terça-feira, 7 de agosto de 2018

Virando uma pinguim


Meu caçula me disse, um tempo atrás, que o maior sonho dele era ir para o Polo Norte pois queria muito fazer um boneco de neve. A partir de então comecei a pensar numa viagem na qual meus filhos pudessem conhecer a neve, mas num lugar um pouco mais perto. E deu certo. Melhor ainda, com amigos queridos juntos. Acabo de voltar de Bariloche, onde pude desfrutar de algumas primeiras vezes na minha vida. Primeira vez que tomei sorvete de maçã. Que fiz um passeio de 4X4. Que usei raquetes nos pés, que dirigi um quadriciclo, que fiz skibunda na neve.

Percebi, também, como dá trabalho vestir roupas apropriadas para a neve. Para uma bauruense que está acostumada com 30 graus Celsius pra cima, o frio intenso dá um certo medo. Então começa uma megaoperação: são várias e várias peças de roupa: a meia calça, o top, a segunda pele térmica, outra malha, o casaco impermeável, a calça, duas meias, saquinho de plástico pra não entrar neve na bota, cachecol, luvas, gorro. Aí quando você termina tudo, percebe que é melhor fazer xixi no hotel, antes de ficar procurando um banheiro no meio das montanhas brancas de neve. Sim, devia ter feito antes, eu sei. Então, começa a arrumar seus dois filhos. Quando termina tudo percebe que está suando. O hotel tem um sistema de calefação potente. Me arrependi, aliás, de não ter levado algumas peças de roupa de calor.

Foi lá que conheci os remis, que são como táxis, porém você já combina o valor da corrida antes de partir para o passeio. Foi lá que encontrei tantos brasileiros que entendi o porquê de Bariloche ter sido apelidado como Brasiloche, com toda a razão. Foi lá que andei muitas e muitas vezes de teleférico, que vi paisagens incríveis, todas com aquelas montanhas com picos nevados ao fundo e um lago sensacional azulado, que praticamente podemos ver da cidade toda. As crianças não estavam nem aí pra vista. A única coisa que elas queriam era um bom tanto de neve acumulada pra brincar, fazer boneco ou guerrinha de neve. Não interessava se ia ter fondue de chocolate, se iríamos ver uma das vistas mais lindas do mundo, se íamos andar de teleférico, 4X4 ou o escambal. Estavam se lixando pra tudo isso. Mas, na cidade de Bariloche não tinha neve acumulada, somente se subíssemos os morros (cerros, em espanhol).

Foi lá que fiz vários xixis sem lavar as mãos depois. Era impossível. A água da torneira parecia que estava vindo direto de um iceberg. Só quando chegava no hotel conseguia lavar com água compatível com a temperatura de vida habitável no planeta. Descobrimos que uma guerrinha de neve é legal e inofensiva, com exceção de quando te acertam na nuca e a neve vai entrando pelas costas, descendo até a bunda. Aconteceu com minha amiga. Achei que ela estava tendo uma convulsão na hora, mas só estava tentando tirar a neve.

Conheci palavras em espanhol muito simpáticas: como huevos revueltos (ovos mexidos), peluqueria, que pra mim, mais parece uma loja de peruca mas era somente salões de cabeleireiros. Tinha muitos sanatórios pela cidade. Pensei se lá haveria tantos loucos assim, mas depois descobrimos que sanatórios eram clínicas ou hospitais. O que eu mais falava era "Ola, que tal?" e "gracias". Mas meu maridão mandou super bem com as aulas de espanhol que fez um tempo atrás.

Lá enfrentei a maior alternância de frio/ calor na minha vida. Tira o gorro, põe o gorro, tira a luva, põe a luva. Isso 20X por dia. Dentro das lojas, cafeterias, refúgios e hotel era tudo bem quentinho, abria a porta pra ir embora? Um gelo. Foi lá que eu vi que fazer um boneco de neve não é tão fácil assim. Mas eles fizeram. Sonho realizado.
Tirando a parte do avião, que é necessária, foi tudo muito bom e inesquecível. O desafio era não comprar as fotos caras que os fotógrafos tiravam nos parques. Como escolher? Sou louca por fotos! Não entrava na minha cabeça que alguém iria deletar aquilo assim que eu decidisse não comprar. Isso que a gente fica tão encapotado de roupas que mal dava pra reconhecer meus filhos nas fotos. Sério! Só os olhos ficavam descobertos. Poderiam colocar um dublê com óculos, capacete, gorro e um casacão dizendo que era meu filho que eu acreditaria na hora.

Foi lá que fiquei perdida com os pesos e tinha que dividir tudo o que via pra comprar por sete, pra ter noção de quanto custava aquilo em reais. Foi lá que comprei chás diferentes dos daqui: de chocolate, de caramelo, de doce de leite( sim, acredite!) e de rosa mosqueta.

Foi lá que dei um beijo pela primeira vez numa linda cachorra da raça São Bernardo, chamada Alma. E foi lá que vi o céu e as nuvens mais incríveis da minha vida. Uma paisagem mais linda que a outra. 

Meu novo desafio agora é fazer secar as muitas roupas sujas da família toda nesses dias tão chuvosos por aqui. Mas muito feliz e grata a Deus pela experiência. Recomendo. Fabricamos ótimas lembranças na mente dos meus filhotes e muitos sorrisos. Pretendo voltar pra tentar esquiar e conhecer outros lugares que não conseguimos ir por causa das crianças. E que venham mais sonhos pela frente, mais bonecos de neve, chocolate quente e nuvens incríveis.

















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