Não que eu esteja reclamando (quando a pessoa diz isso é
porque ela vai reclamar. Fica vendo.) da vida adulta atual, eu sei. Não estou
passando fome, não preciso acordar
às 4:30 da madrugada pra ir trabalhar, não tenho um patrão que me humilha todos os dias e Deus tem dado a minha família tudo o
que precisamos. Conseguimos pagar as contas do mês e temos muito
conforto e qualidade de vida. Mas mesmo com tudo isso, ser adulto tem as suas
chatices, convenhamos ( Não disse que vinha reclamação?).
Sempre me pego pensando sobre como é bom ser criança. Como era bom não ter que provar nada pra ninguém, sair andando por aí com a boca e a camiseta toda lambuzada de sorvete sem ter vergonha dos outros.
Eu achava, quando era criança que os adultos eram
extremamente confiáveis e responsáveis. Praticamente indestrutíveis. Que eles
sabiam de tudo e ao lado deles você estava seguro. Aí quando você cresce e conhece
as falhas e as loucuras que se passa na cabeça de um adulto, meu amigo...dá até
medo.
Aí descobri que tem adulto pra dedéu por aí que precisa aprender muito com as
crianças. Talvez se elas oferecessem um workshop, curso ou um simpósio pra
adultos seria muito interessante. Até
deveria patentear essa ideia. Nesse
curso, elas ensinariam, talvez, como se contentar e ser feliz com apenas uma
boneca ou carrinho e a sua imaginação. Elas ensinariam como é bom não ter vergonha
de falar e fazer o que quer. Como, por exemplo, roubar um brigadeiro antes do
parabéns, passar a mão no marshmallow do
bolo e assoprar a vela antes do aniversariante (baita mancada), sair correndo e
dar um pulo tipo “bomba” na piscina de bolinha, abrir o presente que a vó deu e
gritar de chorar ao constatar que era um par de meias. Aliás, essas são as duas
melhores características das crianças: a sinceridade e a espontaneidade. Que,
dependendo da situação fazem os pais morrerem de vergonha. Eu mesma tenho uma
coleção de foras que eu dei quando era criança. Graves, por sinal. Mas o bom é
isso: eu não tinha a obrigação de saber como se comportar cem por cento, minha
personalidade e caráter estavam em construção ,então os foras eram deletados ou
minimizados.
Os pimpolhos ensinariam
que guardar rancor e querer se vingar não vale a pena e que é possível brigar e
perdoar no mesmo minuto. Afinal, é muito melhor ter alguém pra brincar ao seu
lado que ir perdendo os amigos a cada discussão que você “ganha”. Em outro
tópico da pauta desse curso, elas ensinariam os adultos a simplificar as coisas
da vida e do amor e não se preocupar tanto assim em agradar aos outros. Elas
ensinariam como é bom ser você mesma(o) e tentariam te convencer a manter a inocência e a ingenuidade em relação a muitas
coisas cabulosas desse mundo. A não ter um coração petrificado e ser mais
sensível. Elas talvez dissessem, também, para os adultos não assistirem tantos
noticiários e recomendariam que eles se divertissem um pouco mais.
Elas saberiam te dizer que não é preciso você encher a cara
e nem se drogar com o que seja pra ser aceito pelos amigos e ser feliz. Elas
também ensinariam os adultos a serem menos preconceituosos com as diferenças e
que incluir um pouco de doçura no seu dia a dia é muito importante. Elas iriam
dizer que, às vezes, os adultos precisam ser um pouco crianças e que aprender a
sorrir mais é um ótimo começo. Elas diriam que a vida continua mesmo que você
não consiga resolver os problemas de todo mundo.
Tudo bem, eu sei que ser adulto é maravilhoso em certos
aspectos. Muitas e muitas crianças querem crescer rápido pra poder dirigir,
trabalhar e outras coisas. Ter liberdade de comprar o que você quer com o seu
dinheiro sem ter que ficar pedindo pra alguém, não ter que aguentar mais a
matemática e a física, não ter que dar satisfações para os outros o tempo todo,
poder chegar em casa a hora que quiser, andar descalço e de cabelo molhado sem
ter alguém falando que você vai ficar com gripe. Mas também têm as eternas
responsabilidades, problemas, boletos a pagar, notícias horríveis que você não
ouvia quando era criança, violência , providenciar o que comer todos os dias de
sua vida , sem mamãe colocando a comida quentinha na sua mesa, trânsito, e não
ter quem cuide de você quando fica
doente.
Quando você se torna
adulta, tem que ser a mãe que trabalha, mas também continuar linda, dar atenção
para os filhos e cuidar da casa. Se tirar um cochilo de tarde é uma folgada. Você
tem que arrumar a cadeira que quebrou, ir ao mercado, lapidar o caráter dos
filhos, ver o que fazer com o vazamento da piscina, fazer exercícios pra
emagrecer, cuidar da pele, do cabelo e das unhas pra não ficar xexelenta. Você
tem que ir à reunião da escola, do condomínio, tem que ser mãetorista, tem que
cuidar da sua vida espiritual também. E com tudo isso o adulto tem que encarar
o mundo, e se vê cercado pelas suas
obrigações do cotidiano e as idiotices do ser humano com suas más decisões e
consequências.
Estão entendendo o que estou falando? Ser criança é tudo de
bom! Sei que criança também não é santa. Não é um ser angelical. Crianças
também mentem, te desafiam o tempo todo, bagunçam tudo, fazem bullying com os
colegas e outras maldades.
Você tem filho(a), sobrinho(a), priminho(a), netinho(a) por
perto? Faça um favor: explique pra elas como é bom ser criança e quais são as
vantagens dessa fase. Conte como é ser adulto. Mas não conte tudo pra não traumatizar.
Fale pra elas que cada fase deve ser aproveitada ao máximo, pois não tem como
voltar atrás quando bater uma saudade.
E um viva para você, que é adulto e que consegue ser um pouco
crianças nas horas certas. Que conseguiu aprender as coisas boas que uma
criança nos ensina. Pois adultos infantis e birrentos temos de monte.
Seu Tio Wesley, Lola, sempre fala que eu tenho15 anos, sempre gostei desta fala, hoje mais do que nunca. Por que crescer é bom, mas manter viva as fases melhores da vida é melhor ainda.
ResponderExcluirFoi exatamente por isso que Peter Pan fugiu pra terra do nunca depois de ouvir seus pais falando sobre o seu futuro.
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