Se você calcula que vai viver uns 80 anos, chegando perto
dos 40 estamos no fim do primeiro tempo, correto? É a minha situação
no momento atual. Porque 37 é praticamente 40. Ta aí já. Até, inclusive, tenho
reparado em vários sinais de velhice que estão aparecendo aqui e ali.
Por exemplo, quando percebo que a primeira coisa que eu
quero fazer quando chego num lugar é sentar. Uma passeadinha no shopping, em pé
por uma hora, já começa a cansar e a gente dá a desculpa de sentar pra tomar um
café ou suco. Sede que nada! São seus quadris já implorando por uma cadeira, a sapatilha já
está incomodando, os pés doendo, entendeu?
Reparei também, que de um dia para o outro comecei a me interessar
por plantas. Acho preocupante, sabe por quê? Velhas amam plantas. Morro de medo
de sair roubando mudas da casa dos outros* e ver, de repente, que tenho
125 vasos na minha casa, como minha mãe. Pode ver que jovens não estão nem aí
pras plantas. Malemá eles sabem
reconhecer o que é uma violeta, uma orquídea, uma margarida ou uma rosa. Mas eu
comecei fazendo um terrário aqui, outro ali. Num dia estava no Ceasa comprando
plantas, perguntando “Qual o nome daquela ali? Ela gosta mais de sol ou de
sombras.” E, de repente, você se vê apaixonada por suculentas, conhece várias
plantas pelo nome como ecsórias, calandivas, Kalanchoes, jiboia, columeia,
peixinho, pata de elefante, cyca, alpínias, bromélias etc.
Outro fato: estava eu fazendo academia e começou a tocar uma
seleção de músicas retrô dos anos 80 e 90. Eu amei! Eram todas da minha época. Ficava cantando junto,
baixinho. E sabe por que eu estava na academia? Pra fortalecer meu joelho, que
sofreu uma lesão de um dos ligamentos. Viu? Envelhecimento. As coisas ( e os
joelhos) não duram pra sempre. Até que gostei dessa academia. Só vai um pessoal
mais velho, tudo lesionado, papo cabeça, sem nenhum bombadão querendo mostrar
os bíceps. Sem desfile de piriguetes.
Pode reparar: quem passa dos trinta começa a se preocupar
com colesterol, a fazer mamografia e dar uma passadinha na farmácia 3x por
semana. A nécessaire das viagens
começa a ter cada vez mais remédios, antiácidos, inclusive o sublingual pra
dormir que você teve que começar a usar, pois os olhos resolvem não fechar e
você não consegue mais nanar como antigamente. Levantou pra fazer xixi às 3 da
madruga? O cérebro começa a dançar Macarena do nada e pensar em mil coisas
irrelevantes e ridículas.
Com a nova fase enta chegando perto, você começa a pensar
20X antes de chamar casais com crianças pequenas pra vir jantar na sua casa. Me
deixe explicar antes que você pense que sou uma bruxa: meu caçula já é
barulhento. Juntando com outras crianças, imagine o que vira o jantar? Ninguém
consegue conversar uma frase sequer. E convenhamos: filhos são como peido. Você
é obrigado a aguentar os seus. O dos outros não. Amo essa frase. Palmas para
quem a inventou.
Uma coisa boa que acontece (Ufa, existem coisas boas também!
Glória Senhor!) é que você passa a identificar quais programas são de índio ou
barca furada. É uma belezinha.**
Você começa a ficar com preguiça de discutir com gente chata
e vê que a vida é bem melhor assim.
E tem mais: Você começa a amar o silêncio, a escolher
restaurantes que são mais tranquilos, sem muita poluição sonora, sem badalação.
Festas infantis te dão arrepios. O programa que você mais gosta de fazer, é
sentar com os amigos, comer e conversar por horas, dando risada, claro. Agora
deem uma olhada nisso: esses dias convidei duas amigas pra virem em casa numa
noite fria pra jantarmos e batermos papo. Sabe o que comemos? Sopa de abóbora***!
E elas amaram! (ou fingiram muito bem). Sabe quantos jovens se reúnem em casa
pra comer sopa de abóbora? Nenhum! Eles fazem hambúrguer, miojo, brigadeiro,
pedem pizza, qualquer coisa.
Seu coração, agora, palpita de alegria quando vê uma pia sem
louça nenhuma e você começa a pegar um monte de receitas, dá print, copia,
salva no celular. Mas faz alguma? Nananinanão. Começa a fazer previdência, a
pensar em seguro de vida. Percebe que prefere morrer a ir numa montanha russa.
Não curte mais música eletrônica e passa a ouvir opções mais tranquilas,
acústicos etc. Você percebe que o último pulo tipo “bomba” que você deu numa
piscina faz mais de trinta anos.
Outra coisa; cheguei numa idade que não estou mais nem aí se
minha calcinha é bonita. Uso, atualmente a mais brochante do universo. Depois
de passar mais de três décadas me incomodando com os modelos de calcinha que só
foram feitos pra entrar no bumbum (tenho pavor), encontrei uma opção que é o
paraíso. Não marca também. Um conforto só. Isso é qualidade de vida! Hoje sou muito
mais feliz!
Do nada, o filho que você pariu esses dias atrás está
calçando 42 e pensando em namorar. E ainda ri da sua cara quando você diz “recreio”
pois hoje em dia não se fala mais assim. É intervalo.
O tempo passa a correr na velocidade da luz e você nem sabe
mais quantos anos está fazendo no seu aniversário. O corretivo de olheiras
começa a acabar mais rápido, pois cada vez, passo mais pra sair um pouco
apresentável e não assustar as pessoas na rua.
Assistindo um dos jogos do Brasil na Copa, falei algo sobre
o jogador Bebeto pra uma sobrinha que estava ao meu lado. Ela é advogada já,
uma adulta. Está pra casar. Sabe o que ela disse: “Bebeto? Não sei quem é.”
Então eu me toquei que ela era uma bebê enquanto eu torcia fervorosamente pelo
Bebeto, na Copa de 1994. Aliás, você começa a perceber que está ficando velha
pelo tanto de Copas do mundo que já viveu.
Amadurecer, porém, tem muitas vantagens. E não posso
reclamar: ainda não tenho reumatismo (devo ter, mas não sinto os sintomas, pelo
menos) e não consigo sentir se o chão está gelado quando tiro o sutiã. Também tenho raríssimos cabelos brancos. Mas vou
me preocupar mesmo quando estiver acordando bem cedo pra varrer a calçada, de
meias e sandálias.
Esses dias li uma frase no Facebook que dizia: “Pior que
envelhecer é não se tornar alguém melhor”. Então, vamos lá. A tarefa é árdua. Bora
envelhecer minha gente! É isso ou isso, se você não quer morrer jovem.
* Toda velha faz isso. Se você nunca viu, cuidado! Pode ser
sua mãe ou sua vó.
**Quem fala "belezinha" já tá ficando velha(o). Pode ter certeza. Jovens não falam essa palavra.
***Tudo bem que não era uma simples sopa de abóbora. E de fitness ela não tinha nada pois coloquei várias coisas gordas nela como calabresa, bacon, gorgonzola, creme de leite. Se quiser te passo a receita. Ops, passar receita é sinal de velhice.
Amei....muito bom....
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