quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

Enquanto isso, na Vila Olímpica...

 A atleta chinesa, esfomeada, aguardava sua vez na fila do refeitório. Ficou vermelha de tanta raiva, quando viu que a americana, que estava à sua frente, havia pegado o último rolinho primavera disponível. "Droga! Como ela se atreveu?"  Afinal, foi o seu povo que inventou essa iguaria da culinária chinesa. Mas ela não estava a fim de ficar esperando a cozinheira repor os rolinhos. Ela só queria sentar, pois estava com muita dor na perna, em razão dos treinos pesados que havia enfrentado pela manhã. Sem querer querendo, esbarrou na americana, enquanto essa enchia seu copo de refrigerante, deixando-a ensopada de Coca Cola. “Oh, sóri”, tentou pedir desculpa.

O iraniano, sentado na mesa ao lado, revirou os olhos ao ver que o israelense estava tirando a quadragésima selfie em duas horas. Levantou-se da cadeira e pisou sem querer no pé do colega narcisista.

Enquanto isso, o segundo melhor lutador de peso leve das Américas chorava por ver a revolta de seu técnico e pai ao mesmo tempo, que não parava de praguejar contra a arbitragem que roubara na derrota do seu filho. O pai queria apenas conhecer o Cristo Redentor antes de voltar pro seu país, mas nenhuma paisagem da cidade maravilhosa iria aliviar o gosto amargo de ver seu filho perdendo injustamente. “Se as Olimpíadas fossem, ao menos, num país mais decente, você estaria indo embora com uma medalha”- disse para o filho.

O jogador de vôlei sul-coreano não se conformava com a falta de educação do norte-coreano que havia roubado seu lugar na fila do Mc Donald’s, enquanto ele tirava uma foto do mascote Vinícius que estava passando por ali.

No salão de beleza da Vila Olímpica, o egípcio desistiu de esperar pra cortar o cabelo, quando constatou que um israelense estava sentado ao seu lado e eles teriam que ficar se olhando no espelho por vinte minutos.

A equipe de natação brasileira fez uma festinha no quarto com seus novos amigos, mas se recusaram a convidar um argentino, que um dos convidados queria levar. Fizeram até uma plaquinha improvisada na parede: “Proibida a entrada de Argentinos”.

A ginasta americana se enfureceu quando percebeu que sua companheira de quarto estava aos beijos com um judoca norte-coreano. Mas, pelo WhatsApp contou tudo para o seu técnico, que disse que pensaria na punição futura que daria para a infratora.

A trinta metros dali, o corredor cubano passou rindo da cara do seu rival americano, esbanjando sua vitória e os trinta centímetros que tinha chegado adiantado na corrida que o classificou pra final.

Meia hora depois, o judoca saudita pisou três vezes, sem querer, no pé do moço ao lado, que estava com um boné com a bandeira de Israel.

E assim, nesse mesmo dia, o jornal mais lido e respeitado do Brasil, estampava na primeira página a seguinte frase, que alguém importante havia dito: O que mais impressiona são a cordialidade e o espírito olímpico unindo atletas de todos os povos! Lindo de se ver! O esporte une as pessoas e aflora o que eles têm de melhor”.


Se está no jornal, deve ser verdade...

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