Ela morava numa fazenda, em Marília, com mais nove irmãos. Seu
pai, o caseiro da fazenda, era muito rígido e batia constantemente nos filhos e
na esposa.
Ela lembra que sua mãe ganhava nenê embaixo do pé de café e,
no dia seguinte, estava trabalhando, com o recém nascido dentro de uma cesta.
Com cinco anos, ela já trabalhava com seus irmãos na roça, limpando os troncos
dos pés de café.
Com sete anos, sua família veio morar numa casa de barro em
Bauru. Um dia, uma senhora passou na rua da casa dela, recrutando meninas pra
morar e trabalhar em sua casa, em troca de comida. Lá foi ela, onde aprendeu,
junto com outras meninas, diversas tarefas domésticas. Ela lembra que colocavam
um banquinho pra ela alcançar a pia e conseguir lavar louça, com oito anos. Com
catorze anos, já havia voltado pra casa dos pais, começou a namorar e levou uma
surra do pai. Nesse mesmo ano casou-se, numa tentativa de não apanhar mais do
pai. Com dezesseis, teve seu primeiro filho. Tinha muitos problemas com
anticoncepcionais, passava muito mal. Assim, acabou tendo doze filhos, mas seis
morreram. Batalhou muito pra sustentar os filhos, trabalhando como empregada
doméstica.
Um dos filhos foi preso, usuário de droga, levou seis tiros e ficou
paraplégico. A caçula conseguiu fazer faculdade de direito, um orgulho pra toda
família. Durante toda a vida conjugal teve vários problemas com o marido, que a
traiu várias vezes, inclusive com a melhor amiga dela, na noite de véspera de
natal, enquanto ela trabalhava. Aos 35 ela se converteu ao evangelho de Jesus.
Trabalhou muitos anos na casa de uma mesma família, que gostava muito dela.
Hoje, ela tem 69 anos, muitos netos e bisnetos. Mora numa
casa própria, com a filha e dois netos. Não para nunca. Está sempre bem
disposta, animada, fazendo algum curso: panificação, cabeleireiro, artesanato,
costura... Faz Pilates, estuda e, às vezes, dá aula de culinária pra moças da
favela. Todos os anos ela recruta uma equipe pra organizar uma festa pra mais
ou menos 500 crianças de bairros carentes de Bauru. Providencia transporte,
alimentação, fazem brincadeiras, pintam os rostinhos das crianças. Tudo isso
com o dinheiro que ela pede pras pessoas com quem convive.
Aos sábados ela cuida de dois meninos e passa roupa. Os
meninos amam quando ela chega, sempre animada, com um sorrisão no rosto. Ela
ouve com atenção o que eles dizem e vibra com suas conquistas. Se sobrar um
tempinho, senta junto com eles no sofá e joga vídeo game.
Esses meninos que ela cuida são meus filhos, que hoje não
dão mais trabalho. Já cresceram. Ela os viu nascerem e sempre esteve ao meu
lado me ajudando. Com a casa e os meninos. Trabalha conosco há 26 anos e tenho
o privilégio de conviver com uma guerreira dessa. Ela é um exemplo de amor, de
superação, de força, de quem sempre serviu os outros com alegria. Uma mulher
que, apesar de tanto problema e sofrimento, não se tornou uma pessoa triste e amarga.
Pelo contrário! Por isso estou aqui, nesse dia das mulheres, fazendo essa
homenagem. São palavras regadas com muitas lembranças, carinho e gratidão. Têm
muitas histórias aí, mas ficaria enorme esse texto.
Obrigada por tudo
Conceição, te amamos! Feliz dia das mulheres! Que Deus abençoe e fortaleça
tantas “Conceições” que existem por aí.
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