A praia não é minha praia
Muitos não sabem, mas tenho um grave defeito e peço desculpas, desde já, se vou decepcioná-lo. Mas o fato é: não gosto de praia, pronto falei. Quando digo isso, reparo que as pessoas me olham esquisito, como se eu fosse um ET. Parece que não tenho esse direito, morando num país tropical, possuidor de belíssimas praias. No fundo eu prometo que sou uma boa pessoa.
Muitos não sabem, mas tenho um grave defeito e peço desculpas, desde já, se vou decepcioná-lo. Mas o fato é: não gosto de praia, pronto falei. Quando digo isso, reparo que as pessoas me olham esquisito, como se eu fosse um ET. Parece que não tenho esse direito, morando num país tropical, possuidor de belíssimas praias. No fundo eu prometo que sou uma boa pessoa.
Se eu tenho algum trauma? Não. Nunca fui queimada por uma água viva (mesmo porque as praias que eu frequento são tão impróprias pra banho que elas não sobrevivem), não pisei com tudo num ouriço do mar, não me afoguei perigosamente numa onda gigante, nunca dei de cara com um tubarão nem fui vítima de um arrastão.
Mas tenho sim vários motivos. Primeiro: sou mijona! E se você faz xixi de hora em hora, quais são suas opções? Ou você cava um buraco na areia e faz ali mesmo, jogando areia em cima, (igual gatinho faz) ou disfarça e vai ao mar mesmo, com aquela cara de quem tá indo se refrescar. Tome cuidado pra não ficar perto de ninguém, pois a água ficará quentinha de repente, você sabe. Duvido que nunca tenha feito isso. E nem pense na quantidade de xixi, micose, bactérias, parasitas e microrganismos estranhos que existem ali naquela água. Senão você nem entra. Tente pensar que é muuuuuita água pra diluir isso tudo.
Nunca existe um banheiro decente perto, já reparou? Fui uma vez num banheiro de um quiosque em João Pessoa, numa praia meio afastada e pouco estruturada, onde a porta do banheiro era uma porta aposentada de geladeira, pendurada por alguns fios de arame nas laterais, sobre um chão lamacento e ao lado havia uns trinta caranguejos vivos, se debatendo dentro de um pneu de caminhão. Na hora pensei: faço ou não faço? Mas era a única opção. E quando é número dois então? Aí você tá perdido, meu camarada. Papel higiênico então? É luxo. Se tiver, agradeça a Deus.
Outra vez, meu filho teve diarreia na praia e é melhor nem
contar o que aconteceu
(É...pensando melhor, esse pode ter sido um trauma.).
Uma dica: se tiver um quiosque decente ali perto, com
banheiro masculino e feminino, tente ficar bem amiguinho do garçom e mostre a
ele que você será fiel e só irá comprar bebida e comida dele. Ter direito a um
banheiro decente na hora que você mais precisa: não tem preço.
Se a única opção for uma ducha, você também pode fingir que
está tirando o excesso de areia enquanto faz xixi. E torça pros outros que
estão esperando não sentirem o cheiro.
Segundo: não curto passar protetor solar. Acho melequento
demais. E nas minhas atuais circunstâncias eu preciso lambuzar os dois filhos,
eu e as costas do meu marido. E depois de umas duas horas torrando no sol, lá
vai eu passar tudo de novo.
Terceiro: meu marido chama Omar e faz 14 anos que convivo e
acordo com vista para O MAR. Pra mim já tá ótimo assim, não preciso ver outro
mar.
Quarto: Não gosto de areia grudada na minha perna. De tes
to! Mas com a perna lambuzada de
protetor é inevitável ficar com um monte de areia grudada em suas batatas.
Parece bife empanado.
Pra piorar: tenho dermatite atópica, uma doença na pele, que
piora bastante em contato com qualquer coisa esfoliante. Exemplo: areia. Aí
começo a me coçar. Pra mim, o ideal seria alguém passar um cimento por cima de
toda aquela areia. Resolveria o meu caso. Só não ia ficar tão bonito.
Quinto: não sou daquelas que gostam de tomar sol e ficar
torrando lá, igual um jacaré. Uns 5 minutos pra pegar uma corzinha e a vitamina
D fazer efeito e já tá ótimo. Podemos ir embora?
Sexto: com duas crianças sob sua responsabilidade, fica bem
difícil se divertir na praia. Você não consegue ler um livro, jogar frescobol,
caminhar e nem fechar os olhos por alguns minutos pra dar um cochilo com a
brisa do mar. Você tem que ficar alerta o tempo todo pra eles não se afogarem,
não se afastarem muito do seu guarda sol, não chutarem a bola na cara da
senhorinha do lado e ainda vai ser obrigado a fazer castelinhos de areia. Enquanto
isso eles vão te pedir sorvete, algodão doce do coitado do homem que está
vestido com a fantasia do Mickey Mouse sob um sol de 43 graus Celsius, pastel,
amendoim, espetinho de camarão, sorvete de novo, milho cozido, refrigerante,
raspadinha e queijo coalho. O milho tá
R$ 6,50? Sim, na alta temporada os preços sobem. O seu dinheiro some, em poucas
horas. Enquanto você come, não ligue pras pombas que ficam tentando pegar as
migalhas do milho que caem na areia. E a medida que a temperatura aumenta o seu
dinheiro diminui.
Você quer comer o milho com a mão, que está melada de suor, protetor
e areia? Pode comer assim mesmo, pois não tem onde lavar a mão. É bom que fica
crocante. Imagine que é milho com farofa.
Se você pode ir tomar um banho de mar com seu marido e as
crianças? Não. Tem que ficar alguém cuidando das coisas no guarda sol.
Carteira, celular etc. A não ser que esteja numa praia de um país seguro e
decente, que não é meu caso.
Quando finalmente consigo entrar no mar parece que algo está
enroscando no meu tornozelo. E aí é só torcer pra ser uma alga ou uma embalagem
de picolé vazia.
Pronto, acho que já te expliquei o porquê de não gostar de
praia. Isso que nem vou falar das tiazinhas sem noção com bundas caídas, feias,
com estrias e celulite e com direito a fio dental, que estragam a paisagem tão
bonita. Não que todo mundo tem que ser bonito, mas sim ter bom senso na hora de
vestir um biquíni. Ou daquelas mulheres perfeitas que passam correndo com
aquela bunda dura como pedra e barriga negativa. Me dá vontade de dar uma surra
nela e comer um brownie depois.
Tudo bem, é bonito aquele horizonte, aquele marzão de Deus,
aquela brisa, mas duas horas olhando a mesma paisagem já está bom. Aí sou
sempre a primeira a fazer essa pergunta: “Vamos embora?” E todo mundo me olha
feio.
Tem aqueles que chegam às 9 da manhã e vão embora às 19. Eu
não aguento. Pra mim não dá. Sou mais urbana, prefiro mil vezes viajar pra um
hotel legal a ir pra praia. Mas não tem jeito. Vou ter que me conformar a ir
muitas e muitas vezes ainda pra praia, pois meus filhos e meu marido amam e o
sacrifício pra ver eles felizes vale a pena.
Praia, você é linda mesmo. Mas fique aí que eu fico aqui, ok? Irei te visitar outras vezes, mas não prometo ficar muito tempo.
Até mais
ver.
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