi esposa de Giocondo ou não, entre outros.

 Pesquisando no Google um pouco a seu respeito, achei uma informação que você vai rir. Não esse sorrisinho tímido seu. Até vai mostrar os dentes ou gargalhar, quem sabe. Estava escrito assim: " O quadro foi interpretado pela Universidade de Amsterdã, recorrendo a software apropriado para reconhecimento de emoções. De acordo com esta análise, Mona Lisa estava 83% feliz, 9% angustiada, 6% assustada e 2% chateada.” Desculpe, mas preciso rir disso: kkkkkkkk! Hoje em dia, se  esse software analisar muitas selfies de umas minas no Facebook, irão detectar muitas mocinhas 90% angustiadas mas mostrando aquele baita sorrisão falso. O software iria pifar em 2 minutos. Então Mona, sei que eu não entendo nada de análises de quadro e artes renascentistas, mas vendo sua expressão, acho que você não está muito feliz. Na real, tá? Desculpe pelo excesso de sinceridade, ok? Parece bem tímida, sorrisinho discreto e só, sem muita expressividade, convenhamos. 

Esse mistério que dizem dos seus olhos, que eles te acompanham de todos os ângulos, também não acho grande coisa pois já fiz esse teste com outros olhos de outros quadros e também aconteceu a mesma coisa.

Fico aqui pensando se você realmente existiu, se era uma mulher a frente do seu tempo, se vivia preocupada com os padrões de beleza impostos naquela época. Hoje em dia, o negócio tá feio, sabia? Pra sermos consideradas bonitas, temos que ser magras-esqueléticas-iguais-as-modelos-que-morrem-de-fome-e-só-comem-alface. O duro, cara Mona, é que eu amo comer, amo mesmo, então fica difícil né? Outra coisa: por que você não tem sobrancelhas? A moda era raspar naquela época? Agora, o que está bombando é fazer coloração definitiva mas tem uma mulherada que sai por aí parecendo que pintou as sobrancelhas com carvão. Penso também se você tinha os cabelos lisos, ou eram crespos e fez chapinha pra ficar mais gata no retrato do Léo. Se era crespo, tenho certeza que fizeram bullying com você na escola e te chamaram de Mona Crespa.

Uma coisa que queria te contar, não muito legal, é que um pessoal criou umas tartarugas ninjas verdes horríveis e deu o nome de famosos artistas renascentistas. Um deles é o seu criador, o Léo. Virou desenho animado e filme. Sinto por isso, sério. 

Outra coisa bem chata é que várias pessoas fizeram muitas releituras do seu retrato. Umas ficaram sensacionais, outras nem tanto. Vou te mostrar algumas aqui, mas não sei se vai gostar. Espero que não fique triste. Pense pelo lado bom, você poderá visualizar como ficaria com outros looks e cortes de cabelo. Talvez até prefira assim. É bom dar uma mudada no visu de vez em quando. Um dos que eu mais gostei foi você feita de Lego, ficou uma fofa! E você de Mário Bros, e com a cara do Mussum. Além disso, mostra que você ainda está super atual, é uma figura icônica e até pop, entendeu? Muitos dariam tudo pra ter a sua popularidade, escuta o que estou te dizendo. E ainda morar em Paris?! Gente fina é outra coisa!

Bom, vou ficando por aqui. Desejo que o  software esteja bem enganado e que, na verdade você estivesse 100% feliz naquele momento. Tipo, querendo segurar uma gargalhada de quem tinha acabado de ver Leonardo da Vinci soltar um arroto ou um peido sem querer. Mas, por respeito ao grande artista, deu só um sorrisinho. A gente se fala Mona. Um dia, se eu tiver a chance de conhecer Paris, até dou uma passadinha aí pra te conhecer e a gente tomar um café. Aí, você me conta tudo. Depois mando mais novidades. Beijo. Me liga!