sexta-feira, 17 de março de 2017

Aprendendo com as crianças

Não que eu esteja reclamando (quando a pessoa diz isso é porque ela vai reclamar. Fica vendo.) da vida adulta atual, eu sei. Não estou passando fome, não preciso acordar às 4:30 da madrugada pra ir trabalhar, não tenho um patrão que me humilha todos os dias e Deus tem dado a minha família tudo o que precisamos. Conseguimos pagar as contas do mês e temos muito conforto e qualidade de vida. Mas mesmo com tudo isso, ser adulto tem as suas chatices, convenhamos ( Não disse que vinha reclamação?).



  Sempre me pego pensando sobre como é bom ser criança. Como era bom não ter que provar nada pra ninguém, sair andando por aí com a boca e a camiseta toda lambuzada de sorvete sem ter vergonha dos outros. 


Eu achava, quando era criança que os adultos eram extremamente confiáveis e responsáveis. Praticamente indestrutíveis. Que eles sabiam de tudo e ao lado deles você estava seguro. Aí quando você cresce e conhece as falhas e as loucuras que se passa na cabeça de um adulto, meu amigo...dá até medo.

Aí descobri que tem adulto pra dedéu  por aí que precisa aprender muito com as crianças. Talvez se elas oferecessem um workshop, curso ou um simpósio pra adultos seria muito  interessante. Até deveria  patentear essa ideia. Nesse curso, elas ensinariam, talvez, como se contentar e ser feliz com apenas uma boneca ou carrinho e a sua imaginação. Elas ensinariam como é bom não ter vergonha de falar e fazer o que quer. Como, por exemplo, roubar um brigadeiro antes do parabéns,  passar a mão no marshmallow do bolo e assoprar a vela antes do aniversariante (baita mancada), sair correndo e dar um pulo tipo “bomba” na piscina de bolinha, abrir o presente que a vó deu e gritar de chorar ao constatar que era um par de meias. Aliás, essas são as duas melhores características das crianças: a sinceridade e a espontaneidade. Que, dependendo da situação fazem os pais morrerem de vergonha. Eu mesma tenho uma coleção de foras que eu dei quando era criança. Graves, por sinal. Mas o bom é isso: eu não tinha a obrigação de saber como se comportar cem por cento, minha personalidade e caráter estavam em construção ,então os foras eram deletados ou minimizados.

 Os pimpolhos ensinariam que guardar rancor e querer se vingar não vale a pena e que é possível brigar e perdoar no mesmo minuto. Afinal, é muito melhor ter alguém pra brincar ao seu lado que ir perdendo os amigos a cada discussão que você “ganha”. Em outro tópico da pauta desse curso, elas ensinariam os adultos a simplificar as coisas da vida e do amor e não se preocupar tanto assim em agradar aos outros. Elas ensinariam como é bom ser você mesma(o) e tentariam te convencer a manter a  inocência e a ingenuidade em relação a muitas coisas cabulosas desse mundo. A não ter um coração petrificado e ser mais sensível. Elas talvez dissessem, também, para os adultos não assistirem tantos noticiários e recomendariam que eles se divertissem um pouco mais.

Elas saberiam te dizer que não é preciso você encher a cara e nem se drogar com o que seja pra ser aceito pelos amigos e ser feliz. Elas também ensinariam os adultos a serem menos preconceituosos com as diferenças e que incluir um pouco de doçura no seu dia a dia é muito importante. Elas iriam dizer que, às vezes, os adultos precisam ser um pouco crianças e que aprender a sorrir mais é um ótimo começo. Elas diriam que a vida continua mesmo que você não consiga resolver os problemas de todo mundo.
Tudo bem, eu sei que ser adulto é maravilhoso em certos aspectos. Muitas e muitas crianças querem crescer rápido pra poder dirigir, trabalhar e outras coisas. Ter liberdade de comprar o que você quer com o seu dinheiro sem ter que ficar pedindo pra alguém, não ter que aguentar mais a matemática e a física, não ter que dar satisfações para os outros o tempo todo, poder chegar em casa a hora que quiser, andar descalço e de cabelo molhado sem ter alguém falando que você vai ficar com gripe. Mas também têm as eternas responsabilidades, problemas, boletos a pagar, notícias horríveis que você não ouvia quando era criança, violência , providenciar o que comer todos os dias de sua vida , sem mamãe colocando a comida quentinha na sua mesa, trânsito, e não ter quem cuide de você  quando fica doente.

 Quando você se torna adulta, tem que ser a mãe que trabalha, mas também continuar linda, dar atenção para os filhos e cuidar da casa. Se tirar um cochilo de tarde é uma folgada. Você tem que arrumar a cadeira que quebrou, ir ao mercado, lapidar o caráter dos filhos, ver o que fazer com o vazamento da piscina, fazer exercícios pra emagrecer, cuidar da pele, do cabelo e das unhas pra não ficar xexelenta. Você tem que ir à reunião da escola, do condomínio, tem que ser mãetorista, tem que cuidar da sua vida espiritual também. E com tudo isso o adulto tem que encarar o mundo,  e se vê cercado pelas suas obrigações do cotidiano e as idiotices do ser humano com suas más decisões e consequências.

Estão entendendo o que estou falando? Ser criança é tudo de bom! Sei que criança também não é santa. Não é um ser angelical. Crianças também mentem, te desafiam o tempo todo, bagunçam tudo, fazem bullying com os colegas e outras maldades.  

Você tem filho(a), sobrinho(a), priminho(a), netinho(a) por perto? Faça um favor: explique pra elas como é bom ser criança e quais são as vantagens dessa fase. Conte como é ser adulto. Mas não conte tudo pra não traumatizar. Fale pra elas que cada fase deve ser aproveitada ao máximo, pois não tem como voltar atrás quando bater uma saudade.  


E um viva para você, que é adulto e que consegue ser um pouco crianças nas horas certas. Que conseguiu aprender as coisas boas que uma criança nos ensina. Pois adultos infantis e birrentos temos de monte.

2 comentários:

  1. Seu Tio Wesley, Lola, sempre fala que eu tenho15 anos, sempre gostei desta fala, hoje mais do que nunca. Por que crescer é bom, mas manter viva as fases melhores da vida é melhor ainda.

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  2. Foi exatamente por isso que Peter Pan fugiu pra terra do nunca depois de ouvir seus pais falando sobre o seu futuro.

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