sábado, 15 de julho de 2017

Na minha época


"Não existiam buffets infantis quando você era criança? Como assim? As festas eram onde, então?", perguntou meu filho, no banco de trás do carro.

Pois é Marcos, não existiam.  As festinhas de aniversário eram feitas nas casas dos aniversariantes mesmo. Geralmente, a gente desmontava a sala para ficar mais espaçosa. Os convidados ficavam por ali mesmo, na garagem, na sala ou no quintal. Os presentes ficavam sempre em cima da cama, e muitos queriam ir lá para ver o que a gente tinha ganhado. A vó que fazia o bolo, a mãe enrolava os brigadeiros, a gente enchia bexigas, separava as forminhas de brigadeiro, fazia sacolinhas surpresa e todo mundo ajudava. Então colocávamos um disco de vinil na vitrola ou fita cassete para ouvir e dançar. Depois te mostro no Google o que é disco de vinil e fita cassete.-respondi.

Ah, na minha infância também não tinha Google. A gente procurava o significado das coisas nas enciclopédias BARSA. O computador era uma novidade que poucos tinham. A gente fazia até curso de datilografia ainda quando o computador nos foi apresentado. Não fui com a cara daquele trambolho enorme. Só comecei a me simpatizar com ele quando descobri que dava para brincar de pintar no tal do Paint.

Quando a gente chegava na casa de alguém, a gente pedia um copo d’água e não o Wifi.

As televisões eram cubos enormes, bem pesadas e tinham antenas também. Não existia nenhum tipo de iluminação LED. As casas tinham bidês nos banheiros e poucas tinham closet. A gente tinha telefone fixo com fio, sem botões digitais. Não podia ficar falando muito tempo com alguém que já levávamos uma bronca pois iria custar caro. Quando eles começaram a aparecer sem fio, o chique era ter secretária eletrônica para ouvir os recados. A gente recebia telegrama. Usávamos o orelhão para ligarmos para alguém, se estivéssemos na rua. Não existia celular ou smartphones. As máquinas de foto eram bem diferentes e você não conseguia ver as fotos antes de revelar. Várias fotos saíam feias, mas não tinha o que fazer. Se você quisesse fazer cópias de alguma foto era necessário levar o negativo. Depois te mostro o que é isso, ainda tenho uns guardados.

 Quando eu era adolescente a gente ouvia músicas com aparelhos chamados walkman ou discman, dependendo se era fita ou CD.

Os DVDs também não existiam. Era filme VHS e a gente alugava em locadoras. Tínhamos que rebobinar o filme antes de devolver. Não, não existia Netflix, nem Net, nem Sky. Era antena parabólica.

Não existia leite de caixinha longa vida. Minha mãe comprava na padaria, vinha em saquinhos. Não existia Nutella, lenços umedecidos nem Vanish. Não existia rolinho tira- pelo. A gente não abria a porta dos quartos de hotel com cartão magnético. Era na chave mesmo. Não se ouvia falar de dietas low carb ou crossfit. A gente não dizia que “malhava” na academia, a gente ia na ginástica. Pilates só fui conhecer quando já era adolescente. Não ouvíamos falar de déficit de atenção ou hiperatividade. A gente achava que uns eram mais lerdos, viviam no mundo da lua e outros, ligados no duzentos e vinte.

Minhas brincadeiras favoritas eram esconde-esconde, gato mia, pega-pega, mãe da rua, Rio vermelho, queimada, jogos de tabuleiro e Stop. Também gostava de jogar baralho com a minha família (Buraco, Mau-mau). Depois surgiram os vídeo games com cartucho e eu passei a jogar bastante. Primeiro foi o Atari. Mas me encantei mesmo quando ganhamos o Super Nintendo. Me apaixonei pelo Mario Bros.

A gente ouvia muito falar do vírus da AIDS, nunca do vírus do computador. Não existia pen drive. A gente armazenava arquivos em disquetes. Depois te mostro como era. No Google deve ter.

Existia um relógio de pulso que vinha com uma calculadora junto. Era cheio de botõezinhos, de preço salgado. Nos caixas de mercado também não existia esse leitor de código de barra. As sacolinhas, em alguns supermercados eram de papel pardo. Os carros não tinham GPS, detector de ré ou air bag. Pra andarmos de ônibus circular tínhamos que comprar passes, que eram parecidos com moedas.




E o cinema? As cadeiras eram bem mais simples, sem filmes em 3D, nem som de última geração. Se o filme era muito comprido, tinha intervalo de uns dez minutos no meio.

Até as raças de cachorros mais comuns, na minha infância, foram extintas. Eram muito comuns: poodle, pequinês, doberman, husky siberiano. Hoje é difícil encontrar algum. 

Não existia escova progressiva, sobrancelha definitiva, botox e depilação a laser.




Não, não disse tudo isso para o meu filho. Parei na fita cassete. Imagina se eu tivesse que explicar tudo isso? Mas, mesmo assim, ele ficou me olhando como se eu fosse uma coitada, pensando em como deveriam ser frustrantes aquelas festinhas dentro de casa. Não Marcos, éramos muito felizes. A gente também curtia as festinhas e, como ninguém ficava com a cara enfiada num celular, a gente conversava uns com os outros. Me sinto pré-histórica quando vejo essa tonelada de mudanças que ocorreram em apenas três décadas. Na verdade, tudo isso aconteceu em duas décadas. Pois quando meu filho de dez anos nasceu, isso tudo já existia.
Fico imaginando qual vai ser a rede social que estará bombando daqui a trinta anos.






Ou serão extintas assim como foi o finado Orkut? Quais as gírias que vão falar, a evolução da moda, da tecnologia em geral, da música? Onde tudo isso vai parar? Sabe aqueles filmes do futuro que aparecem carros voando? Não duvido nada que já já eles estejam por aí. Fiquei sabendo que já existe um aparelho a laser para tratar a cárie, sem barulhinho e sem dor, porém ainda é muito caro. Mas sei que, quando nascerem meus netos, talvez todo dentista já terá um. Tomara! Aí nós vamos contar como era horrível fazer uma obturação na nossa época.

Lembro até hoje quando vi uma foto antiga do meu pai. Na foto ele deveria ter uns vinte anos e estava vestindo uma calça boca de sino lastimável. Todo mundo usava, ele não tinha culpa. Dei muita risada. Mas sei que meus filhos também vão rir muito de tudo isso.


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